Crianças e adolescentes ainda não foram incluídos no calendário de imunização contra a covid-19, devido à falta de estudos consistentes que comprovem a segurança da vacina em seu organismo. Mas é animador saber que exames preliminares feitos com esse público, em diversas partes do mundo, têm mostrado resultados positivos, ainda que exijam cautela por se tratar de testes iniciais.
Cientistas ressaltam a urgência em ampliar a população imunizada para conter a disseminação do coronavírus e as novas variantes que se mostram mais agressivas e perigosas do que as atuais. Nesse sentido, é essencial que as crianças – principalmente as maiores e os adolescentes, que tendem a transmitir o vírus da mesma forma que os adultos – possam ser incluídas nos grupos de vacinação, levando em conta que a faixa etária entre zero e 14 anos representa um quarto da população mundial.
Coronavac provoca reações adversas brandas em crianças e adolescentes
Na China, a farmacêutica Sinovac Biotech divulgou nesta segunda-feira (23) que a vacina CoronaVac é segura e capaz de provocar reações imunológicas em crianças e adolescentes, segundo resultados de testes preliminares divulgados. Foram realizados testes clínicos com mais de 500 crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos de idade que receberam duas doses médias ou baixas da vacina ou um placebo.
A Coronavac é o imunizante atualmente mais aplicado no Brasil, sendo fabricado pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Porém, testes locais em crianças e adolescentes ainda não estão previstos, de acordo com o instituto, informa reportagem da BBC Brasil.
Segundo os pesquisadores chineses, a maioria das reações adversas foi branda e os níveis de anticorpos desencadeados pela vacina CoronaVac em crianças foram maiores do que aqueles vistos em adultos de 18 a 59 anos e em pessoas idosas, de acordo com dados coletados em testes clínicos anteriores.
Tais resultados preliminares não foram publicados em revistas especializadas e/ou analisados pela comunidade científica. Até então, os testes da Sinovac no exterior, que se encontram em estágio avançado, não incluem menores de idade. A farmacêutica chinesa já forneceu 160 milhões de doses de vacina a 18 países e regiões, incluindo a própria China, e mais de 70 milhões de doses já foram aplicadas.
Israel apresenta resultados ‘animadores’ de testes com o público jovem
Cerca de 60% dos nove milhões de israelenses já foram vacinados contra a covid-19 com ao menos uma dose. A vacina aplicada no país, a da Pfizer/BioNTech, porém, não é recomendada para crianças e jovens abaixo dos 16 anos de idade e havia um certo receio de que isso dificultasse a obtenção da imunidade coletiva ainda que as crianças sejam, de modo geral, menos suscetíveis à transmissão do coronavírus.
Ainda assim, o país do Oriente Médio que é considerado o mais avançado quanto à imunização de sua população, vacinou em torno de 600 crianças e adolescentes de 12 a 16 anos que fazem parte de grupo mais vulnerável por apresentarem doenças pré-existentes. A boa notícia é que, até agora, não foi registrado nenhum efeito colateral significativo da vacina nesse público, o que o o chefe da força-tarefa de vacinação israelense, Boaz Lev, classificou como “animador”, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian.
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Outros estudos em andamento com crianças e adolescentes
No Reino Unido, o Instituto Nacional de Pesquisas em Saúde iniciou em fevereiro estudos para avaliar o desempenho da vacina da Oxford/AstraZeneca em voluntários de 6 a 17 anos.
Nos Estados Unidos, representantes da farmacêutica multinacional Pfizer, com sede em Nova Iorque, declararam à agência de notícias britânica Reuters que devem confirmar nos próximos meses a segurança da vacina para adolescentes e, até o fim de ano, terão resultados também sobre o uso da vacina em crianças mais novas.
O médico Anthony Fauci, coordenador do governo no combate ao coronavírus, tem declarado que se os resultados dos testes clínicos já em curso forem positivos, crianças e adolescentes do país poderão começar a ser vacinados em setembro, quando começa o ano escolar no continente.
Até agora, os EUA são o país que, em números absolutos, mais aplicou vacinas: foram cerca de 113 milhões de doses, ou quase dez vezes mais do que o Brasil.
Aqui no país, está sendo feito um estudo de caso em Serrana (SP) para avaliar a imunidade coletiva. Após a vacinação de toda a população adulta, será observado o comportamento do vírus na cidade e se ocorrerão infecções pelo coronavírus em crianças. Os resultados devem ser divulgados em maio, segundo o Instituto Butantan.
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No Brasil, dados mostram queda na proporção de mortes e hospitalizações do público infantil
Com a piora da pandemia no Brasil, era esperado que as novas variantes do coronavírus – mais agressivas e contagiantes – também atingissem de forma grave crianças e adolescentes. Porém, não foi o que ocorreu. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, houve queda nas mortes, hospitalizações e taxas de letalidade por covid-19 de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. A entidade usou como base dados atualizados do Ministério da Saúde analisados proporcionalmente ao longo de 2020 até março de 2021.
Por meio de nota técnica divulgada na semana passada, a SBP informou que “em 2021, até o presente momento, observamos menor proporção de hospitalizações, menor proporção de mortes e menor taxa de letalidade nas crianças e nos adolescentes de zero a 19 anos em comparação ao ano de 2020”.
Ainda assim, diante do avanço lento da vacinação nos grupos prioritários da população brasileira, é bem provável que crianças e adolescentes ainda demorem bastante para serem imunizados. O portal Monitora Covid-19, da Fiocruz, estima que se o ritmo atual de vacinação for mantido, o Brasil só conseguirá vacinar toda sua população em 2024. A lentidão, junto à baixa adesão ao distanciamento social, desperta a enorme preocupação de que o país seja hoje o ambiente ideal para a proliferação de variantes mais perigosas do coronavírus, destaca a BBC.
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