Crianças ‘super comportadas’ podem crescer inseguras ou ansiosas

Rotular os filhos pode fazer com que tenham dificuldade em lidar com os próprios defeitos e erros, alerta a psicoterapeuta Helen Mavichian

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Menina loira faz sinal de coração com as mãos
Pais devem baixar expectativas quanto a querer a perfeição dos filhos
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Por Helen Mavichian* – Os rótulos podem ser muito prejudiciais na vida de qualquer ser humano e, apesar de termos essa consciência, temos o hábito de nos rotular ‒ e fazer o mesmo com os outros ‒ desde a primeira infância. Sejam eles bons ou ruins, os rótulos podem ter consequências complicadas no desenvolvimento de uma criança. Quando, por exemplo, dizemos que ela é “perfeita” ou “super comportada”, e os pais e os responsáveis impõem que seja “a melhor”, ela pode crescer insegura e ansiosa, sempre com medo e receio de decepcioná-los e com pouca habilidade de lidar com frustrações

Ao carregar esse rótulo de ser sempre a “certinha”, ela não consegue lidar com seus próprios defeitos e erros, afinal de contas, como alguém que é perfeito pode se dar o luxo de errar em algum momento, principalmente, se isso envolve decepcionar os pais e desconstruir a visão que eles têm sobre ela e a ensinaram a ter sobre si mesma? É desafiador lidar com isso, ainda mais para uma criança que está em desenvolvimento. 

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É importante ressaltar que crianças que constantemente se sentem pressionadas a atender expectativas dos responsáveis, podem desenvolver altos níveis de ansiedade e estresse, pois não querem aborrecer seus pais e temem as consequências de não atenderem às expectativas impostas. Elas passam a associar seu valor pessoal à aprovação dos pais e ao seu desempenho seja na escola, nos esportes ou em qualquer atividade. Isso evidentemente pode resultar em uma baixa autoestima, sensação de que nunca são bons o suficiente e outras expectativas baseadas em rótulos irreais, afinal, a perfeição não existe, ainda mais quando se trata do aprendizado e desenvolvimento. 

Além disso, a pressão para ser “a melhor em tudo” pode levar as crianças a produzirem um medo profundo de falhar, o que pode torná-las relutantes em assumir riscos ou tentar coisas novas e diferentes, pois têm medo de não ter sucesso naquilo. Um ambiente em que “não se pode falhar” é extremamente opressor. Quando não é permitido errar, a criança passa a ter muita resistência em lidar com frustrações e em ser empática com as outras, porque se não tem abertura para aceitar os próprios erros e defeitos, claramente não terá muita dificuldade de ser compreensiva e resiliente aos defeitos alheios. 

As crianças podem se sentir pressionadas a atender às expectativas e ideações dos pais, em vez de agirem com base em sua própria motivação interna, afetando negativamente seu senso de identidade e autonomia. Para evitar que isso ocorra, é importante que os pais reconheçam a importância de criar um ambiente de apoio e amor incondicional para seus filhos, onde se sintam aceitos independentemente de seu desempenho, de suas notas, de suas atividades. 

Elogiar o esforço em vez do resultado final e encorajar o aprendizado por meio de tentativa e erro pode ajudar a reduzir a pressão e promover um desenvolvimento saudável, além de uma relação mais sustentável com os familiares e responsáveis. Para os pais que acreditam inconscientemente já ter imposto rótulos de perfeição sob seus filhos, é fundamental que estejam atentos aos seus comportamentos futuros, trabalhem possíveis distorções relacionadas às expectativas criadas, observem os sinais de estresse, ansiedade ou outros problemas emocionais que seus filhos possam apresentar e busquem ajuda profissional, se necessário, para garantir que as crianças tenham o apoio necessário para crescerem emocionalmente saudáveis.

Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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