Não sentir, se desconectar das emoções, entrar no ‘modo avião’: isso é saudável?

Buscamos refúgio na tecnologia para distrair nossos pensamentos e nos distanciar das nossas emoções – e não raro repetimos isso com nossos filhos

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O não sentir, se desconectar do mundo e buscar refúgio nas tecnologias – como esta mulher que olha no seu smartphone – pode não ser saudável
Foto: Kev Costello / Unsplash
Buscador de educadores parentais
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Não sei você, mas eu já perdi a conta de quantos dias estamos nessa quarentena. Sei que muitas coisas têm sido intensas nesse momento e as emoções estão entre elas. Imagine que é como uma música, num volume mais alto que o confortável, e que toca sem parar. As emoções têm vindo assim, com uma frequência e um volume altos demais.

Em uma mesma manhã, somos capazes de sentir tédio, tristeza, raiva, desesperança, saudade, medo.

Uma notícia na TV, uma mensagem em um grupo de WhatsApp, a lista de pendências que não para de crescer, uma pergunta do filho que não temos resposta (Quando vamos visitar a vovó?), ou um simples comentário da filha (Estou com saudades dos meus amigos), são verdadeiros gatilhos emocionais.

Pequenas situações, coisas que passariam despercebidas há algum tempo, hoje são suficientes para desencadear inúmeras emoções. Quando estamos vivendo uma situação de vulnerabilidade, como esta, coisas que antes não ativavam as nossas emoções, hoje funcionam como um start, um gatilho. E isso é exaustivo, porque sentimos tudo intensamente o tempo todo.

Isso acontece com os adultos e com as crianças. Elas também estão mais vulneráveis e por isso você pode perceber que seu filho se irrita mais facilmente, chora com mais frequência e demanda por você o tempo inteiro. Elas também estão sentindo mais emoções, e com mais intensidade que antes.

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E como agir diante disso? O que tenho percebido, são muitos adultos tentando não sentir. Escolhem entrar em um modo de funcionamento desconectado, meio desligado das próprias emoções. Costumo chamar de “entrar em modo avião”.

Sabe quando viajamos e um pouco antes de decolar colocamos o celular no modo avião? Nesse modo, algumas funções não funcionam. É como se o celular estivesse ligado, mas desconectado de algumas coisas. De certa maneira é um jeito de estar ali e não estar.

Se colocar em modo avião tem um ganho? Claro! Poupa energia! Mas ficar assim o tempo todo pode ser perigoso. Porém, muitas vezes, é exatamente isso que tentamos fazer no nosso dia, quando as emoções ficam intensas demais. Tentamos nos desconectar, nos distrair, para não sentir.

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Isso acontece quando ficamos zapeando no celular, navegando nas nas redes sociais ou ao passar horas diante da TV. Buscamos refúgio na tecnologia para distrair nossos pensamentos e nos distanciar das nossas emoções. Fazemos com a gente e muitas vezes repetimos com nossos filhos.

As crianças estão entediadas? Você vai logo ligando a TV. Estão tristes? Deixa jogarem mais um pouco. Estão se sentido sozinhas? Pode assistir ao seu Youtuber preferido.

É uma estratégia que funciona por um tempo, pois ameniza o desconforto de sentir algumas emoções que são desagradáveis. Mas será que é saudável? Por mais desconfortável que seja sentir tédio, medo, tristeza ou saudade, não lidar com as emoções ou fingir que elas não estão ali, não nos faz sentir verdadeiramente melhores. É como sentir fome e beber água para disfarçar a fome. Sentir sono e ao invés de ir dormir mais cedo, tomar uma xícara de café. Em algum momento, aprendemos na nossa vida a ignorar algumas necessidades básicas e as nossas emoções e fomos vivendo repetindo o que aprendemos sem parar para questionar: é saudável não sentir?

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