Os efeitos perversos e duradouros da pandemia na educação

"Precisamos usar essa experiência como mola propulsora para revertermos o quadro, para melhorarmos o cenário educacional brasileiro", diz a pedagoga Iolene Lima

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Os efeitos perversos da pandemia na educação; inúmeras cadeiras coloridas apoiadas sobre meses de sala de aula
"São meses e meses sem a convivência social, sem interação, pressuposto básico da relação de aprendizagem entre sujeito, conhecimento e mediador", ressalta Iolene Lima
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Portões ainda fechados em grande parte dos estados brasileiros, corredores vazios e salas em silêncio. Esse é o cenário que persiste em se manter em todo o território nacional e em alguns países do mundo. Um quadro que não se repetia desde a Segunda Guerra Mundial, evidenciando o caos instalado por conta do coronavírus.

O panorama na área da saúde é assustador, com a segunda onda provocando recordes absurdos de contágios e mortes no Brasil, devido à variante que chegou e aumentou a estatística que já era tenebrosa. Mas existe ainda um quadro horripilante que não é medido por indicadores em tempo real: a aprendizagem das crianças e jovens num quadro de desigualdade sem tamanho. Enquanto algumas escolas de alguma forma conseguiram implementar o ensino remoto (apesar das dificuldades técnicas e de formação docente), a maioria dos alunos ainda continua desassistida. Conforme apontam pesquisas recentes, a pandemia de Covid-19 gerará perdas de aprendizagem significativas e deverá aumentar a evasão escolar e as desigualdades escolares. Uma geração de crianças e jovens tem sido afetada pelos impactos educacionais e sociais da pandemia, infelizmente os mais vulneráreis.

Os estudos sobre os efeitos da pandemia de Covid-19 na Educação, realizados em diversos países, evidenciam perdas significativas de aprendizagem, mesmo com a adoção do ensino remoto*, e prejuízos no desenvolvimento infantil**. Existem ainda outras pesquisas que apontam redução dos anos de escolaridade, perdas de rendimento futuro e queda na produtividade e no PIB dos países no longo prazo. Sentiremos a onda Covid-19 por um longo período ainda.

Na verdade, nenhuma instituição estava preparada para esse cenário de “guerra” que estamos vivendo, por melhor que estivesse equipada ou que os professores utilizassem mais tecnologia. A grande maioria dos professores não estudaram ou não estavam preparados para ensinarem à distância. São meses e meses sem a convivência social, sem interação, pressuposto básico da relação de aprendizagem entre sujeito, conhecimento e mediador.

Outro fator que precisamos analisar é a relação das famílias com as escolas. Ao terem que acompanhar a rotina de estudos de seus filhos, várias famílias perceberam a necessidade de estarem mais próximas e alinhadas com o material didático, com as metodologias adotadas pelas escolas e professores. Esse processo que ainda vivenciamos tem seus desgastes para ambos os lados. Os familiares e responsáveis se veem sobrecarregados com essa nova demanda, combinada ao trabalho em casa ou ao home office, uns cobrando a função docente da escola e outros em pânico, sem saber como atender seus filhos.

Enfim, é comprovado que as crises globais ao longo da história provocaram grandes inovações e invenções. É certo que vivemos dias complicados, tensos e tristes, mas precisamos usar essa experiência como mola propulsora para revertermos o quadro, para melhorarmos o cenário educacional brasileiro, ampliando o acesso à educação de qualidade para todos. Um país forte economicamente se faz alicerçado numa educação de qualidade, que gere competências necessárias para o século XXI: adaptação, empatia e criatividade.

Sobre os estudos citados neste artigo:
* Azevedo et al., 2020; Engzell, Frey & Verha gen, 2020; Maldonado & De Witte, 2020; Souza et al., 2020; Yarrow, Masood & Afkar, 2020.
** López Bóo, Behrman & Vazquez, 2020.


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