O desafio de dizer ‘não’ às crianças

Para a educadora Carolina Delboni, impor limites aos filhos é essencial, principalmente quando eles desejam algo material

207
Mãe aponta dedo para filha que faz cara feia
Crianças têm dificuldade em conter os próprios desejos
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Se para os adultos é difícil ter um controle do que consumimos, para as crianças e os adolescentes pode ser ainda mais desafiador, sobretudo diante da pressão social para que tenham determinado brinquedo ou se vistam e se comportem de certa maneira e assim possam ser aceitos em seus grupos. Cabe aos pais ensinar que “ter” é diferente de “ser”, e isso passa por impor limites e falar o tão difícil e temido “não” na hora certa, lembra a educadora Carolina Delboni, especialista em comportamento adolescente.

“Há uma geração de pais que tem extrema dificuldade em dizer “não” aos filhos, em colocar limites. São pais que, por diversas razões – como frustrações, desejo de dar o que não tiveram, medo de enfrentar o próprio filho – acabam cedendo e dizendo “sim” em muitas situações do cotidiano”, diz Carolina. Como consequência, as crianças e os adolescentes crescem “sem limites materiais e, principalmente, sociais pois ganham a falsa sensação de que tudo podem, inclusive atravessar o limite do colega”, acrescenta.

Com a chegada do fim do ano e a aproximação do Natal, as ofertas dos mais variados bens de consumo ficam ainda mais em evidência, e muitos pais sofrem para fazer com que os filhos entendam o que podem ou não ganhar de presente. Não é raro nos depararmos com as clássicas cenas de pequenos fazendo escândalo no meio de uma loja porque querem que os pais comprem determinado produto.

LEIA TAMBÉM:

O brinquedo em troca de presença

Segundo Carolina, a criança sente necessidade de possuir algo de forma rápida, quer apenas saciar o desejo, o que tem uma relação muito forte com as telas e a velocidade com que estamos consumindo conteúdos. “Tudo é muito rápido, as imagens são rápidas, os produtos aparecem e desaparecem e logo lançam outra coisa mais interessante, e todo este contexto vai moldando um comportamento fugaz na criança”, diz. 

E os pais, muitas vezes, suprem os pedidos como forma de demonstrar amor, substituir presença e não frustrar o próprio filho. “Mas isso é uma bola de fogo que a qualquer momento vai explodir porque não existe espaço na sociedade para esse tipo de consumo e desejo ilimitado”, explica a especialista.

Essa atitude permissiva dos pais contribui para uma geração de crianças e adolescentes que não são capazes de esperar, de conter os próprios desejos, e não sabem lidar com o “não” – e assim vão rompendo com uma série de regras da vida em sociedade. Carolina ressalta que “para educar um filho, é preciso se autoeducar também. Ao dizer “não” para os filhos, ao dar limites para essa criança, estou fazendo a mesma coisa comigo, internamente”.

Dicas para um consumo mais consciente

Além de impor limites e dizer “não” aos filhos, a educadora sugere alguns exercícios e atitudes que podem ensinar as crianças a lidar com os desejos de compra.

O exemplo dos pais

“Como diz o bom e velho ditado, os filhos são espelhos dos pais e acabam copiando as atitudes e comportamentos dos adultos. Sendo assim, é importante dar o exemplo e evitar o consumismo em si mesmo”, diz a educadora.

Educação financeira

Outro ponto importante é falar com os filhos sobre finanças e sempre usar da transparência, explicando a diferença entre o que ele quer, e o que ele pode de fato ter ou ganhar. 

Mesada

Para crianças mais velhas, já na adolescência, pode ser interessante que os pais deem uma mesada, e ensinem como lidar com aquela quantia, criando assim um senso de responsabilidade financeira.

Passeios, brincadeiras e experiências

A troca de um bem material por experiências sensoriais e simples, também pode ser uma boa. Um piquenique no parque, uma sessão de jogos, leitura, e outras atividades do tipo podem fazer com que a criança perceba que há coisas muito mais legais do que adquirir aquele brinquedo, roupa ou eletrônico tão desejado.

Tempo de qualidade

Vale lembrar, ainda, que a presença de qualidade dos pais junto às crianças é fundamental para que elas cresçam e se desenvolvam de forma plena. Muitos adultos cismam em compensar a ausência – devido a compromissos, ritmo de trabalho acelerado, viagens profissionais etc. – com presentes materiais, o que é um erro. “Esteja mais perto do seu filho, converse, troque experiências, se interesse pelos assuntos deles e mostre que a vida é muito mais do que só adquirir e desejar bens materiais”, conclui Carolina.

Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News semanalmente no seu e-mail.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui