Redes sociais e games em excesso afetam sono e rendimento escolar de adolescentes

Pesquisas indicam que a privação do sono interfere na aprendizagem, impactando funções do cérebro responsáveis pela linguagem, memória de trabalho, raciocínio lógico e criatividade

617
Adolescente joga videogame tarde da noite
12% a 31% dos adolescentes dormem menos que 8 horas por noite, indica pesquisa
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Os adolescentes devem dormir, em média, nove horas por dia, segundo recomendação da Academia Americana de Medicina do Sono. Um dos motivos para explicar esse tempo é a liberação do hormônio de crescimento durante o sono. Porém, no geral, os jovens não chegam a dormir tantas horas, pois tendem a ter padrões de sono vespertino – o que os deixa mais dispostos no final da tarde e começo da noite – retardando o horário de dormir. Além disso, o acesso a redes sociais, games e aplicativos de mensagens, por várias horas à noite, contribui para que não durmam cedo, o que pode causar a privação de sono, principalmente naqueles que estudam de manhã, alerta o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono.

Estudos internacionais revelam que entre 12% a 31% dos adolescentes relataram dormir menos de oito horas por noite, o que compromete o rendimento escolar. Pesquisas já mostraram que a privação do sono interfere na aprendizagem, tendo impacto nas funções do cérebro responsáveis pela linguagem, memória de trabalho, raciocínio lógico e criatividade. Também reduz o estado de alerta e prejudica a atenção, tornando o processamento cognitivo mais lento.

Evidências experimentais sugerem que os problemas de sono podem desregular as emoções e o comportamento. Estudos de restrição de sono mostraram que adolescentes que dormem pouco têm altos níveis de ansiedade, raiva, fadiga e confusão mental em comparação com aqueles que têm sono suficiente.

Existe uma relação bem estabelecida entre sono insuficiente e obesidade. Dormir pouco reduz a produção da leptina, hormônio responsável pela saciedade, que desempenha um papel importante na regulação da ingestão alimentar e no gasto energético. Por outro lado, o corpo passa a liberar mais grelina, hormônio que estimula o apetite. Esta combinação induz o consumo de alimentos que dão energia, como carboidratos e doces. 

LEIA TAMBÉM:

Jetlag social e sistema de ensino

Nos últimos anos, muitas escolas norte-americanas têm atrasado o início das aulas para reparar a incompatibilidade entre o relógio biológico de adolescentes e pré-adolescentes e os horários dos cursos matutinos. No estado da Califórnia, por exemplo, uma lei de 2019 definiu que as aulas não podem começar antes das oito horas nas escolas de Ensino Fundamental e antes das 8h30 nos estabelecimentos do Ensino Médio. 

No Brasil, as aulas começam por volta das 7h, e muitos estudantes do período matutino tiram uma soneca depois que voltam da escola. Para tentar compensar o sono insuficiente da semana, também dormem até mais tarde nos finais de semana, hábito conhecido como jetlag social. O jetlag é uma expressão em inglês para designar um distúrbio de sono temporário, que ocorre quando há falta de sincronia entre o relógio biológico do corpo e o fuso horário do local de destino de uma viagem. 

“Só que essa compensação perpetua o problema”, pondera o pediatra Gustavo Moreira. “Se o jovem dorme 10 horas no final de semana, domingo à noite ele não consegue ir para a cama cedo, porque acordou muito tarde. Então, ele dorme da meia-noite às 6 horas, vai para escola, chega em casa e tem uma soneca à tarde. É um ciclo vicioso”, argumenta.

Como mudar os hábitos de sono

Moreira acredita que, para resolver o problema de sono, o adolescente deve dormir mais cedo todos os dias. Um estudo norte-americano revelou que as regras dos pais sobre a hora de dormir são um dos fatores de proteção mais poderosos para o sono dos jovens. Evitar a ingestão de energéticos e outras bebidas estimulantes também facilita o início do sono.

O médico ainda aconselha os adolescentes a ficarem longe de celulares, tablets e computadores 1 ou 2 horas antes de dormir  para não prejudicarem o mecanismo necessário à vinda do sono. A interação nas redes sociais, os games e as conversas com amigos via aplicativos estimulam o jovem a dormir mais tarde. Os aparelhos emitem uma luz azul que inibe a produção de melatonina, o hormônio da escuridão. Por isso, momentos antes de ir para a cama, é preciso criar um ambiente relaxante e com baixa iluminação para sinalizar ao organismo que chegou a hora de desacelerar, orienta o especialista.

LEIA TAMBÉM:

Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News, sempre no último sábado do mês, no seu e-mail.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui