Mais de 8 mil crianças morreram por acidentes domésticos em 2022

Dados mostram que as internações de crianças por armas de fogo foram as que mais cresceram; quedas, queimaduras e acidentes no trânsito são as ocorrências mais comuns

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Criança corre ao redor do tapete da sala, mãe está no sofá
Em 2022 ocorreram 109 mil internações de crianças por acidentes domésticos
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As mortes por acidentes domésticos com crianças e adolescentes de zero a 14 anos cresceram em 2022: foram 8.629 óbitos, o que representa 162 ocorrências a mais do que em 2021, conforme indicam dados preliminares informados pela assessoria de imprensa do Ministério da Saúde. Esse é o segundo maior número dos últimos cinco anos – o maior foi registrado em 2020, quando ocorreram 8.673 óbitos.

Além das mortes, foram constatadas 109.988 internações por acidentes em geral, sendo as quedas a principal causa, com 43% das ocorrências, seguidas das queimaduras, 20%, e dos acidentes de trânsito, que respondem por 10% do universo avaliado, segundo levantamento da organização Aldeias Infantis SOS, a partir de dados do DataSUS.

Embora os números sejam alarmantes, houve uma redução de 0,32% nos índices de internações em relação a 2021. Enquanto alguns tipos de acidentes domésticos tiveram menor frequência em 2022, como é o caso de intoxicação, quedas, sufocação e acidentes de trânsito, outros aumentaram. As internações por armas de fogo foram as que mais cresceram (19,48%), assim como os afogamentos (7,61%) e as queimaduras (5,55%).

Acidentes domésticos com crianças e adolescentes (0 a 14 anos)

Mortes
2022 – 8.629
2021 – 8.467
2020 – 8.673
2019 – 8.465
2018 – 8.361

Internações
2022 – 109.988 casos – 301,3 hospitalizações por dia – 12,5 por hora
2021 – 110.339 casos

Principais causas das internações em 2022

Quedas – 43%
Queimaduras – 20%
Acidentes de trânsito – 10%

Acidentes domésticos com aumento entre 2022 e 2021

Armas de fogo: + 19,48%
Afogamento: + 7,61%
Queimadura: + 5,55%

Acidentes domésticos com redução entre 2022 e 2021

Intoxicação: – 11,39%
Quedas: – 1,50%
Sufocação: – 4,38%
Acidentes de trânsito: – 4,48%

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Acesso maior a armas de fogo favorece os riscos

Segundo Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS, a redução dos índices entre 2021 e 2022 é pequena, mas a mudança dos tipos de acidentes e das faixas etárias foram muito significativas. “O aumento de lesões envolvendo armas de fogo, afogamentos e queimaduras são reflexo dessa realidade social e econômica que o país passa. O acesso facilitado a armas e munições fez com que as pessoas tivessem mais esse tipo de artefato em casa, facilitando o acesso também às crianças e aos adolescentes que acabaram se acidentando”, afirmou a especialista.

Erika diz que o maior número de casos de queimaduras nas crianças de todas as faixas etárias se deve à precarização das condições de vida, ao acesso facilitado ao álcool, que fez parte do cotidiano das famílias durante a pandemia, e também ao fato de as famílias estarem cozinhando com tipos alternativos de combustível, que são mais baratos.

Já sobre os afogamentos, a especialista diz acreditar que o crescimento desse tipo de internação tem a ver com a maior procura por atividades fora do ambiente doméstico, após o isolamento da pandemia, e também à falta de cuidado dos adultos em relação à segurança das crianças.

Conforme a especialista, 90% dos acidentes poderiam ser evitados por meio de ações comprovadas de prevenção, como dicas simples aos pais, familiares e cuidadores para tornar o ambiente doméstico e comunitário mais seguro, promovendo a cultura do bem cuidar e do cuidado de qualidade.

Idades x tipos de acidentes

As crianças que mais sofreram hospitalizações em 2022 tinham de 10 a 14 anos e representam 37% dos internados por acidentes. Em seguida, as mais atingidas foram as com idade entre 5 e 9 anos (34%), de 1 a 4 anos (24%) e as menores de 1 ano (5%).

