Ataques nas escolas: como falar sobre o assunto com as crianças?

Para especialistas, as famílias devem responder às demandas conforme as crianças levantam dúvidas e dão abertura para essa conversa, numa linguagem que seja adequada à idade

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Mãe conversa com filha no sofá
Para especialistas, é importante que pais reconheçam e validem sentimentos dos filhos
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Notícias sobre o ataque a uma creche de Blumenau (SC), que deixou quatro crianças mortas e outras quatro feridas, estão por toda parte, e é bem provável que as crianças tomem conhecimento do assunto. Algumas podem até perguntar aos pais mais detalhes dessa tragédia, que entra para uma estatística lamentável: nas últimas duas décadas, foram 24 ataques em instituições de ensino no país. O penúltimo deles ocorreu na semana passada, em São Paulo, na Escola Estadual Thomazia Montoro. Em paralelo ao debate sobre quais as medidas preventivas mais indicadas para evitar novos eventos desse tipo, surgem dúvidas entre mães, pais e cuidadores quanto a como abordar esse tema com as crianças, e se é o momento para se fazer isso. 

Para a pedagoga Elvira Pimentel,  doutoranda em educação pela Unicamp e pesquisadora do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral), o tema deve ser abordado à medida que as crianças trouxerem alguma dúvida. Se o filho viu o assunto em algum lugar, se os colegas falaram, é importante que a família acolha e possa conversar, sempre respeitando a idade da criança, sem trazer detalhes demais que podem aterrorizá-la. “O que ela sabe? O que ela pergunta? Às vezes, ela está com medo, assustada, triste ou não entendeu a notícia. Esse é um assunto que pode ser falado a partir da demanda que a criança traz”, explica Elvira, em entrevista para o podcast O assunto, com a jornalista Julia Dualibi.

Ingryd Abrão, psicóloga clínica especialista em emergências e crises, diz que a orientação deve vir espontaneamente, conforme as crianças vão dando abertura para essa conversa, manifestando curiosidade, e o adulto observe que estão preparadas para absorver.

E se a criança demonstrar medo de ir à escola, os pais devem reconhecer e validar o sentimento, dizendo algo como: “Nossa, filho, estou vendo que você está com medo, eu também fiquei muito assustada e triste com tudo o que aconteceu”, relata Elvira. Sabendo que não há sentimento bom ou ruim, não tem isso da criança não poder sentir medo ou raiva, diz ela. “Abre a conversa, valida o sentimento, porque se a gente nega o sentimento, a gente está dizendo que a criança não deve sentir o que está sentindo”, diz a pedagoga. Além disso, é interessante investigar o porquê de não querer ir para a escola, trazendo o assunto do medo com a literatura, por exemplo, por meio de livros infantis que abordem esse sentimento, para que a criança possa falar mais sobre isso.

É válido também reforçar aspectos da rotina que passem segurança à criança, por exemplo, a organização do horário, quando chega na escola e a professora vai receber os alunos. “Você consegue se conectar com o sentimento da criança numa medida que não vai trazer insegurança para ela”, diz Elvira. 

No caso de adolescentes e pré-adolescentes, se eles trazem essa demanda ou a família sente necessidade de falar sobre isso, é interessante que o faça e mostre como está se sentindo, revelando assim a sua vulnerabilidade, assumindo que a tragédia também atinge e toca os adultos, comenta a pedagoga. Vale ainda ampliar a temática e orientar sobre pontos de atenção desse problema, relacionados às comunidades, subcultura extremistas e veiculação de discursos de ódio nas redes sociais, exemplifica.

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E quando os pais estão com medo?

Para Ingryd, o adulto deve lidar com suas próprias questões e inseguranças, para não transmitir isso aos filhos e conseguir passar para eles segurança emocional e física. “É necessário também que a criança encontre no adulto, uma referência de cuidado e possa expressar suas emoções e fazer perguntas que sejam acolhidas.” 

Elvira recorda que o medo vem muito também da circulação de informações falsas nos grupos de WhatsApp e na mídia. “É importante verificar a veracidade das informações. Além disso, pensar em quem pode apoiar para conversar sobre isso, na escola, entre amigos ou um profissional  especializado”, relata a pedagoga.

Atenção aos sinais

A psicóloga orienta a ficar atento a todas as manifestações comportamentais e emocionais das crianças, e ter sensibilidade para orientar quanto a como agir de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontram. Por exemplo, para os pequenos, apontar quem são os adultos do local que eles podem buscar caso fiquem assustados com algo ou vejam amiguinhos machucados. “Essa comunicação simples pode ser feita com crianças de qualquer idade, estando de acordo com seu nível de maturação e compreensão”, diz Ingryd.

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Verônica Fraidenraich
Editora da Canguru News, cobre educação há mais de dez anos e tem interesse especial pelas áreas de educação infantil e desenvolvimento na primeira infância. É mãe do Martim, 9 anos, sua paixão e fonte diária de inspiração e aprendizados.

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