Artistas consagrados adaptam clássicos da música para os ouvidos mirins

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    Artistas brasileiros se dedicam a fazer releituras de clássicos para apresentá-los ao público infantil; conheça alguns trabalhos

    Por Luciana Ackermann

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    Música de brinquedo: depois do sucesso da primeira edição, Pato Fu vai lançar segundo disco | Foto: Dudi Polonis

     

    Memória afetiva. Esse sentimento poderoso, profundo e universal foi um dos principais motivos para que diferentes artistas consagrados se dedicassem a releituras de clássicos, dos mais variados estilos musicais, para crianças e bebês. Zé Renato, Fernanda Takai, do Pato Fu, e Bruno Gouveia, do Biquini Cavadão, são alguns dos artistas que mergulharam nesse universo tão cheio de possibilidades e descobertas. Papais e mamães agradecem pelo empenho, afinal, eles esbanjam criatividade, qualidade e bom gosto. O Pato Fu, por exemplo, conquistou o prêmio de melhor álbum infantil no Grammy Latino, em 2011, com o disco Música de Brinquedo, que atingiu a marca de 40 mil cópias vendidas. Neste mês, a banda lança o Música de Brinquedo 2.

    Fernanda explica que dois critérios são essenciais para que a canção fique perfeita para a proposta do trabalho: “Ser muito conhecida e ter um arranjo muito conhecido também. Sabe quando escutamos um trechinho qualquer e já identificamos a música?”, diz a cantora, explicando como é feita a seleção do repertório. “Nossa escolha foi buscar esse tipo de canção pop de várias épocas e que, de alguma forma, fosse presente em nossa memória afetiva“, resume ela.

    Para dar mais graça e ludicidade ao trabalho, a banda incorporou instrumentos de brinquedo, em miniaturas, bonecos do Giramundo e um coro mirim, do qual a pequena Nina Takai participou. Entres as dificuldades, Fernanda listou dominar a pequena escala desses objetos, sem o mesmo padrão dos instrumentos normais, e lidar com suas imperfeições.

    A inspiração surgiu ainda na década de 90, quando Fernanda e seus parceiros de banda ouviram o álbum Snoopy’s Beatles. “Achamos a coisa mais bonitinha do mundo, mas naquela época o Pato Fu estava começando sua carreira, era mais interessante construir antes um repertório próprio. Quando a Nina nasceu, em 2003, voltamos a escutar o disco, mas só quando ela tinha 6 anos é que retomamos essa ideia. Como pais, a gente sentia falta de algo que tivesse a camada interessante tanto para os adultos quanto para as crianças”, relata ela, complementando: “Uma coisa a ser destacada é que não é um trabalho voltado exclusivamente ao universo infantil. Como sempre, o primeiro público era a gente mesmo, e isso foi fundamental para que pudéssemos acessar nossa plateia de costume também. Usamos o mesmo filtro de qualidade e empenho”.

    Um dos objetos mais curiosos usados no Música de Brinquedo, segundo Fernanda, foi o “drawdio”, um teremin feito com lápis e pilha, que emula um som de “motorzinho de dentista”, presente na música “Frevo Mulher”. Quanto ao novo álbum, a vocalista do Pato Fu faz suspense – é melhor esperar pelo lançamento mesmo.

    Tons mais suaves e lúdicos

    capas_rockyourbabies_divulgacao.jpg (45 KB)Outro projeto que faz o maior sucesso entre pequenos e adultos é a coleção Rock Your Babies, cujas músicas de bandas e de nomes consagrados do rock brasileiro ganham versões instrumentais caprichadas para bebês. Bruno Gouveia, um dos idealizadores, conta que esse era um desejo antigo dele, que foi deixado de lado por anos. Mas o encantamento de Carlos Coelho, guitarrista do Biquini, diante da paternidade, reacendeu a vontade, que também contou com a participação do empresário da banda, Julio Quattrucci Junior. Em 2013, os três passaram a desenvolver e esquematizar o que seria coleção: “Foi uma imersão para analisar os tipos de tons, buscando sons mais suaves e lúdicos, a escolha das músicas, os novos arranjos e pensar em como seriam as capas“, afirma Gouveia. De lá para cá, foram surgindo novos desdobramentos do projeto – um deles, prestes a ser lançado, é de animações: videolooping dos CDs. “As crianças gostam de repetição. Enquanto a música toca, animações curtinhas serão exibidas de forma contínua. São 144 vídeos, que seguem os elementos criados para as capas dos CDs feitas pelo Adolfo Castro, da Tutti Animati”, diz o vocalista, pai pela segunda vez com o nascimento de Letícia, que já está com quase 3 anos.

    Ao todo são 12 títulos, entre eles as coletâneas, que reúnem composições de diversos artistas e grupos, como Cazuza, Legião Urbana e o próprio Biquini, e as coleções, com CDs inteiros dedicados a determinadas bandas ou nomes importantes do rock: Skank, Titãs, Paralamas do Sucesso e Rita Lee, por exemplo. Gouveia destaca que há músicas para embalar o bebê nas mais diversas atividades: brincar, ninar, amamentar, dar banho. “São discos movidos pela memória afetiva dos pais, que vão mostrando aos filhos o que eles gostavam de ouvir. Pude ver como eles se sentem felizes de poder apresentar desde o berço as bandas e músicas que eles curtiram, que fizeram parte de muitos momentos da vida deles”.

