Ataques em escolas: diálogo e validação das emoções são o caminho para evitar novas tragédias

Adolescentes consomem cada vez mais discursos extremistas, misóginos e racistas nas redes sociais; "Se não mudarmos o rumo bem rápido, vamos acabar naturalizando até esse tipo de crime", diz a escritora Bebel Soares

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Fachada da EE Thomázia Montoro, em São Paulo
Fachada da EE Thomázia Montoro, em São Paulo | Foto: Agência Brasil
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Tudo o que acontece dentro das escolas é resultado do que acontece do lado de fora. Famílias psiquicamente desestruturadas onde filhos aprendem a lógica da mentira com os pais. Acesso à deep web. Tudo isso vem causando um adoecimento psíquico nos adolescentes e, esse adoecimento, somado à falta de diálogo e de tratamento, vêm resultando em adolescentes se transformando em assassinos.

Desde o fim de fevereiro, as escolas da rede estadual de São Paulo estavam sem psicólogos, pois o programa havia sido suspenso. Decisão política que influencia na vida de tantos professores e alunos. Um aluno, um garoto de 13 anos, matou uma professora e feriu outras pessoas usando uma faca. Na semana anterior, a polícia havia apreendido um menor de 17 anos que planejava um ataque a uma escola no Rio de Janeiro.

Novos ataques em escolas estão sendo planejados e divulgados por extremistas e deixando os pais em pânico. Crianças e adolescentes precisam se sentir seguros com os pais e também na escola e é importante cuidar para não deixar nossos filhos apavorados. Eles não têm maturidade para lidar com esse medo. Esse medo gera traumas. Não sabemos quais podem ser as consequências, mas é, muitas vezes, a sensação de desamparo, que leva jovens a se radicalizar e entrar nesses grupos neonazistas. 

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No primeiro semestre de 2022, quatro mulheres foram assassinadas por dia. Pode não parecer que exista uma relação entre esses dados e os atentados em escolas, mas existe. Esses adolescentes são profundamente influenciados por grupos de extrema direita, por grupos neonazistas. Grupos que odeiam mulheres como o Incel e o Redpill. A misoginia e o racismo fazem parte do repertório desses jovens.

Os Incels são os celibatários involuntários, homens que culpam as mulheres por não conseguirem ter um relacionamento com elas. Incapazes de aceitar a própria incompetência para atrair o interesse feminino.

RedPills são os machistas inseguros que têm medo de se relacionar e que acham que as mulheres ocupam um lugar de privilégio. Ou seja, criaram um universo paralelo e foram morar lá.

Tem também os MGTOW, os Alfa e outras nomenclaturas, no final, são todos mal resolvidos, misóginos e acovardados. Têm medo de mulher. Se esforçam para fingir que se sentem atraídos sexualmente por mulheres, provavelmente para tentar esconder de si mesmos sua real sexualidade. Produzem muito discurso de ódio e ganham dinheiro publicando esse conteúdo asqueroso nas mídias sociais. Infelizmente, cada vez mais, os adolescentes estão consumindo esse tipo de conteúdo.

Soma-se todo o discurso de ódio a cérebros imaturos e à falta de regulação emocional e temos uma bomba pronta para explodir. E quando ela explode, ela faz vítimas. O ódio que está em casa, nas ruas, na internet, vai para a escola e as consequências são catastróficas.

Culturalmente, os homens não têm suas emoções validadas. Emoções são vistas como fraqueza, como algo do feminino. Para os homens só a raiva é validada, a raiva explode, é incontrolável quando a pessoa não sabe se autorregular. E um adolescente de 13 anos não sabe se autorregular, ele precisa do adulto para tal. O adulto, pais, mães, professores, a sociedade. Não tem como haver autorregulação em uma sociedade mentalmente adoecida como a nossa. Numa sociedade que não entende e não aceita que saúde mental é mais importante que a saúde física, porque a mente adoece o corpo.

Enquanto invalidarmos sentimentos, enquanto não tivermos empatia, enquanto fizermos apologia a armas e não tivermos diálogo, veremos cenas como essas de ataques em escolas, de ataques a mulheres, acontecendo. E se não mudarmos o rumo rápido, vamos acabar naturalizando até esse tipo de crime. Só com diálogo, com autorregulação e com alguém adulto para mediar os conflitos poderemos ter alguma esperança de termos jovens mentalmente saudáveis.

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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