No grupo de até um ano, houve um aumento de 2,76% do total de casos de internações, com destaque para os casos de afogamento, intoxicações, queimaduras e sufocação.

Na faixa etária entre 1 e 4 anos, houve uma redução total nos casos de internações (-6,27%), com queda significativa para intoxicações, sufocações, armas de fogo e quedas. No entanto, foi registrado aumento de casos de afogamento (1,48%).

O grupo que representa as crianças entre 5 e 9 anos também apresentou uma redução (3,26%) no total de casos de internação, principalmente no que diz respeito a intoxicações, sinistros de trânsito e quedas. Mas revelou aumento de acidentes por afogamento (75%), armas de fogo (22%) e sufocação (10%).

Por fim, na faixa etária de 10 a 14 anos, houve redução nos casos de afogamento, quedas, sufocações, sinistros de trânsito e intoxicações. Ao mesmo tempo, cresceram as internações por armas de fogo (27,91%), queimaduras (14,35%) e quedas (6,51%).

Cuidados a tomar para evitar acidentes domésticos*

1. Brinquedos: Apesar de parecerem inofensivos, os objetos de diversão dos filhos podem provocar acidentes, enquanto as crianças passam a explorar mais os espaços e os próprios pertences. Vistorie com regularidade os brinquedos e tire tudo que possa machucar, como os que estão com partes quebradas ou os que têm peças pequenas que possam ser ingeridas.

2. Janelas e sacadas: No caso de locais altos, é fundamental manter telas de proteção nas janelas e sacadas para evitar quedas, que a depender da altura do local, pode ser fatal.

3. Na piscina: As crianças devem usar a piscina sempre com a supervisão de um adulto, mesmo que a criança saiba nadar e esteja usando boias ou coletes salva-vidas. Cercas ou redes de proteção garantem o acesso controlado ao local. Quanto às piscinas infantis, o ideal é esvaziá-las após o uso e guardar longe do alcance das crianças.

4. Na cozinha: Procure usar as bocas traseiras do fogão, que são mais difíceis de serem alcançadas pelas crianças, e durante o uso certifique-se que os cabos estejam virados para dentro. Guarde objetos de vidro ou perfurantes nos armários superiores. Também tome cuidado com as toalhas de mesa, que podem ser puxadas.

5. No banheiro: Nunca deixe crianças pequenas tomarem banho sozinhas, principalmente na banheira, e avalie sempre a temperatura da água para evitar queimaduras. Mantenha medicamentos, produtos de higiene e beleza, lâminas de barbear, tesouras, secadores de cabelo e chapinha fora do alcance dos pequenos.

6. Na lavanderia: Acidentes domésticos podem ocorrer até com baldes e bacias vazios. Por isso, guarde-os virados para baixo. Produtos de limpeza devem permanecer em lugares altos ou trancados.

7. Com móveis: Se possível, fixe à parede os móveis com risco de tombar, por exemplo, cômodas, armários e mesinhas de cabeceira. Use protetores de silicone para móveis com quinas afiadas para evitar que a criança trombe e se machuque em uma queda. Objetos de decoração como vasos de vidro para flores e outros que possam machucar a criança devem ser mantidos fora do alcance da criança.

Como agir em caso de acidente*

  • Mantenha a calma
  • Verifique a situação da vítima
  • Mantenha a criança em um local seguro e procure auxílio médico se notar qualquer comportamento estranho
  • Em caso de queda, não tente carregar o pequeno ou fazer mudanças significativas de posição
  • Em caso de queimaduras, lave-as apenas com água corrente e procure auxílio médico, se necessário
  • Em casos graves, de muita dor, sangramento ou que a vítima perder a consciência, a criança deve ser levada imediatamente a um pronto-socorro infantil ou ser acionado o serviço de emergência (192 ou 193).

*Orientações retiradas da matéria “8 dicas para evitar acidentes domésticos durante as férias

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