Conflitos na escola: uma oportunidade para o aprendizado

Coordenadora pedagógica explica que os desentendimentos fazem parte do cotidiano escolar e, mais que evitá-los, é preciso ensinar as crianças a lidar com eles

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Alunos apontam para menina que esconde rostocom as mãos
Na relação com os amigos, na escola, os alunos experimentam diferentes conflitos
Buscador de educadores parentais
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Por Vanessa Inagaki* – A escola, enquanto instituição de destaque na formação do indivíduo, desempenha papel crucial não somente na promoção da formação acadêmica, mas, sobretudo, ao proporcionar um cenário para a construção da cidadania global. Nesse contexto, a criança explora e experimenta as genuínas interações sociais, constituindo-se como um cidadão do mundo. 

Iniciamos, portanto, nosso diálogo a fim de dissertar sobre um tema inesgotável nas instituições educativas: o conflito entre os estudantes. Faço aqui uma provocação ao leitor: os conflitos representam um problema ou, ao contrário, servem como um facilitador de aprendizados concretos na escola?

Para fundamentar nossa discussão, trago à tona o entendimento da neurociência, a qual enfatiza que o universo infantil está imerso no âmbito emocional. Nesse sentido, as emoções na primeira infância orientam o comportamento e as ações. Assim, é natural que alunos com idades entre 3 e 10 anos experimentem variados conflitos em suas relações interpessoais. 

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Considerando que a escola constitui o ambiente onde as crianças interagem com indivíduos externos a seu núcleo familiar, que carregam consigo valores e crenças de um microcosmo simbiótico, como esperar que tais relações entre pares, dotados de bagagens distintas e por vezes conflitantes, transcorram sem desafios?

Aqui está o cerne da promoção do desenvolvimento integral do ser humano, que envolve os pilares educacionais do “aprender a ser”, juntamente com os demais: “aprender a conviver”, “aprender a fazer” e “aprender a conhecer”. Diante disso, o conflito assume o papel de elemento formativo no processo educativo, não mais de mero problema.

Como nutrimos a empatia pelo próximo? Como aprendemos a externalizar nossos sentimentos? Como desenvolvemos a habilidade de reparar atitudes impulsivas?

É por meio da formulação de questionamentos pertinentes em situações conflituosas que proporcionamos às crianças ferramentas para descobrirem respostas e estratégias para enfrentarem desafios. 

Consideremos dois alunos, ambos com oito anos, envolvidos em uma briga pelo uso de uma mesa de pebolim. Um mediador adulto poderia induzir a uma reflexão por meio de simples indagações: “o que ocorreu?”, “conseguiram resolver a situação da forma como agiram?”, “como se sentem?”, “poderiam ter usufruído melhor o intervalo jogando pebolim?”, “como podemos corrigir o incidente?”, “como agiriam caso se deparassem com uma situação similar no futuro?”.

Minha vivência de duas décadas no campo pedagógico já me proporcionou inúmeras oportunidades de mediação, cujos impactos demonstraram-se positivos. Entretanto, é necessário considerar algumas ressalvas substanciais. Primeiramente, é crucial avaliar o estado emocional das crianças, pois, se agitados, dificilmente atingiremos nosso objetivo de estimular reflexões e aprendizados. Logo, o acolhimento e a tranquilização são primordiais. Ademais, a neutralidade é um aspecto essencial, uma vez que nosso papel é o de educadores, não juízes.

Concluo estas reflexões salientando uma observação de relevância inegável: conflitos futuros atravessarão a trajetória das crianças, tanto na escola quanto fora dela. Por conseguinte, é imperativo que a escola e a família tenham uma trajetória convergente. Não se trata de evitar que as crianças se envolvam em conflitos, mas, sim, de transformar o conflito em uma oportunidade de aprendizado, munindo-as de um vasto repertório para lidar com divergências e, sobretudo, cultivar a convivência harmoniosa e respeitosa.

*Vanessa Inagaki é coordenadora pedagógica do ensino fundamental I (anos inciais) do Colégio Vital Brazil

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns, pela materia Vanessa inagaki isso me reflete na minha adolecência eu com meus 13 a 16 anos no ginásio e colégio na época dos anos 70 eu era muito rebelde como líder de grupos e turmas, conflitos entre amigos e como sempre deixa disso, mas muita amizades na época , bons tempos., precisamos muito dessa tese e estímulos de assunto na atualidade, mas ainda vejo a pobreza de leitura na atualidade de hoje , pq o celular bate recorde em “besteiras” e incentivos a violência nas crianças de hoje, quem sou eu p/ mudar o mundo. Parabéns também a “canguru news”

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