Abraço, toque, sorriso, mãos dadas… Que vontade de voltar à vida ‘normal’

A proximidade do final de 2020, após quase um ano nesta vida interrompida, resta-nos o desejo quase infantil de que o Réveillon nos traga uma nova vida que é, afinal de contas, a mesma de antes

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Abraço, toque, sorriso e mãos dadas: que vontade de voltar à vida 'normal'; imagem mostra 5 crianças de diferentes características sentadas cada uma com os braços sobre os ombros do colega ao lado
A capacidade que os miúdos têm em se adaptar é enorme
Buscador de educadores parentais
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Novembro marca 60 dias após o regresso às aulas das crianças, aqui em Portugal. O confinamento teve início em 13 de Março. Meses depois desta retenção, a abertura da escola e do ano escolar significavam o regresso à vida “normal”, ainda que com cuidados. 

Era urgente voltar à rotina e até o estresse do trânsito parecia trazer algum tipo de alegria. Preparar a roupa de véspera e calçar o sapato em vez do chinelo chegou a ser quase o cúmulo da sofisticação. 

Dois meses depois, a normalidade passou a incluir emails das escolas com o ponto de situação referente à covid. Nessa listagem temos de “levar os miúdos a fazerem teste covid” e saber que, mais cedo ou mais tarde, “vamos voltar a casa por um período de uns 15 dias”. Ou seja, a vida fica em suspenso, sem que grandes programações possam ser feitas, sem nos podermos entusiasmar com o que vamos fazer daqui a 15 dias. Marcamos a nossa vida na agenda, sempre com a certeza de que nada é definitivo. Na verdade, nunca foi, mas não tínhamos esta lembrança, constante e frequente de que a vida pode ser interrompida a qualquer momento.

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Felizmente, e na medida do possível, resistimos. Procuramos proteger-nos, garantindo que as crianças se divirtam e se relacionem em “bolhas”, mas não lhes retiramos o essencial: o brincar, o correr e o olho no olho. Os mais pequenos podem ver os sorrisos uns dos outros e vão desenvolvendo a escuta. O professor é portador de máscara e os alunos até aos 10 anos vão percebendo se o mesmo está a falar a sério ou a brincar. Resta-nos a expressão do olhar que não é tudo, afinal. Faltam as expressões e as pequenas contrações da boca que nos mostram impaciência ou delicadeza. Falta o abraço que acolhe e protege. 

A capacidade que os miúdos têm em se adaptar é enorme. A vontade que os adultos à sua volta têm em tornar a vida o mais normal é de uma grande generosidade e resiliência. Mas a verdade é que não vivemos tempos normais e por isso precisamos resistir, nos adaptar para sobreviver. Que é disso que se trata.

Ao conversar com pais e professores verificamos o de sempre: os miúdos mais tranquilos, mas também os mais ansiosos, os que mais cooperam e os que mais resistem espelham os sentimentos que os adultos que estão à sua volta têm: de tranquilidade ou ansiedade, de resistência ou cooperação. Com covid ou sem, a verdade é que somos, eternamente, o reflexo do que pensamos e das pessoas com quem nos relacionamos.

A 60 dias do final do ano e há quase um ano neste vida interrompida, resta-nos o desejo quase infantil de que o Réveillon nos traga uma nova vida que é, afinal de contas, a mesma que tínhamos anteriormente: com abraços, com toque, com sorrisos e línguas de fora. Tirar a máscara e passar um batom, guardar o álcool gel e entrelaçar os dedos nas mãos do outro, agarrando-o como se não houvesse amanhã.

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