Você sabe o tamanho da ‘janela de tolerância’ de seu filho?

Termo criado pelo psiquiatra americano Daniel Siegel se refere à amplitude de ativação de nosso cérebro, dentro da qual funcionamos bem. A psicóloga Patrícia Nolêto explica como funciona essa "janela" nas crianças e os fatores que interferem em seus comportamentos quando elas saem da zona de equilíbrio

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Mãe negra passa mão na cabeça da filha negra que cobre o rosto com as mãos
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Janela de tolerância é um conceito muito trabalhado pelo Daniel Siegel, psiquiatra, professor e fundador do centro de pesquisa de Consciência e Atenção plena, na universidade da Califórnia (EUA).

Gosto muito de conceitos assim que nos instrumentalizam, ampliam nosso repertório, e nos capacitam no manejo com nossos filhos. Me acompanha aqui que você vai entender.

Talvez você se lembre vagamente das aulas de ciências da escola, quando aprendeu sobre o corpo humano. Sistemas respiratório, circulatório e nervoso. É exatamente sobre o sistema nervoso que vou falar hoje. Especificamente sobre o sistema nervoso autônomo (SNA).

Prometo que vou explicar de um jeito fácil, que vai fazer sentido para você e que vai te ajudar com seu filho.

O SNA é responsável pela regulação interna do nosso corpo, pelo equilíbrio.

Ele se divide em Simpático e Parassimpático.

Para entender como funciona pense algo que você tem medo. Pode ser medo de barata, rato, altura ou de falar em público. Toda vez que você entra em contato com esses medos seu SNA Simpático entra em ação. Ele é o alarme que liga seu sistema de luta ou fuga. É o que te faz correr ou lutar! (Barata eu luto, rato eu fujo! risos) É o sistema que se ativa em momentos de estresse, perigo.

E quem te ajuda a voltar ao relaxamento? O SNA Parassimpático. Ele é o responsável pela calma, pelo relaxamento, que funciona como um freio para nos acalmar, torna nossa respiração mais lenta, os músculos relaxados…

Quando as duas partes do sistema estão bem equilibradas, nós nos controlamos bem. Isso significa que nosso cérebro tem capacidade de passar por uma situação inesperada e retornar à estabilidade. Somos capazes de considerar as opções e tomar boas decisões, manter controle sobre pensamentos, sentimentos e comportamentos e assim lidar com emoções e situações difíceis.

Vamos chamar esse estado de “zona verde”. Quanto mais equilibrado estão esses sistemas, maior a amplitude da zona verde ou maior a nossa janela de tolerância.

Acima do limite superior da zona verde, está a zona vermelha, e quando ultrapassamos nossa janela de tolerância e chegamos nela, estaremos na hiperestimulação. As emoções dominam e existe um descontrole. Não conseguimos enfrentar a situação e fica muito difícil manter o equilíbrio. Podemos ter “explosões” de raiva e tendemos a ter comportamentos externalizantes.

Abaixo do limite inferior da zona verde, está a zona azul, e quando ultrapassamos nossa janela de tolerância e chegamos nela, estamos na hipoestimulação. Também não conseguimos enfrentar a situação, mas aqui a forma se reagir será se fechando, se retraindo emocionalmente, ficando em silencio, se isolando, voltando para dentro, se desconectando do lado de fora.

Resumindo, a janela de tolerância descreve a amplitude de ativação do nosso cérebro dentro da qual podemos funcionar bem. Isso significa que as pessoas têm janelas de tolerância de tamanho diferentes.

Agora, pense no seu filho. Ele também perde o controle? Tenho certeza que sim! E na maioria das vezes, o motivo são coisas que para nós, adultos, podem parecer bobas, fúteis e pensamos que eles estão fazendo tempestade em copo d’água. Pode ser a rodinha do carrinho hot wheels que quebrou, ou o irmão que escolheu beber no copo da cor que ele queria, ou o brilho rosa que tinha na ponta da caneta que se soltou.

Vou te falar uma verdade, que você vai ouvir hoje, mas vai se lembrar disso depois:

A maioria das vezes quando uma criança se comporta mal, é porque não consegue e não porque não quer controlar suas emoções! Crianças tampouco gostam de perder o controle, e quando isso acontece, não fazem isso por uma escolha.

Não conseguem porque saíram da janela de tolerância. Saíram da zona verde e foram para a zona vermelha ou azul.

Assim como na nossa vida, as coisas nem sempre se dão como gostaríamos ou planejamos, na vida dos nossos filhos ocorre o mesmo. Para uma criança pequena, pode ser o tempo de TV que acabou, e para um adolescente, não ter sido convidado para uma festa. E o resultado pode ser um acesso de raiva, choro, mordidas, palavrões, ou isolamento, silêncio, paralização.

Isso acontece por uma escolha do Sistema Nervoso, ele determina automaticamente a reação que parece mais adequada, baseada nas experiencias anteriores, no temperamento e no repertorio que aquela criança já tem. À medida que a criança cresce, o repertório se amplia, por um simples motivo: equilíbrio é uma habilidade aprendida.

Pense nos seus filhos agora. Já sabendo que é natural as crianças perderem o equilíbrio algumas vezes, é importante conhecer o que desencadeia essa desorganização em cada criança e saber como pode ajudá-la a recuperar o equilíbrio, quando ela sai da zona verde.

Para te ajudar a ficar mais atento a isso, vou repetir as 5 perguntas usadas pelo Daniel Siegel em suas consultas.

5 perguntas para ajudar seu filho a manter o equilíbrio emocional

  1. 1. Quão ampla é a zona verde de seu filho para determinadas emoções? Pense nas variadas emoções, ele é capaz de lidar com situações em que elas aparecem sem ir para a zona vermelha ou azul?
  2. 2. Com que facilidade ele abandona a zona verde? Levando em conta a idade e a fase do desenvolvimento, pense se ele perde o equilíbrio por problemas menores.
  3. 3. Existem gatilhos que costumam desencadear o desequilíbrio do seu filho? Fome, sono, cansaço, por exemplo.
  4. 4. O quanto seu filho se afasta da zona verde quando ele perde o controle? Qual a intensidade?
  5. 5. Quanto tempo seu filho fica fora da zona verde? Ele retorna a ela com facilidade ou não?

Olhar para seu filho e seus comportamentos sabendo disso, vai fazer uma grande diferença para você e para ele.


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