O filme ‘Red: Crescer é uma Fera’ e os desafios da puberdade

Colunistas da Canguru comentam os aspectos mais relevantes desta animação, disponível na Disney +, que aborda as dores e os desafios de ver os filhos crescendo e virando adultos

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Cena do filme
Foto: Divulgação
Buscador de educadores parentais
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A animação “Red: Crescer é uma Fera”, lançada no dia 11 de março no canal Disney +, tem recebido elogios da crítica especializada e chamado a atenção de pais e educadores pela temática abordada: a chegada da adolescência e tudo o que ela envolve. Assuntos como puberdade, autonomia, aceitação, menstruação e conflitos com os pais aparecem ao longo da história de Meilin, garota chinesa de 13 anos, que vive com a família em Toronto, no Canadá. Dividida entre continuar sendo uma filha obediente e o caos de quem está em transição entre a infância e a vida adulta, Meilin se transforma num enorme Panda Vermelho toda vez que passa por situações de emoções extremas.

Assistir ao filme com os filhos adolescentes e pré-adolescentes pode ser uma boa oportunidade para iniciar conversas sobre questões difíceis, mas que podem ajudar a estreitar vínculos em família, numa fase em que a tendência é ver os filhos se afastarem. Para inspirar os pais sobre o assunto, convidamos alguns dos colunistas da Canguru News para comentar os aspectos que acharam mais relevantes do filme. Confira a seguir.

A reprodução de padrões e a pressão da família

Para a escritora Bebel Soares, “Red” mostra o peso de tentar atender às expectativas da família e o medo de decepcionar a mãe. “Mei Lee era tudo, só não podia ser ela mesma. O filme mostra como acabamos replicando com nossos filhos a forma de maternar de nossas mães. Os padrões que se repetem, o medo do julgamento”, diz Bebel. Para ela, as cobranças acabam gerando uma desconexão entre mãe e filha, justo na fase de “pura adolescência”, em que “os hormônios estão enlouquecidos e tentamos descobrir nossa identidade”. Prática comum a várias gerações, Bebel lembra que a repressão de sentimentos fez com que muitos de nossos pais tivessem de prender o seu “panda”, deixando de sentir para cumprir um papel imposto. “Alguém é feliz assim? Quando uma pessoa consegue interromper esse ciclo, todos se libertam”, comenta a escritora.

A busca pela independência

Logo na primeira cena do filme, é visível a atmosfera de busca pela independência e vontade de fazer as próprias escolhas, tão comuns na adolescência, observa Jacqueline Vilela, escritora e fundadora do Parent Coaching Brasil. A recém adolescente Meilin acredita poder se vestir como quiser e dizer o que tiver vontade, o que, no decorrer do filme conflita com tradições familiares e regras rígidas da família. “Quanto mais rígida e autoritária for a família, mais o adolescente se sentirá sufocado na sua necessidade de explorar e enxergar o mundo com o seu próprio olhar – e menos escutado ele se sentirá”, ressalta Jacqueline, que orienta os pais a terem uma postura aberta para essa necessidade de autonomia, que será cobrada do adolescente no futuro e deve ser cultivada exatamente nesta fase.

A chegada da menstruação

A mãe de Meilin não percebe que a filha, já com 13 anos, precisava de conversas específicas sobre a menarca (primeira menstruação). Jaqueline afirma que ainda que pareça ultrapassado, muitos pais, mesmo nos dias de hoje, se mostram desconfortáveis em conversar com os filhos sobre assuntos considerados tabus, o que deixa as crianças à mercê de informações via internet. “O próprio segredo da família, que é a herança do Panda Vermelho, foi ocultado pela mãe justamente porque ela se negou a perceber que a filha havia crescido. Querer prolongar a infância para continuar com a sensação de controle traz para o adolescente o sentimento de não ser aceito. Se a adolescência chegou na sua família, se prepare para ter conversas significativas com o seu filho”, alerta a coach parental.

A relação conflituosa com a mãe

Para o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, Ming, a mãe de Meilin no filme, é a principal causa de tensão da filha. Ming é retratada como uma mãe controladora, dedicada a proteger a filha e assustada com a realidade de ter que lidar com a garota na puberdade. “Ao longo do filme, a mãe demonstra uma constante negação de emoções, o que se traduz para a filha como uma mensagem de ‘ não seja você mesma’. Você pode ver que as representações de Ming e de sua mãe (a avó de Meilin) são de pessoas autoritárias, rígidas, de cabeça erguida, postura altiva, do tipo ‘nós não podemos ser humanos mundanos, normais, que têm essas coisas como emoção”, diz Bottura.

Ele conta que, no filme, a mãe teme que a filha rompa com a tradição da educação na família. “O filme mostra que Ming foi criada por uma mãe igualmente autoritária e que sofreu conflitos semelhantes aos da filha, mas acabou “aprisionando o panda”, ou seja, aceitando manter o padrão de comportamento da família”. Segundo Bottura, a neurociência explica que a natureza humana tende a repetir padrões, mesmo que eles não nos agradem. Mas o contexto no qual a adolescente está inserida, na escola e como parte de uma sociedade mais liberal, a ajuda a escapar desse ciclo. “Isso, mesmo tendo de enfrentar um choque de culturas e vivências – ao mesmo tempo que a mãe reprime sentimentos e emoções, as amigas a apoiam e aceitam seus defeitos”, complementa o psiquiatra.

A figura positiva do pai

Para além dos exemplos do que não fazer como mãe, a postura do pai no filme merece atenção, ressalta a antropóloga Renata Pereira Lima . “Ele questiona sem colocar a filha na defensiva, e sem tirar conclusões precipitadas. Ouviu sem interrompê-la, não a criticou nem julgou e conversou com empatia”, diz Renata. Ela reproduz uma afirmação que o pai da protagonista diz no longa: “as pessoas têm diversas facetas e algumas delas são barulhentas. O ponto não é afastar as coisas ruins, mas abrir espaço para elas, viver com elas”. Para Renata, esse é “um filme sobre aceitação, imperfeição e que pode gerar boas conversas em casa”.

A importância da aceitação

Toda a luta da adolescente Meilin gira em torno de tentar abafar o que sente, para se encaixar e agradar a família. Ela acredita que precisa se afastar do panda vermelho para novamente ser aceita e, apenas depois de uma conversa com o pai, percebe que gosta também desse outro lado, que a diferencia e a torna única. “Na animação, a mãe de Meilin precisou revisitar a sua própria adolescência, que ela apagou quando decidiu mandar embora o seu panda vermelho, para se reconectar com a filha e a aceitar, sendo quem é. Um filho que se sente aceito pelos pais consegue passar melhor pelos momentos turbulentos, sem que isso prejudique sua saúde mental e emocional”, recorda Jacqueline.

Para ela, a mensagem central do filme fala sobre a necessidade de aceitarmos a adolescência com as suas alegrias e desafios. “Evite projetar os seus sonhos e frustrações nos seus filhos. É impossível não sentir compaixão pela jornada de amadurecimento de um adolescente, suas inseguranças, a construção de uma nova identidade e os conflitos e dores que tudo isso gera. Afinal, honrar os seus pais parece ótimo, mas se levar isso a sério demais, pode acabar não honrando a si mesma”, conclui.


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