Vitiligo na infância: conhecida por causa do BBB, doença pode afetar autoestima

Segundo dermatologistas, o vitiligo na infância pode ser desencadeado por fatores emocionais ou problemas no sistema imunológico; apoiar a criança e entender mais sobre a doença é essencial para evitar preconceitos e desafios emocionais

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Pai abraça criança com vitiligo na infância
Segundo dermatologistas, o vitiligo na infância traz a necessidade de cuidados especiais com a pele da criança, como usar protetor solar e evitar exposição exagerada ao sol
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Manchas de coloração esbranquiçada, que aos poucos se espalham para regiões diversas da pele, podem ser sinal de uma doença autoimune: o vitiligo. Suas manifestações cutâneas, de várias formas e tamanhos diferentes, podem surgir em diversas áreas do corpo, incluindo cílios, sobrancelhas e couro cabeludo, desde a infância. “O vitiligo é uma doença não contagiosa, não transmissível e não  prejudicial à saúde física. É uma doença autoimune que ocorre após o desaparecimento de células chamadas melanócitos, que produzem a melanina [substância que pigmenta a pele]”, explica Luciana Passoni, especialista em dermatologia e clínica médica.

Recentemente, o vitiligo virou assunto nacional porque Natália Deodato, participante do Big Brother Brasil 2022, é portadora da doença. Ao longo de sua participação na casa, Natália relatou preconceitos já vividos pelo vitiligo e contou sobre sua vivência com a doença, que iniciou ainda na infância, aos 9 anos de idade.

Natália Deodato, participante do BBB 22, traz debate sobre vitiligo na infância
Natália Deodato teve as primeiras manchas no corpo aos 9 anos, e colabora para o debate sobre vitiligo na infância | Imagem: Divulgação Globo/Big Brother Brasil

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), estima-se que mais de 1 milhão de brasileiros manifestam essa condição, o que corresponde a 0,5% da população. Além disso, 25% dos casos surgem antes dos 10 anos. É o caso de Bianca, 6 anos, filha de Laiany Ribeiro. A mãe conta que percebeu o surgimento de algumas manchas antes da filha completar 3 anos de idade: “No início eram bem pequenas e começaram a aumentar. A coloração das manchas é bem branca e visível”, relata. 

Laiany, que possui históricos de vitiligo na família, explica que a progressão das manchas na pele da filha aconteceu de forma acelerada.“Foi algo bem rápido, elas começaram a espalhar pela perna e a crescer de uma forma rápida. Na minha família, minha avó paterna tinha vitiligo e, dos 13 filhos, o meu pai é o único filho que tem o vitiligo.”

Causas incluem fatores genéticos e emocionais

Luann Lôbo, médico dermatologista pós-graduado em Dermatologia Clínica, Cirúrgica e Cosmiátrica, explica que o vitiligo é um transtorno cutâneo no qual existem fatores genéticos de propensão, e gatilhos ambientais. “Exemplos desses gatilhos do ambiente são transtornos psicológicos e emocionais, como traumas familiares, estresse e depressão”, diz Lôbo.

O dermatologista pontua que, de forma geral, o vitiligo, em média, aparece por volta dos vinte anos, mas também acontece durante a infância. “Quando analisamos o vitiligo que se inicia na infância, a maioria dos pacientes abre o quadro entre os 6 a 10 anos. Costuma ser raro antes dos 2 anos de idade.” 

Dr Luann Lôbo, médico dermatologista e titulado como especialista pela Associação Médica Brasileira
Luann Lôbo, médico dermatologista | Imagem: divulgação

Além disso, o vitiligo pode ser desencadeado por problemas no sistema imunológico, o que traz também a necessidade de se avaliar a presença de outros transtornos além do vitiligo, explica Luann: “Quando diagnosticamos um paciente com vitiligo, além de avaliarmos as manchas, é importante pesquisar outros possíveis transtornos autoimunes associados ao quadro, como transtornos da tireoide, por exemplo, além do cuidado no manejo psicológico e emocional deste paciente”.

Pela conexão do vitiligo com o quadro psicológico do paciente, Luciana Passoni ressalta que, no caso do vitiligo na infância, o ambiente em que a criança vive pode impactar no aparecimento do vitiligo. Logo, garantir um desenvolvimento emocional saudável é fundamental. “Manter a criança e o adolescente num ambiente equilibrado e saudável é muito importante”, pontua.

Existe tratamento para o vitiligo na infância?

Apesar de não existir cura para o vitiligo na infância, adolescência ou fase adulta, a doença possui tratamentos que podem amenizar as manchas, além de outros cuidados que ajudam no cuidado com a pele sem pigmentação. “Assim que surgir manchas esbranquiçadas, com ou sem sintomas como ardor, sensibilidade e coceira nas crianças ou adolescentes, os pais e responsáveis devem procurar imediatamente um médico dermatologista de confiança para uma avaliação”, pontua a especialista Luciana Passoni.

Dra Luciana Passoni, especialista em clínica médica e dermatologia
Luciana Passoni, especialista em clínica médica e dermatologia | Imagem: divulgação

Luann Lôbo explica que esse acompanhamento com um profissional é importante para avaliar qual a melhor forma de tratar a pele com vitiligo, em cada caso. “Existem diversas maneiras de abordar terapeuticamente a pele com vitiligo. A melhor forma de cuidar da pele do portador dependerá do quadro clínico em questão, pois existem alguns subtipos do vitiligo, e que demandam diferentes abordagens terapêuticas”, afirma o médico.

