Educar uma criança dá trabalho, é complexo e precisa ser feito diariamente. Isso não exclui as maravilhas e os privilégios de ter uma criança sob a nossa responsabilidade.
Muitas vezes os pais se perguntam como ensinar uma criança e o que fazer para ela se tornar um adulto saudável, feliz, confiante, cheio de estima por si e empatia pelos outros.
É um caminho longo, mas se puder fazer uma boa escolha, comece pelas emoções.
Mas é possível educar as emoções? Sim!! E temos a oportunidade de fazer isso todos os dias.
Quando os pais me perguntam quando se deve começar a educar as emoções de uma criança, digo a eles que emoções se educam desde a barriga.
Pode parecer estranho, mas hoje, graças a evolução da ciência, já existem pesquisas de neuroimagem que apontam que desde o 4º mês de gestação o cérebro do bebê já começa a categorizar o que ele sente.
Claro que não são emoções tão elaboradas como nós, adultos, sentimos, mas dentro da barriga o cérebro do neném já distingue entre emoções agradáveis e desagradáveis de sentir.
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E quando o bebê nasce? Também nesse momento ele não tem um repertório amplo sobre as emoções, e as experiência emocionais estão ligadas às suas necessidades básicas. Quando falo sobre necessidades básicas, não falo só de comer, dormir, estar aquecido, falo também de vínculo seguro, amparo, afeto. A cada momento seu cérebro vai criando categorias do que é desagradável sentir (fome, frio, calor, solidão, dor) e agradável (ouvir a voz da mãe, estar de barriguinha cheia ou confortável no colo do pai).
Muitas pessoas acham que nesse momento ainda é cedo para se pensar em educar as emoções e explicar ou dizer ao recém-nascido o que ele está sentindo. Mas explicamos tantas coisas aos bebês! Que tal explicar sobre o que ele sente também?
Podemos começar dizendo a eles o motivo do choro por exemplo. Você chorou porque estava com fome, ou se sentiu sozinho, ou queria um aconchego. Esse é o início da alfabetização emocional.
À medida que a criança vai crescendo, vamos ensinando sobre as emoções. E quanto mais cedo começamos a fazer isso, mais cedo seu filho terá autonomia e habilidade para regular as próprias emoções.
Como pais e cuidadores, temos muitas oportunidades de educar as emoções dos pequenos ao logo do dia. Se você observar seu filho, vai perceber como ele sente várias emoções e pode começar dizendo a ele o que ele está sentindo. Ele ouviu um barulho e se assustou? Está brincando com ele e ele deu risadas? Diga!
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Conecte o que ele sente, seja raiva, medo, amor, a como essa emoção acontece no corpo dele.
É como dar uma pista sobre a emoção. Você pode dizer, por exemplo que quando ele sente medo o coração dispara, as mãozinhas ficam geladas. Quando está feliz, dá risada, pula. Quando está triste, chora, pede colo.
Quanto mais pistas a criança tem sobre o que está sentindo, mas facilidade ela terá em reconhecer e nomear as próprias emoções e as emoções dos outros.
E quantas vezes vou precisar fazer isso até que meu filho aprenda? Falei no início que educar dá trabalho, né? Quantas vezes você repetiu mamãe ou papai antes que seu filho pudesse te chamar com clareza? Quantas vezes você mostrou o que era azul, vermelho ou verde? Quantas vezes você mostrou qual era a letra do nome dele ou como aprender a andar de bicicleta?
Ensinar sobre as emoções funciona da mesma maneira. Você vai falar, mostrar, explicar, várias vezes. Vai mostrar nele, quando ele sentir, no irmão, em você, na personagem do filme, afinal, todo mundo sente.
Comece por educar as emoções básicas: medo, raiva, alegria, amor e depois passe para emoções mais complexas como vergonha, saudade, ansiedade.
Costumo explicar às crianças que temos emoções verdes e vermelhas. As verdes são agradáveis e gostamos de sentir, as vermelhas são desagradáveis de sentir e, quando elas aparecem, queremos que elas logo vão embora.
Assim, mesmo que ela não consiga dizer exatamente qual emoção está sentindo, ela já conseguirá reconhecer se é verde ou vermelha e esse é o primeiro passo para conseguir manejar, regular a emoção.
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É importante a criança entender que ela não é a emoção. A emoção passa por ela, como uma onda que vem, sacode o barco e depois vai embora. Quando a criança entende que as emoções passam é muito mais fácil manejar as emoções desagradáveis de sentir.
E é importante para você saber que todas as emoções são válidas, não existe emoção certa ou errada, boa ou ruim. Não é errado sentir medo ou fraqueza sentir tristeza.
Dizer a uma criança que ela não pode sentir raiva do irmão é a mesma coisa que dizer que ela não pode sentir sono no fim do dia.
Como falei, o caminho é longo, mas caminhar por ele, podendo sentir, o torna muito mais prazeroso e saudável.
Desejo a você e a seus filhos todo sucesso nesta caminhada.
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