Por Ana Carolina Bitar* – O ambiente físico exerce um papel primordial no progresso intelectual e emocional da criança, segundo constatou a educadora e médica italiana Maria Montessori, que defendia o respeito à individualidade e autonomia no desenvolvimento das crianças.
A especialista observou que a aprendizagem da criança ocorre por meio da interação com o ambiente, onde ela absorve e replica as experiências ao seu redor. E ao repetir essas vivências, a criança constrói sua relação com o mundo, influenciando sua qualidade de vida social, moral, psicológica e cultural.
Portanto, o ambiente físico potencializa o desenvolvimento, preparando a criança para ser um adulto mais confiante e seguro, de acordo com os seguintes aspectos e características:
1. Autonomia
O ambiente deve permitir que a criança realize tarefas básicas e adquira independência em tarefas como se vestir, pegar a escova de cabelo, ler um livro, sair da cama, beber água ou lavar as mãos. Os ambientes devem ser projetados usando a criança como referência – considerando sua idade, altura e necessidades. Quando não for possível aderir à escala infantil, é importante facilitar o acesso dela com o uso de bancos, ganchos, etc. Quando a criança cuida de si mesma, ela desenvolve habilidades como as de raciocínio e resolução de problemas. Ela também aprende a cuidar do outro.
2. Setorização
No quarto infantil encontramos uma variedade de objetos de diferentes categorias como mochila, materiais escolares, brinquedos, roupa de cama, laços, escova de cabelo. A presença de tantos itens diversos pode confundir a criança, especialmente quando não há uma clareza quanto aos locais específicos de armazenamento. Para evitar isso, é essencial criar setores específicos que permitam agrupar jogos, manter carrinhos, bonecas ou bichinhos em uma mesma prateleira, ter uma gaveta apenas para itens de cabelo. Além disso, é preciso estabelecer as funções para cada região do ambiente, como o local para ler, brincar e fazer o “para casa”. A setorização, além de garantir a organização do ambiente, contribui para o aumento da capacidade de planejamento e execução da criança, além de auxiliar a lidar com diversas atividades de forma ordenada em sua vida adulta.
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3. Segurança
Além de garantir a proteção da vida da criança, um ambiente seguro também possibilita a liberdade para que ela explore o ambiente. Quando o ambiente não está seguro, a criança perde sua autonomia, pois é interrompida a todo momento para que não se machuque. Interrupções frequentes prejudicam o desenvolvimento da criança, fazendo com que ela perceba seus próprios projetos, ideias e desejos como menos importantes, já que precisa constantemente abandoná-los. Para tornar um ambiente seguro é preciso manter tomadas protegidas, armários firmemente fixados às paredes, telas em janelas, tapetes antiderrapantes e quinas protegidas. Uma criança que tem a liberdade de atuação em suas atividades sem interrupções tende a se tornar um adulto com mais atitude e convicção de suas ideias.
4. Ludicidade
Decorar o quarto com uma pintura ou papel de parede temático, almofadas de personagens ou uma cama em formato de casinha não apenas trazem identidade e autenticidade ao espaço, mas também ampliam a capacidade criativa da criança, estimulam o hábito de contar histórias e despertam curiosidade. Além disso, a ludicidade do ambiente permite que a criança se mantenha no mundo da magia, sem acelerar ou pular etapas, preservando a infância.
5. Canto livre para brincar
A criança precisa brincar de forma livre. Ter esta liberdade é importante para que desenvolva habilidades, crie suas próprias brincadeiras, aprenda a tomar decisões e se torne cada vez mais protagonista de sua própria vida. Para tanto, é primordial que haja um espaço que favoreça essa liberdade no ambiente, sem móveis, sem pufes, nem cadeiras. Um tapete pode ajudar a delimitar a região.
6. Canto da leitura
A leitura traz uma série de benefícios ao desenvolvimento infantil, trabalhando aspectos como a concentração, memória e raciocínio, estimulando a linguagem oral e ampliando a capacidade criativa. Daí a importância de pensar em um espaço dedicado aos livros, que seja facilmente acessível e esteja próximo a uma área confortável para a leitura, a qual pode incluir pufes, um tapete com almofadas, uma mesa ou até mesmo a própria cama.
7. Autoestima
O ambiente por si só já retrata uma sensação de pertencimento e acolhimento na criança. Mas quando ela tem a oportunidade de fazer escolhas, seja em relação a um tema ou cor e vê suas ideias se materializarem, ela se sente ouvida, reconhecida, compreendida e valorizada. Isso reforça a mensagem de que suas ideias são importantes e que ela tem o direito de expressar sua verdadeira identidade.
Ao levar em conta esses aspectos que fazem parte dos pilares de Montessori, saiba que com ações pontuais e auxílio profissional adequado é possível criar as condições necessárias para que a criança possa atingir seu máximo potencial de desenvolvimento, unindo segurança, senso de pertencimento e identificação, capacidade de planejamento, confiança, autonomia e autoestima.
*Ana Carolina Bitar é designer de ambientes e engenheira civil, especializada em projetos de interiores para espaços Infantis.
