‘A violência contra crianças é tão normalizada que chega a ser considerada uma forma de educação’

Neste Dia Mundial da Infância (21), coordenadora do Childfund Brasil fala da importância de debater a maneira como as famílias e toda a sociedade educam e cuidam das crianças

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Menina sentada de costas no chão abraça joelhos ao lado
De 2016 a 2020, dentre as 34.918 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes, pelo menos 1.070 ocorreram na faixa etária de até 9 anos
Buscador de educadores parentais
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Por Águeda Barreto ‒ Enquanto seres em formação, crianças e adolescentes precisam ser cuidados e protegidos em condições adequadas para que desenvolvam o seu pleno potencial. Mas, infelizmente, a violência infantil é uma realidade persistente em todo o mundo, gerando sérias consequências para o desenvolvimento e formação das crianças e da sociedade. No dia 21 de março celebra-se o Dia Mundial da Infância e esse é um marco importante para que toda a sociedade possa refletir: como estamos protegendo e cuidando das nossas crianças?

O Relatório do Status Global sobre Prevenção da Violência contra Crianças, de 2020, aponta que quase a metade de todas as crianças no mundo sofrem violência física, sexual e psicológica regularmente. Os números no Brasil também refletem uma difícil realidade: mais de 80% das violências contra crianças são cometidas dentro de casa e por familiares ou pessoas próximas. No Disque 100, canal de denúncia sobre violações dos direitos humanos, até maio de 2022, foram registradas 78.248 denúncias de violência contra a criança ou adolescente. No mesmo canal, em 2021, foram 101.186 denúncias e, em 2020, foram feitas 94.885 denúncias.

Segundo o Panorama da Violência Letal e Sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, no período de 2016 a 2020, dentre as 34.918 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes  – em que a maioria está entre 15 e 19 anos –, foram identificadas pelo menos 1.070 crianças de até 9 anos. Só em 2020, foram 213 mortes violentas intencionais nessa faixa etária. Entre elas, 40% morreram dentro de casa, com 46% das mortes causadas por uso de armas de fogo e 28% por armas brancas ou por agressão física. O estudo constatou que crianças morrem com frequência em decorrência de crimes com características de violência doméstica.

Esses são números drásticos, que refletem uma realidade mascarada e subnotificada. A violência contra crianças é tão normalizada que muitas vezes é considerada uma forma de educação. Precisamos debater e repensar de forma urgente como educamos e cuidamos das crianças – e não só as famílias, mas toda a sociedade.

Considerando a necessidade de prevenir a incidência de dados tão alarmantes, o ChildFund Brasil lançou a campanha “Criança é para Ser Cuidada” – que busca conscientizar e mobilizar a sociedade sobre violências contra crianças em casa e na internet. A campanha visa disseminar informações sobre a parentalidade positiva na prevenção de diferentes tipos de violência doméstica e sobre os cuidados necessários no ambiente digital. Busca também influenciar e monitorar políticas públicas relacionadas às temáticas e mobilizar toda a sociedade para prestar atenção à forma como as crianças são cuidadas. A organização realiza ainda oficinas e seminários sobre proteção infantil em comunidades em situação de vulnerabilidade social – através do recurso de doações.

Crianças se desenvolvem, principalmente, enquanto estão cercadas de cuidados em todos os níveis – fisicamente, emocionalmente, psicologicamente. Portanto, violência não combina com educação. Há uma frase que diz que “a infância é um chão que a gente sempre pisa” (Ariane Osshiro), ou seja, tudo o que acontece nessa fase tem alto impacto e irá reverberar ao longo da vida. Que nós, adultos, possamos oferecer o “chão”, a segurança e a proteção para aqueles que são o nosso futuro, mas principalmente, o nosso presente.

*Águeda Barreto é coordenadora de advocacy no ChildFund Brasil – Fundo para Crianças.

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