Tipos de vitiligo 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, quando o vitiligo é diagnosticado, pode ser classificado como:

  • Segmentar ou Unilateral: é o mais comum em crianças, e se manifesta em apenas uma parte do corpo, normalmente quando o paciente ainda é jovem. Pode afetar a coloração de pelos e cabelos.
  • Não segmentar ou Bilateral: manifesta-se nos dois lados do corpo, por exemplo, duas mãos, dois pés e dois joelhos. A SBD explica que, em geral, as manchas surgem inicialmente em extremidades como mãos, pés, nariz e boca. Há ciclos de perda de cor e épocas em que a doença se desenvolve. Depois, há períodos de estagnação, formando ciclos que ocorrem durante toda a vida.

“Pode ser que o seu dermatologista prescreva, por exemplo, o uso de pomadas ou cremes. Pode ser que ele prescreva um tratamento chamado de Fototerapia, onde expomos a pele do paciente à radiação terapêutica. Por isso é sempre muito importante buscar um dermatologista de confiança para adequada avaliação e manejo do quadro”, completa Lôbo sobre os tratamentos para o vitiligo.

Além dos tratamentos existentes para pigmentação da pele e estabilização do quadro, cuidados com a saúde cutânea são essenciais para a criança com vitiligo. Laiany Ribeiro explica que essa foi a forma de cuidado adotada em relação à filha Bianca após o diagnóstico, que agora não se descuida com a exposição ao sol. “Nós temos muito cuidado, pois a exposição em horários inadequados pode formar queimaduras nas manchas. Mas em horários que o sol está bem fraquinho, é ótimo ela ficar no sol, pois ajuda a pigmentar a pele.”

Ela explica que, além do uso de muito protetor solar, ela e o pai de Bia decidiram por não iniciar nenhum tratamento ainda na infância. “Foi uma escolha nossa. Acredito que quando ela for maior, ela vai decidir se vai usar ou não. Até então nós trabalhamos o tempo todo na mente dela que ela é linda, e que as manchas não tornam ela diferente de ninguém.”

Bianca Ribeiro, 6 anos, foi diagnosticada com vitiligo na infância
Bianca Ribeiro, filha de Laiany, começou com as primeiras manchas do vitiligo antes dos 3 anos | Imagem: arquivo pessoal

Trabalhar o emocional na busca pela aceitação

Apesar de não ser uma doença prejudicial, contagiosa ou que cause dores na criança, Luciana Passoni ressalta que as manchas causadas pela doença podem afetar a qualidade de vida do paciente e a sua autoestima. “Essa doença costuma causar sentimentos como vergonha, ansiedade, tristeza, insegurança e desamparo, além de quadros como isolamento social e depressão”, diz. Especialmente no caso das crianças, as manchas podem ser motivo de comentários entre os colegas, deixando-a insegura em relação a si mesma.

Laiany, mãe de Bianca, conta que a filha não se incomoda com as manchas, mas nem sempre consegue escapar de situações difíceis. “Infelizmente não consigo proteger a Bia 100%, e mesmo ela sendo uma criança muito segura de si, acontecem algumas situações chatas, em que as pessoas olham com olhares tortos ou então alguma criança fala algo que deixa ela triste”, relata.

Desse modo, é muito importante que os pais e os responsáveis fiquem atentos ao comportamento das crianças. Em conjunto com os cuidados com a pele, cuidar do emocional da criança pode trazer benefícios para a saúde mental e emocional, ajudando-a com a doença. Déborah Zema, psicóloga infantil especialista em Terapia Cognitivo Comportamental na infância e adolescência ressalta que a criança com vitiligo pode ter prejuízos psicossociais na hora de se aceitar e ser aceita em seu meio social devido aos estigmas existentes em relação ao vitiligo.

 “Em muitos casos, as pessoas não sabem lidar com a diferença, pois ela assusta. Apesar da dermatose não ser contagiosa, muitos acometidos por esta afecção sofrem com a discriminação de uma sociedade leiga, que julga por sua aparência e pode influenciar negativamente na vida psicológica da criança”, pontua Zema.

Déborah Zema, psicóloga especialista em infância e adolescência
Déborah Zema, psicóloga especialista em infância e adolescência | Imagem: arquivo pessoal

Autoestima pode ser trabalhada no dia a dia

A psicóloga também comenta que, além do acompanhamento psicológico profissional, os próprios pais podem colaborar na rotina da criança para que ela não se sinta insegura ou triste pelo diagnóstico do vitiligo. Para isso, dialogar com a criança é muito importante. “É normal que uma criança com vitiligo tenha momentos de embate sobre sua autoestima. Permita que a criança se expresse sobre e ofereça o espaço para falar sobre isso. Seja sincero e dê abertura para  esses sentimentos de forma que as crianças compreendam”, diz Zema. 

Lidar com o vitiligo na infância pode ser um desafio até mesmo para os pais, como relata Laiany Ribeiro. Entretanto, compreender as causas e a vivência com o vitiligo pode colaborar para desenvolver a autoestima das crianças e afastar estereótipos em relação à doença.

“No início, quando descobri que a Bia tinha vitiligo, eu sofri muito. Não pelo fato de que ela teria as manchas, mas eu tinha medo de como as pessoas iriam tratar a minha filha. Hoje a Bia ama as manchinhas dela, qualquer pessoa que chega perto dela e pergunta o que são as manchas ela explica perfeitamente: que são manchinhas, que não pega e não doí, mas ela não pode ficar muito tempo no sol, senão fica vermelhinha”, conta Laiany.


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