Escolas de São Paulo poderão reabrir para atividades extracurriculares em outubro

Para Viviane Senna, do Instituto Ayrton Senna, e Denis Mizne, da Fundação Lemann, os governos devem priorizar a educação nos planos de retomada econômica

493
Prefeito de São Paulo autoriza reabrir escolas em outubro para atividades de reforço; imagem mostra garota morena de cabelo preso e máscara no rosto, sentada em cadeira em sala de aula, com caderno e tubo de álcool na mesa, passando uma mão sobre a outra
A medida de reabertura em outubro vale para escolas públicas e privadas na cidade de São Paulo, da educação infantil ao ensino médio
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), autorizou nesta quinta-feira (17) reabrir escolas somente para atividades extracurriculares a partir do dia 7 de outubro. A medida vale para instituições públicas e privadas na cidade de São Paulo, nos ensinos infantil, fundamental e médio. No caso das particulares, fica a critério de cada escola decidir pela reabertura ou não – muitas estão fazendo um levantamento com as famílias para saber quantos alunos teriam interesse em frequentar a escola e a partir daí realizar um planejamento para recebê-los. Já no ensino superior, está liberada a volta das aulas regulares a partir da mesma data. As escolas estão fechadas desde março por causa das medidas de isolamento social impostas pela pandemia do novo coronavírus.

“Em relação aos alunos de 0 a 17 anos, de responsabilidade do município, estado e rede privada, vamos liberar a partir de 7 de outubro as atividades extracurriculares”, disse Covas, durante coletiva de imprensa virtual, em que foram divulgados novos dados do inquérito sorológico para avaliar o grau de contágio pelo coronavírus da população. É com base nesses resultados, entre outros critérios, que o prefeito disse que irá decidir, no dia 3 de novembro, se o retorno das aulas regulares se dará ainda este ano ou somente em 2021.

Leia também: Volta às aulas em São Paulo: três diretoras opinam sobre retorno em outubro para atividades opcionais

Prevalência geral de Covid-19 nos alunos é de 16,5%

A terceira fase do inquérito sorológico realizada com crianças e adolescentes de 4 a 14 anos, das redes municipal, estadual e particular da cidade revelou que 16,5% dos alunos possuem anticorpos contra a Covid-19. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, a prevalência de infecção pelo coronavírus foi menor nos escolares da rede privada de ensino (9,7%), quando comparada aos escolares da rede pública (estadual – 17,2% e municipal – 18,4%). Com o resultado, estima-se que 244.242 alunos paulistanos na faixa etária entre 4 e 14 anos tenham anticorpos para o coronavírus e 66% deles sejam assintomáticos. O total de alunos no município nessa faixa etária é de quase 1,5 milhão.

Mesmo sem data definida para as aulas regulares no município de São Paulo, a previsão é que voltem primeiro os alunos do 3º, 6º e 9º anos do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio. “Há uma razão pedagógica para isso. No ano seguinte, esses alunos estarão mudando de ciclo, tornando a recuperação das aprendizagens mais difíceis”, disse o secretário municipal de Educação de São Paulo, Bruno Caetano durante a coletiva.

A decisão pela reabertura das escolas não é consensual. Candidato à reeleição, que ocorre em novembro, o prefeito sofre pressão de grupos a favor e contra a reabertura das escolas na cidade. Enquanto diretores de instituições particulares, especialistas em educação e pediatras tendem a defender a volta às aulas presenciais, sindicatos de professores e famílias se mostram contrários a essa decisão.

Leia também: Como as escolas particulares estão se preparando para a retomada das aulas presenciais?

Viviane Senna lamenta falta de prioridade dada à educação

Para a empresária e psicóloga Viviane Senna, que fundou há 25 anos o Instituto Ayrton Senna, com o objetivo de melhorar a educação no país, as pesquisas, os dados e a experiência no exterior mostram que é seguro reabrir as escolas. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, ela lamentou o fato de as escolas não serem priorizadas nos planos de retomada de atividades de comércio e serviço nas cidades.

“A gente pode abrir restaurante, shopping, 25 de Março, bar, salão de beleza, tudo antes das escolas. É muito representativo do que é prioridade. Quando há uma tragédia, as primeiras a serem salvas são as crianças. É protocolo da humanidade. Com o fechamento das escolas, estamos deixando as crianças por último”, disse a empresária.

Viviane afirma que manter as escolas fechadas significa deixar as crianças sem proteção em vário sentidos. “Escola não é um equipamento só de aprendizagem, mas faz parte da rede de proteção dos alunos. O fechamento oferece riscos substanciais para as crianças. Não só cognitivos, mas emocionais e de integridade física, moral e psicológica.”

