Por Helen Mavichian* – No dia a dia da escola ou com os vizinhos do prédio é natural que as crianças levem mordidas (principalmente, as pequenas), se envolvam em brigas e encontrem desafios nas amizades – até nós, adultos, nos deparamos às vezes com conflitos e situações que nos deixam chateados e exigem de nós um posicionamento. Porém, as crianças ainda estão aprendendo a gerir suas emoções e comportamentos, e a se relacionar com os demais, o que pode tornar mais difícil saber como lidar com essas situações.
Muitos pais, diante do sofrimento dos filhos e da sensação de impotência, assumem uma postura reativa, ensinando a criança a bater de volta no agressor, o que incentiva a violência e o comportamento agressivo. Por mais que a intenção dos pais seja a de ajudar a criança a se proteger, essas atitudes não contribuirão para formação de cidadãos que saibam lidar com conflitos de maneira respeitosa e pacífica.
Mais intererssante é ensinar o filho a trabalhar a autoestima, por exemplo, para que a criança possa se defender, visto que ela tende a se expressar melhor e se posicionar quando está mais segura e confiante, fazendo com que não se deixe afetar profundamente se algo a desagrada.
Também é importante aconselhar a criança vítima da agressão a manter o diálogo aberto com o colega que a agrediu e, em situações mais graves, comunicar os professores ou adultos responsáveis para que estes possam auxiliar e administrar o acontecimento, buscando, juntos, maneiras de resolver o conflito da melhor forma para todos, prezando o respeito e a compreensão. Os adultos devem procurar entender o que aconteceu e qual o caminho mais razoável para, se preciso, agir como mediador, mostrando para os envolvidos que é importante encontrar um modo equilibrado de encarar o ocorrido, sem violência.
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Cada caso tem de ser avaliado individualmente, mas, no geral, pode ser útil praticar respostas assertivas, aprender a ignorar os comentários negativos ou até mesmo afastar-se da situação, se necessário. Também vale sempre destacar à criança suas muitas qualidades incríveis para reforçar sua autoconfiança, o que pode ajudar a reduzir o impacto nesses momentos difíceis.
Mas, e se mesmo assim o “acordo de paz” não funcionar? Explique ao seu filho que nem todas as pessoas têm a mesma educação e que ele pode se afastar quando os outros o incomodam e outras tentativas de comunicação se mostrarem ineficazes. Além disso, é importante que os pais se posicionem em defesa do seu filho, ao perceber que ele não está conseguindo resolver a situação sozinho.
Por fim, é crucial cultivar empatia na criança, para que ela veja que essas atitudes não são adequadas e não podem ser reproduzidas com outros colegas e em outras circunstâncias. Compreender como as palavras podem machucar e o valor de ser gentil são aspectos importantes em todas as amizades e relações. Se o desejo é criar um mundo em que as pessoas consigam se relacionar de forma saudável, é essencial que se desenvolvam emocionalmente, e saibam se defender e se posicionar sem deixar o respeito de lado. Assim teremos adultos capazes de resolver seus problemas por meio da razão, argumentos e uso de habilidades sociais.
- *Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.