A maternidade sem milagres que não aparece nas redes sociais

"De tempos em tempos aparece uma moda no mundo virtual e a gente tenta se enquadrar. Me lembro das amigas todas lendo "O milagre do amanhã"", diz a escritora Sheila Trindade

319
A maternidade sem milagres que não aparece nas redes sociais; mulher segura celular e há ícones que simbolizam curtidas e seguidores de redes sociais
Nas redes sociais, todas as mães parecem perfeitas – mas não são
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Funciona como em um parque de diversões. Sabe aquela atração cheia de espelhos esquisitos que distorcem nossa imagem? Passamos em frente a um, que bela visão! Noutro já não nos achamos tão belas assim. Observamos a barriga, o pescoço esticado. E nos sentimos como em uma caricatura, que só é engraçada para quem vê de longe. Porém, a imagem real e projetada, cheia de defeitos, ninguém acha graça. E não importa o quanto isso nos magoe e nos faça mal: dia após dia, entramos nessa “sala de espelhos” e nos comparamos com as outras mulheres. É assim que eu vejo a a maternidade nas redes sociais: a comparação com as outras mães é inevitável.

De tempos em tempos aparece uma moda no mundo virtual e a gente tenta se enquadrar. Me lembro das amigas todas lendo “O milagre do amanhã”, do escritor americano Hal Elrod. Best-seller que já vendeu mais de um milhão de exemplares no Brasil, o livro se propõe a revelar “o segredo que irá transformar a sua vida antes das 8 horas”. Para tanto, tinha que acordar cedo, ler, meditar, escrever um livro, faxinar a casa e só aí dava 7 horas da manhã. Nem me atrevi a pôr em prática o tal segredo. Eu não quero transformar minha vida, eu só quero dormir 8h diárias!

Mas a comparação é inevitável, então a gente se enquadra:

– Já leu O Milagre do Amanhã, Sheila? – perguntam as amigas.

– Já sim! Maravilhoso! Transformou minha vida! – eu respondo.

Nas redes sociais é tudo visto através de uma lente cor de rosa. Lá ninguém surta com a criança jogada no chão do shopping gritando com voz de “o exorcista”. Nessas horas, eu não sei se me sento ao lado e choro, se chamo a cuidadora de bebês “Super Nanny”, os irmãos Winchester ou se compro mesmo o livro “O milagre do Amanhã” para a criança e digo algo como “Toma filho, vai transformar sua vida”.

Dia desses, ouvi de uma psicóloga que a primeira coisa que precisamos entender sobre maternidade e redes sociais é que mães mentem! Mentem quando dizem que dão conta de tudo, quando de forma arrogante dão a fórmula da maternidade perfeita, sem levar em conta que a maioria das pessoas não possui estrutura financeira ou rede de apoio. Mães mentem porque não querem ser aquela imagem projetada no espelho distorcido. Querem ser a visão boa, o padrão a ser seguido.

E a mãe que não se enquadra nesse perfil perfeito, acredita que todas as crianças são comportadas, menos a dela; pensa que todas as crianças sentam à mesa para comer legumes, menos na sua casa, em que o único ser bem alimentado é o cachorro que come do chão.

Mas não existe fórmula mágica. Aquela mãe perfeita do Instagram, apesar do que possa parecer, não é muito melhor do que você. A verdade é que sempre estamos um pouco surtadas, algumas só conseguem disfarçar melhor que as outras. E algumas, claro, leram “O milagre do Amanhã” (contém ironia).


Leia também: “A balança entre maternidade e trabalho não se equilibra nunca”, diz Lua Barros


Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News semanalmente no seu e-mail.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui