Experiências da infância são cruciais para desenvolvimento saudável

A neuropediatra Liubliana Arantes e a psicopedagoga Luciana Brites explicam por que essa etapa é tão importante para a impulsionar a atividade cerebral e potencializar os aprendizados

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Pai brinca com filho na mesa; infância é uma fase crucial para o desenvolvimento infantil
Interações com os filhos favorecem o seu aprendizado
Buscador de educadores parentais
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A infância é considerada um período crítico para a formação da criança. Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento do cérebro ocorre rapidamente e estabelece as bases que servirão de apoio para o aprendizado das habilidades cognitivas, emocionais, sociais e físicas desenvolvidas ao longo de toda a vida.

“O maior pico do desenvolvimento de um ser humano acontece na infância, entre zero a seis anos. Nessa fase, 95% da capacidade da formação cerebral já está pronta, e isso tem um impacto em todo o desenvolvimento da criança”, afirma a psicopedagoga, psicomotricista e especialista em educação especial, Luciana Brites. 

A neuropediatra Liubiana Arantes explica que o cérebro é formado desde a concepção e os primeiros 1.100 dias são um período extremamente rico para promover diferentes estímulos no bebê. “Todos nós nascemos com um número pré-estabelecido de neurônios, mas as conexões entre eles ainda são incompletas. Por isso, os adultos que cuidam da criança têm de aprender como aplicar a neurociência no dia a dia para poder aproveitar todo o potencial do cérebro de cada ser humano”, diz.

Segundo Liubiana, pesquisas já mostraram a importância do afeto e do amor dos pais e cuidadores para a criança. “A reciprocidade, a interação genuína, o olhar nos olhos para se conectar e entender a criança dentro do contexto dela é que vão permitir criar as redes neurais em um aprendizado a longo prazo”, ressalta a médica, que também é presidente do Departamento Científico de Neurodesenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Ela diz que a estrutura familiar, o carinho e a presença afetiva têm papel importante no combate de situações adversas como as de violência doméstica ou negligência dos pais. Essas situações provocam um estresse que, se muito elevado e contínuo, gera perdas de conexões cerebrais, as quais, por sua vez, podem trazer prejuízos irreversíveis ao longo de toda a vida da criança. “É fundamental pensar em estratégias para prevenção do estresse na infância e para estimular as habilidades, os dons e os talentos de cada um”, aponta Liubiana. 

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O simples que funciona

Nas interações com a criança, tudo pode virar uma grande brincadeira, desde a hora do banho à hora da comida, esclarece a psicopedagoga Luciana Brites. “Esse resgate das brincadeiras nada mais é do que você olhar para o seu filho e estabelecer uma relação que pode ter um fim ou pode não ter”. Ela dá como exemplo práticas simples, como colocar um copinho qualquer em cima de outro. “Isso faz com que a criança desenvolva a autorregulação, que é a capacidade de parar, prestar atenção, estimulando ainda outras funções hierárquicas importantes, o que mostra como resgatar coisas simples pode funcionar bem”, diz.

Para a psicopedagoga, a sociedade confunde brincadeiras com brinquedos, ignorando a importância do brincar, que permeia gerações e culturas, assim como a música e a religião, e permite aprendizados significativos para a criança. 

“Além da melhoria de vínculo, ao trabalhar a questão corporal, você desenvolve funções visuais, auditivas e principalmente motoras, levando a um maior desenvolvimento cerebral por estimular determinadas áreas. Sem falar da questão das emoções, que você também acaba desenvolvendo”, acrescenta Luciana.

Conscientizar os pais da importância da primeira infância, portanto, é essencial para assegurar que a criança possa se tornar um adulto saudável. “Os pais precisam estar presentes nesse desenvolvimento, que tem inclusive resultados intergeracionais. As crianças não têm um aumento de QI, como estudos achavam que haveria, nos anos 1960, mas os ganhos sociais, emocionais e em relação até mesmo aos cuidados que terão com os próprios filhos são inúmeros, conseguem romper linhas de pobreza”, enfatiza a psicopedagoga.  

“Se a gente quer mudar o futuro da nação, a gente tem que investir na primeira infância, construir cérebros capazes, fortes, inteligentes, com novas ideias, com projetos, com sonhos e com força de vontade  para realizar e para transformar o mundo”, conclui Liubiana.


O papel da educação parental na criação dos filhos

educação parental é uma prática exercida por profissionais certificados que buscam apoiar mães, pais e responsáveis na criação dos filhos para que estes possam se desenvolver de maneira saudável. Diferentes abordagens ‒ dentre as quais, a disciplina positiva, a parentalidade consciente, a comunicação não violenta e a neurociência ‒ são utilizadas pelos educadores parentais durante os atendimentos com as famílias para ajudá-las a criar vínculos positivos com as crianças, com suporte e estímulos adequados que promovam o desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional dos pequenos.

Profissionais de diferentes áreas atuam na educação parental, entre eles, psicólogos, pedagogos, psiquiatras, professores, terapeutas ocupacionais e pediatras, entre outros. Porém, além da formação de origem, a maioria deles faz cursos específicos voltados a esse campo de atuação.

O Clube Canguru é a maior comunidade de educação parental do Brasil. Trata-se de um espaço de troca e aprendizado, composto por profissionais que têm acesso a workshops, cursos, masterclasses e fóruns de debate, entre outros eventos. Saiba mais aqui sobre essa iniciativa da Canguru News.


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