Irmãos: relação de amor e ódio não deve ser normalizada, diz especialista 

Para a psicóloga Adriana Rosa Silva, conflitos fazem parte do desenvolvimento e é preciso aprender a lidar com eles de forma saudável

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Irmãos brigam na sala de casa na frente da mãe cansada
Durante as brigas, pais devem procurar agir como bons mediadores
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Por Adriana Rosa Silva* – Manhêêê… Paiêêê… “Vem ver o que ele fez!” “Ela me bateu.” “Está mentindo!” “Fala para devolver a minha bola agora!” “Você nunca me defende!” “Gosta mais dele do que de mim.” Quem já não ouviu frases como essas ou ao menos parecidas? A relação conflituosa entre irmãos é uma demanda frequente na clínica, trazida por famílias que querem saber como fazer para acabar ou pelo menos diminuir as brigas entre as crianças. 

Muitos pais relatam que tomaram a decisão de ter mais filhos porque acreditavam que seria o melhor que poderiam fazer como pais, porém, no dia a dia ficam tristes e até decepcionados quando os conflitos em casa se tornam frequentes e intensos.  

Penso que o primeiro passo para ajudar os pais e consequentemente os filhos a terem um melhor relacionamento é entender que os conflitos fazem parte do desenvolvimento humano, e podem existir, desde que o respeito predomine nas relações. Através dos conflitos existe a oportunidade de ajudar nossas crianças e adolescentes a desenvolverem importantes competências sociais e emocionais.    

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Outro aspecto a destacar é que tenhamos a plena consciência de que o relacionamento entre os irmãos, ao longo da vida, será bem-sucedido dependendo de como essa relação é ou foi construída, principalmente na infância.  

Quando ouvimos que a relação de irmãos é baseada num movimento de amor e ódio, temos que ter o cuidado de compreender os sentimentos que ali estão envolvidos, assim como a disputa de território, por brinquedos, por ciúmes, medo, insegurança ou um jeito de querer atenção. Mas não podemos naturalizar esse movimento sem uma intervenção onde o amor possa prevalecer.     

Os pais ou familiares que conseguirem agir como bons mediadores, ajudarão na construção de habilidades de vida importantes como: respeito mútuo, responsabilidade, cooperação, busca por soluções, paciência, empatia, necessidade de posicionamento, regulação emocional, senso de justiça, honestidade e a importância do perdão. 

Dessa forma, uma briga entre irmãos não deve ser julgada, punida ou simplesmente naturalizada, mas sim compreendida a partir de suas motivações. Se os pais se colocarem como bons ouvintes, tentando compreender o ponto de vista de cada filho, analisando as atitudes baseadas nos valores que regem cada família, avaliando e determinando juntos as possíveis consequências, darão passos importantes para uma relação saudável.  

Durante o desenvolvimento desse processo, os pais podem colaborar, organizando o ambiente para que cada um aprenda a respeitar o espaço um do outro. É importante propor momentos de tarefas colaborativas, evitando ao máximo comparar ou rotular os filhos, esforçando-se por compreender os sentimentos manifestados e celebrar os momentos de realizações individuais e coletivas. Vale também destacar e valorizar as situações em que as crianças conseguem encontrar soluções respeitosas para resolver os problemas, sendo uma oportunidade para incentivá-las a agir como equipe e ressaltar o orgulho de tê-los como filhos.  

Claro que atitudes parentais como essas geram demandas de tempo, paciência, assertividade e trabalho, mas não se trata de uma tarefa impossível e ainda há a probabilidade de excelentes resultados a médio e longo prazo. É um caminho para construir entre irmãos relacionamentos de irmandade, embasados no respeito, na generosidade, na cooperação, no amor e na compreensão de que fazem parte da mesma equipe e não podem ser vistos como rivais. Pais devem acreditar no potencial de seus filhos para que estes possam conquistar uma relação emocionalmente saudável e afetiva para toda vida. Assim, desejo a superação desse desafio.  

*Adriana Rosa Silva é psicóloga, neuropsicóloga, especialista em terapia familiar pela PUC/SP e educadora parental certificada pela Positive Discipline Association (PDA).  

*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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