‘Se colocarmos a criança no centro, tudo muda para sempre’, diz autora da biografia de Maria Montessori

Para escrever o livro, a jornalista italiana Cristina De Stefano investigou centenas de livros e cartas de Montessori

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“Se colocarmos a criança no centro, tudo muda para sempre”, diz Cristina De Stefano (foto), autora da biografia de Maria Montessori
Foto: Francesco Castaldo | blog.iodonna.it
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A jornalista italiana Cristina De Stefano investigou a vida de Maria Montessori durante cinco anos para escrever sua biografia Il Bambino è il Maestro: Vita di Maria Montessori (A criança é o professor: vida de Maria Montessori, ainda sem tradução ao português). Foram centenas de livros e cartas da médica, pedagoga e filósofa, conhecida por criar um método pedagógico que propõe maior autonomia às crianças.

Ao jornalista Adrián Cordellat, do veículo espanhol “El País”, a escritora disse que “queria descobrir se Maria Montessori era uma louca, como alguns dizem, ou uma esperta mulher de negócios, como dizem outros, uma grande alma, como repetem seus seguidores, ou muito mais do que isso”. Ela avalia que Montessori estava à frente do seu tempo e, por isso, muitos a consideravam uma maluca. “No entanto, quase tudo o que dizia (sobre o direito a um parto respeitado, a vida pré-natal, o funcionamento do cérebro infantil, a polarização da atenção) foi confirmado muitos anos depois pela ciência”, afirma a escritora.

No livro, ela relata que um dos medos da Montessori quando idosa, era o de passar para a história por ter criado um método pedagógico e um material didático, mas não pelo que considerava sua verdadeira revolução: “ter visto a criança em sua verdade, não uma criatura inferior, mas potencialidade absoluta de futuro”. Ao ser questionada quanto a como Montessori é recordada hoje – se pelo método ou pela visão revolucionária da infância, Cristina diz que a palavra Montessori é muito associada ao material, principalmente em escolas particulares, e a um método que parece ser privilegiado. “Receio que haja marketing demais, e até mesmo muitos negócios em torno do nome Montessori, que agora está em toda parte. O risco e o mais fácil é parar no material. Escutar sua mensagem revolucionária é mais complicado (e muitas vezes desconfortável para adultos, sejam pais ou professores), mas também mais emocionante. Se realmente colocamos a criança no centro, e não apenas por meio das palavras, tudo muda para sempre.”

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Segundo Cristina, mais e mais escolas públicas estão adotando o sistema Montessori. “Aqueles que argumentam que os custos são altos muitas vezes escondem sua falta de vontade para mudar radicalmente a escola. O material é caro, é verdade, mas é indestrutível e dura décadas. E depois há as aplicações Montessori em residências de idosos, em campos de refugiados, em países menos desenvolvidos. Nunca é tarde para voltar à inspiração do compromisso social que o método teve em seus primórdios.

O lado espiritua de Monotessori foi o que mais surpreendeu a escritora italiana. Ao jornal espanhol, ela disse que Maria Montessori acredita na observação científica, mas também crê no milagre, no invisível, no poder da beleza. “Esse ponto, por exemplo, me faz sentir próxima dela. Hoje, quem nos convida a criar beleza para ajudar a alma a se desenvolver é como um profeta clamando no deserto. A modernidade quase sempre parece buscar o feio como padrão. Em seus escritos, Maria Montessori sempre usava a palavra alma, sem medo; um conceito que hoje quase se tornou uma palavra amaldiçoada. E, por outro lado, não há criatura mais naturalmente espiritual do que a criança, que instintivamente sabe ouvir a sua voz interior, sabe maravilhar-se a cada momento, sabe viver perfeitamente o presente. Obviamente estou falando da criança nos seus primórdios, antes que a sociedade adulta ―a partir dessa pequena sociedade que é a família― a deforme.

Leia aqui a entrevista completa com Cristina De Stefano.

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