Leia também: Em defesa da infância, devemos voltar para a escola, diz a pediatra Talita Rizzini

“Em vez de ficar discutindo qual a data da reabertura, deveríamos estar preparando os protocolos.

(Denis Mizne, diretora-executivo da Fundação Lemann)

Para Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, parece difícil compreender por que o último setor para que iremos discutir protocolos de reabertura seja o setor educacional. “Como nos demais setores, é preciso tempo para as escolas se prepararem. Em vez de ficar discutindo qual a data da reabertura, deveríamos estar preparando os protocolos”, declarou o executivo à Folha de São Paulo, referindo-se a questões como o isolamento das turmas e controle da contaminação.

Para ele, “a retomada deve se dar o quanto antes e temos que discutir de que forma, pois corremos o risco de retomar essa discussão apenas em 2021 e ficar sem aula no ano que vem também”. Do ponto de vista de imunização coletiva, não haverá grandes mudanças entre novembro deste ano e fevereiro do ano que vem, acredita Mizne. “Não teremos toda a população vacinada.”

Escolas devem aprender a lidar com o vírus, afirma diretora do Colégio Equipe

Para Luciana Fevorini, diretora do Colégio Equipe, a reabertura é necessária. “É desejável que as escolas voltem a abrir e a gente aprenda a funcionar ainda com o vírus em circulação, porque a vacina, se sair, não vai ser todo mundo imediatamente imunizado, então, a gente vai ter que aprender a lidar com essa questão e se relacionar com segurança e respeitando os protocolos”, afirma a diretora.

Ela diz que desde agosto o colégio tomou a decisão de manter as atividades remotas ao longo deste ano. Com a autorização de reabrir as escolas, porém, Luciana diz que elas estão vendo a possibilidade de realizar atividades pontuais para pequenos grupos de alunos em horários alternados.

Leia também: 3 estratégias para um retorno seguro às escolas, segundo a revista ‘Science’

Organismos internacionais orientam países a reabrir escolas

A Organização Mundial da Saúde (OMS), a Unicef e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) divulgaram recentemente um documento dizendo que a volta às aulas regulares deve ser prioridade na reabertura das economias. Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, chegou a pedir a todos os países que seja dada prioridade à reabertura das escolas nos lugares em que a transmissão da Covid-19 estiver sob controle. Segundo Guterries, o encerramento prolongado pode provocar uma tragédia sem precedentes na história. Há cerca de dez dias, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCE) também divulgou um relatório em que afirma que o prejuízo no aprendizado vai provocar perdas na economia até o fim do século

Leia também: Dia mundial da alfabetização: apenas 45 a cada 100 crianças sabem ler na idade certa

Protocolo para volta às aulas

A escolas que vão reabrir no dia 7 de outubro para atividades opcionais deverão respeitar as seguintes regras (as informações são do portal G1 São Paulo):

  • Receber até 35% da sua capacidade para alunos da Educação Infantil e Fundamental e nos anos iniciais;
  • Receber até 20% da sua capacidade para alunos do Ensino Médio e anos finais.
  • Manter o distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes.
  • Estabelecer horários de entradas e saídas que serão organizados para evitar aglomeração, e serão preferencialmente fora dos horários de pico do transporte público.
  • Intervalos e recreios devem ser feitos sempre em revezamento de turmas com horários alternados.
  • As atividades de Educação Física estão permitidas desde que se cumpra o distanciamento de 1,5 metro. Devem ser realizadas, preferencialmente, ao ar livre e cuidando da higienização dos equipamentos.
  • É recomendado que o ensino remoto continue em combinação com a volta gradual presencial.
  • O uso de máscara é obrigatório para todos dentro da instituição e no transporte escolar.
  • A Instituição deve fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) para os funcionários.
  • Bebedouro será proibido. Água potável deve ser fornecida de maneira individualizada. Cada um deverá ter seu copo ou caneca.
  • Banheiros, lavatórios e vestiários devem ser higienizados antes da abertura, depois do fechamento e a cada três horas.
  • Lixo deve ser removido no mínimo três vezes ao dia.
  • Superfícies que são tocadas por muitas pessoas devem ser higienizadas a cada turno.
  • Ambientes devem ser mantidos ventilados com janelas e portas abertas, evitando toque em maçanetas e fechaduras.

O distanciamento tem exceções, como no caso da educação infantil e creches, em que não há como manter essa distância entre bebês e cuidadores.

Leia também: Pediatras analisam como a resiliência impacta no comportamento das crianças

Quer receber mais conteúdos como esse? Clique aqui para assinar nossa newsletter. É grátis!

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui