Mais de 90% das agressões contra crianças no Brasil ocorrem dentro de casa

Só nos primeiros seis meses de 2022, foram registradas quase 200 mil denúncias de violência contra meninos e meninas de até 9 anos, indica pesquisa realizada pelo ChildFund Brasil

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Menina pequena estende braço à frente om mão aberta e cobre rosto com a outra mão
Maus-tratos, agressão e lesão corporal são algumas das violências físicas sofridas pelas crianças
Buscador de educadores parentais
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É dentro de casa, hoje, onde as crianças mais sofrem violências físicas e psicológicas, praticadas pela mãe, pai, companheiros e familiares. Os três principais locais em que ocorrem os atos violentos são a residência da vítima, do suspeito ou de ambos, que juntos somam mais de 90% dos casos reportados ao Disque 100, principal canal de denúncia no país. As informações são da Pesquisa Nacional da Situação de Violência Contra Crianças no Ambiente Doméstico, realizada pelo ChildFund Brasil, com o apoio da The Lego Foundation, e divulgada nesta quinta-feira (30). 

Só nos primeiros seis meses de 2022, o Disque 100 recebeu 197.401 denúncias de violência contra crianças de até 9 anos, sendo que em 2021 foram 186.862 registros desse tipo. 

De acordo com o estudo, são mais comuns as violências físicas contra crianças, como maus-tratos, riscos à saúde, agressões, lesão corporal e tortura física. Já a violência psicológica, apesar de não ser tão perceptível, também é muito expressiva, sendo a segunda mais frequente no país, e inclui situações de exposição, constrangimento ou difamação, por exemplo. Em terceiro lugar estão práticas de tortura psíquica, ameaça e alienação parental.

Maurício Cunha, diretor de país da ChildFund Brasil, explicou, durante evento de apresentação do estudo, que as violências físicas são mais facilmente identificadas pelas próprias crianças, assim como pelos vizinhos, parentes e amigos, mas elas não ocorrem de forma isolada, estando inseridas em um ciclo que pode incluir também agressões e ameaças, por exemplo, ou agressões e privações de liberdade.

“A criança é quem mais sofre violências no nosso país. Isso revela muito sobre o grau de desenvolvimento, de maturidade da nossa sociedade. Temos muito o que crescer. Ser criança no Brasil é perigoso, infelizmente. E ser criança já é estar em vulnerabilidade. Quando a gente pensa ainda em todos os vieses, as questões estruturantes, mais ainda. A criança negra, a criança pobre, as meninas sofrem muito mais violência. Criança é para ser cuidada”, destacou o diretor da organização. 

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Crianças associam a agressões e violências a um ato de amor

O estudo ressalta que as crianças pequenas são as que possuem o menor aparato linguístico e de soluções, tanto para identificar quanto para denunciar as situações de violência que vivenciam. Por isso demandam atenção e atuação da sociedade e do Estado. “São elas, portanto, o foco desta pesquisa, cujo propósito é o de dar visibilidade ao problema”, destacam os pesquisadores no relatório.

A investigação chama atenção também para a série de dificuldades que as violências trazem para as crianças, tais como compreenderem que as principais pessoas de referência são aquelas que as maltratam. Isso as leva a associar a violência como um ato de amor, e faz com que tenham “dificuldade de reportar os fatos violentos que vivenciam em seus domicílios, assim como de terem seus problemas reconhecidos e credibilizados por outros, quando os conseguem relatar, além dos entraves para sobreviver na ausência de quem as maltrata”.

O levantamento, feito entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, escutou 698 pessoas, entre crianças, adolescentes, familiares e professores de crianças de zero a oito anos. Os questionários foram aplicados por telefone, de forma on-line e presencial. 

Entre as recomendações para mudar esse triste cenário, o relatório sugere ações como:

  • assistir famílias mais vulneráveis socialmente;
  • fazer sessões de aconselhamento prévio nas comunidades;
  • promover a formação dos profissionais de saúde, educação, assistência social e justiça em larga escala;
  • monitorar o uso da internet entre as crianças;
  • desnaturalizar a violência como sendo parte do processo educativo das crianças.

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