    Seguindo linha parecida é a coleção para os pequenos da gravadora Coqueiro Verde traz os CDs Beatles para Bebês, Rolling Stones para Bebês, Elvis Presley para Bebês, Pink Floyd para Bebês e Madonna para Bebês.

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    Samba pras crianças: Zé Renato, Maria Rita e as crianças do coro infantil que participam do projeto | Divulgação

     

    Samba e forró

    A ligação com projetos infantis do cantor e compositor Zé Renato vem desde os anos 80, quando o grupo Boca Livre fez parte do especial A Arca de Noé, idealizado por Vinícius e Toquinho. Na ocasião, Zé Renato participou de A Casa, música que faz parte do repertório de muitos papais e mamães. Anos depois, em 2003, veio a vontade de compartilhar a gostosa vivência de sua infância. “Meus pais ouviam muito Dorival Caymmi, Zé Kéti, Silvio Caldas, que era amigo da família, e eu estava sempre ali, cercado de música brasileira de qualidade. Essa memória afetiva é muito importante para mim, não só porque sou músico, mas pela riqueza e pela diversidade cultural do Brasil. Com a música, a gente consegue conhecer melhor o nosso país. Idealizei e produzi o CD Samba pras Crianças. De forma intuitiva, reuni algumas canções que tinham conexões com os pequenos, inclusive contei com coro infantil. Muitas delas não conheciam aquelas músicas, e eu via a alegria delas ao descobrirem esse tesouro”, resume Zé Renato, pai de quatro filhos, tendo o caçula 4 anos. O CD foi lançado pela Biscoito Fino, criadora do selo Biscoitinho, que, após três anos, sugeriu que Zé Renato gravasse um álbum só de forró, com boa parte do repertório com as músicas de Jackson do Pandeiro. É o Forró pras Crianças, que também contou com coro infantil.

     

    ‘Filhos curtem porque veem os pais amando’

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    Beatles para Crianças encantam pais e filhos | Divulgação

    Em 2011, o professor de música Fabio Freire foi convidado para tocar no intervalo das aulas das crianças na escola de educação infantil onde lecionava. Sem grandes pretensões, chamou alguns amigos, e eles fizeram a apresentação com canções dos Beatles. “As crianças se divertiram, pularam, cantaram, e foi um sucesso”, conta Freire, que passou a fazer apresentações em outras escolas.

    Num belo dia, o professor e músico mandou um vídeo desses shows ao Fantástico, da Rede Globo. Acabou sendo escolhido para conhecer Paul McCartney, em 2012. “Foi maravilhoso e mágico. Tivemos alguns minutos no backstage, ele foi muito simpático, cantamos juntos Yellow Submarine. Tudo isso me motivou a continuar com o projeto”, resume ele, que chamou outro amigo que também é músico, ator e professor para formar uma banda de fato. “Gabriel (Manetti) e eu criamos um roteiro, com intervenções lúdicas e histórias entre as músicas, colocamos tudo dentro de um grande mote: ‘Primeiro show de rock’ da criançada”, conta Freire, que não parou mais. Em três anos, eles já fizeram 300 apresentações e agora, em agosto, lançam o novo show, Beatles para Crianças 2 – A Bagunça Continua!

    Pós-graduado em arte e educação e com sete CDs dedicados às crianças, com canções próprias, Freire diz que no Beatles para Crianças (BPC) há uma vertente pedagógica e que ele e Manetti continuam a dar aulas de música, mas em menor quantidade. “É uma fonte de ideias e de inspiração. Antes de sermos músicos de palco, somos educadores e nos preocupamos com cada detalhe do projeto. Pensamos em oferecer música de qualidade e boas referências às crianças e às famílias”, diz ele, que tem um filho de 5 anos que sabe todas as músicas dos Beatles de cor. “Meu filho é um ótimo experimentador das nossas ideias, sempre vê os livros e as músicas e dá seus pareceres”, afirma.

    Uma das grandes preocupações da banda é a de não se colocar como “cover”: os músicos não se vestem da mesma maneira que os ídolos, não tocam exatamente igual nem têm as mesmas atitudes e posturas da banda original. “Não somos cover dos Beatles. Tocamos as músicas respeitando a originalidade e a genialidade dos Beatles, mas colocamos um pouco a nossa mão nos arranjos. Aceleramos alguns andamentos, criamos vocais que não existem nas gravações originais e, principalmente, adaptamos as canções ao nosso show. Não somos personagens. Somos nós mesmos vivenciando algo incrível junto com as crianças e as famílias“, resume Freire.

    Também em agosto será iniciado o Projeto Escola, levando alunos a shows em saídas pedagógicas guiadas, além de espalhar por toda a rede de escolas particulares e públicas o livro de atividades dinâmicas relacionadas aos Beatles, à música e ao universo BPC.

    Nos shows, são apresentados diversos instrumentos, um pouco da história dos Beatles e relatos que têm conexão com as canções. “É pra toda a família, um círculo virtuoso. Os pais levam os filhos porque gostam, os filhos curtem porque veem os pais amando, os pais se emocionam porque percebem que os filhos amaram. Todos adoram, inclusive nós. Do palco, já nos emocionamos várias vezes”.

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