Muito se fala sobre a primeira infância, as fofurices, palavras erradas e músicas cantadas no banho. Lembro do cheirinho de suor no pescoço, os bichinhos de pelúcia com nome e a música do dente que inventei e meu filho mais velho sabia cantar direitinho. Mas ao encontrar uma amiga do tempo de escola, ela contando das suas crianças pequenas, eu só sabia exaltar o quão maravilhoso era ter filhos maiores.
— Você vai ver que legal é poder dividir boas histórias, conversar, ver filmes e enviar memes para o filho adolescente! – Afirmava, quase dando saltinhos de alegria, os olhos brilhando de felicidade ao constatar o quanto realmente é maravilhoso.
Há alguns anos, morria de medo desta fase, do temperamento explosivo, a falta de comunicação e as chances do meu primogênito entrar para alguma gangue. Na prática, até hoje de extremismo mesmo ele só quis ir à CCXP (sigla para Comic Con Experience), um caminho sem volta para os nerds. Na minha época, lembro-me das piadas sobre “aborrecência”, de me achar estúpida e fútil a maior parte do tempo. Tudo o que sentia era motivo de descrédito ou minimizado. Problemas sérios só adultos tinham. Foram anos sofrendo bullying sem contar para ninguém. Faltando às aulas por medo, quase fui reprovada por este motivo.
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Se me perguntarem uma fórmula secreta para que a conexão mãe e filho dê certo e aquele relacionamento legal que vocês construíram não desande na adolescência, a chave é a conversa franca. Mas calma! Quando falamos de conversa franca logo pensamos no cenário: eu falo, ele ouve. Porém, diálogo em que só um fala, não é diálogo. É monólogo. Aí não é legal mesmo. Conversar francamente com outra pessoa exige respeito o que é um desafio para uma geração como a minha, que cresceu ouvindo que criança não “tinha que querer” e que os pais sempre tinham razão. É difícil descontruir esse conceito de que eu, por ser a adulta da relação, sei mais e por isso tenho que falar e a criança apenas ouvir. Aqui não! Nós conversamos.
Ser adepta ao diálogo exige paciência e controle emocional. Exige poder de argumentação e senso de humor. Em alguns momentos, caros leitores, o argumento do filho é melhor do que o seu. Esta parte exige humildade. Como podem ver, não é fácil. Mas pode ser divertido também.
Dia desses, Luiza chegou chateada porque havia faltado bem no dia da eleição para representante de turma.
— Ser representante de turma é sempre se envolver em treta, Luiza. – Disse em tom de desdém tentando consolá-la.
— Mas eu gosto de me envolver em tretas.
Parou, pensou um pouquinho e voltou dizendo:
— Acho que você é representante de turma dessa casa, mãe. Você sempre está envolvida nas tretas.
Não tenho como contra-argumentar. Mas gostaria às vezes de renunciar ao cargo.