Com a suspensão de aulas presenciais, 70% das crianças podem ficar sem entender textos simples, diz Banco Mundial

Com o fechamento das escolas, Banco Mundial alerta sobre a pior crise educacional já vista na América Latina e Caribe

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Simulador de dispersão do coronavírus nas escolas calcula que até 46% dos alunos podem ser infectados caso escolas reabram em SP; imagem mostra sala de aula vazia
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Em relatório recém-divulgado, o Banco Mundial alerta sobre a urgência de controlar a crise educacional gerada pela pandemia em países da América Latina e Caribe. Segundo o documento, devido ao fechamento massivo de escolas de forma prolongada, cerca de 120 milhões de crianças em idade escolar perderam ou correm o risco de perder um ano letivo completo de educação presencial. Mesmo com esforços para manter o ensino de forma remota, a falta de aulas presenciais gerou graves impactos educacionais, diz o relatório (link disponível no fim do texto).

O maior prejuízo é o aumento da chamada “pobreza de aprendizagem”, que se refere ao percentual de crianças com 10 anos de idade que são incapazes de ler e entender um texto simples, cujo índice passou de 51% para 62,5%. Isso equivale a adicionar cerca de 7,6 milhões de crianças em idade escolar do ensino fundamental a essa condição de “pobreza de aprendizagem”. E caso as escolas sigam fechadas, o cenário pode piorar – se o fechamento das escolas durar 10 meses, o Banco Mundial calcula que a situação pode alcançar 71% dos estudantes. Já se durar 13 meses, pode chegar a 77%.

Segundo o relatório, a crise educacional é extremamente preocupante na América Latina e Caribe, porque os países já enfrentavam um declínio de aprendizagem anterior à pandemia e têm a maior desigualdade no acesso à educação de qualidade no mundo. O Brasil é uma das maiores preocupações da organização. O país tinha apresentado melhorias educacionais mais consistentes nos últimos anos, porém, nestes últimos meses, encontra-se com o cenário mais grave de pandemia. Estados como São Paulo, Ceará, Pernambuco e Amazonas decidiram por mais uma suspensão de atividades presenciais até que haja redução no número de mortes e contaminações por meio do coronavírus.


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“É crucial fechar rapidamente o fosso digital que persiste e aproveitar a atual crise para promover as mudanças que eram necessárias mesmo antes da pandemia”, aponta Emanuela Di Gropello, uma das principais autoras do relatório e Líder da Prática de Educação do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.

O acesso à educação deve ser inclusivo e seguro para todos

O Banco Mundial alerta que as limitações do modelo prejudicam especialmente as crianças mais pobres, que tiveram maior dificuldade para continuar estudando durante a pandemia. Em nível regional, menos de 43% das escolas primárias e menos de 62% das escolas secundárias têm acesso à Internet para fins educacionais.

O relatório calcula que a desigualdade de aprendizagem entre os estudantes mais ricos e mais pobres pode alcançar uma diferença de quase 3 anos letivos. Por isso, adverte que os governos precisam se preparar urgentemente para a reabertura segura e efetiva de suas escolas em nível nacional. É necessário investir na estrutura das instituições e valorizar os professores para que a sociedade sinta segurança com o retorno.

“Esta é a pior crise na área de educação já vista na região, e estamos preocupados que possa haver consequências graves e duradouras para toda uma geração, especialmente para os setores mais vulneráveis”, afirma Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. As políticas devem se concentrar em garantir que todas as crianças em idade escolar tenham acesso às escolas reabertas. Além disso, as instituições de ensino devem oferecer um misto de aulas presenciais e remotas nas mesmas escolas, o que se tornará o “novo normal” nos próximos meses. Dessa forma, poderão garantir uma educação segura, acessível e efetiva.


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Prejuízos a longo prazo

O Banco Mundial relata que, sem ações imediatas para amenizar os prejuízos educacionais, as consequências serão graves e duradouras, inclusive para a economia da região. As perdas de aprendizagem e produtividade da geração afetada pela suspensão das aulas presenciais podem levar a um declínio no potencial de ganhos agregados de US $1,7 trilhão.

O fechamento das escolas tem fortes impactos na saúde física, mental e emocional dos estudantes. Há possibilidade de aumento do abandono escolar em pelo menos 15% devido à pandemia. Além disso, também foram interrompidos diversos serviços que muitas crianças recebem nas escolas, incluindo refeições para 10 milhões de estudantes

No longo prazo, o objetivo é criar sistemas educacionais mais inclusivos, eficazes e resilientes. Diversos países da América Latina apresentam programas que poderiam ser institucionalizados e replicados em outras entidades da região. Um exemplo são os sistemas de alerta precoce que ajudam a identificar os estudantes em risco de abandono escolar implementados no Peru, na Guatemala e no Chile. Da mesma forma, o gerenciamento da educação e os sistemas de informação estão apresentando resultados promissores na Colômbia e no Uruguai. Também, as tecnologias de aprendizagem adaptativa usadas no Equador e na República Dominicana ajudaram a oferecer instrução nos níveis certos.

Acesso o relatório na íntegra: Agir agora para proteger o capital humano de nossas crianças: Os custos e a resposta ao impacto da pandemia da covid-19 no setor de educação na América Latina e no Caribe.


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