Como fica a cabeça dos pequenos nesse vai-não-vai das aulas presenciais?

Se para os adultos é difícil lidar com as frequentes mudanças nas regras de distanciamento social, com os pequenos não é diferente

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Como fica a cabeça das crianças nesse vai-não-vai das aulas presenciais?; menina toca bochechas com as mãos puxando olhos para baixo
Especialistas orientam os pais a conversar com os filhos sobre o que está acontecendo, dando informações condizentes com a idade da criança
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2020 foi um ano difícil para as crianças, que tiveram de ficar em casa, sem escola nem amigos, sendo obrigados a se adaptar ao ensino remoto e a todas as limitações impostas pelo isolamento social. O início de 2021 parecia mais animador. Os pequenos aos poucos retomavam as aulas presenciais, no caso das famílias que optaram por isso, podendo reencontrar amigos e professores e se exercitar com as atividades físicas da escola.

Com a piora da pandemia em grande parte do país, porém, os planos mudaram. Em cidades como São Paulo, a prefeitura anunciou que as aulas terão de ser suspensas nas escolas públicas e privadas, para minimizar ao máximo a circulação de pessoas na rua e assim reduzir a transmissão da covid-19.

As crianças, portanto, terão de voltar para casa, assistir às aulas online e ver os amiguinhos pela tela. Se para os adultos é difícil lidar com essas mudanças, para os pequenos não é diferente. Mesmo aqueles que sequer saíram de casa e seguiam no ensino remoto, difícil não ser impactado com o clima pesado deste momento.

“É difícil para a criança este momento. Ela precisa ter uma adaptabilidade maior para lidar com essa instabilidade. Algumas podem ficar ansiosas, inseguras ou preocupadas com essa nova realidade que muda constantemente. Outras podem ter medo, pois abrir e fechar escolas significa: é seguro, agora não é mais. E isso confunde a criança”, relata a psicóloga Patrícia Nolêto, especialista em terapia cognitivo comportamental, de Belo Horizonte.

Ela comenta que há também a questão da rotina, que tem regras diferentes em cada cenário – escola e casa. Mas avalia que por mais que tenha sido curto o tempo de aulas presenciais, é uma experiência positiva. “Ficar por um tempo funcionando e depois fechar é melhor que não abrir. Agora, porém, precisamos pensar que provavelmente o ano de 2021 seguirá assim por mais um bom tempo. As escolas vão abrir e fechar algumas vezes e nós e as crianças precisaremos ter habilidades para lidar com isso”, afirma.

“Algumas crianças podem ficar ansiosas, inseguras ou preocupadas com essa nova realidade que muda constantemente. Outras podem ter medo, pois abrir e fechar escolas significa: é seguro, agora não é mais. E isso confunde a criança”, diz a psicóloga Patrícia Nolêto.

Cristiane Rayes, psicóloga clínica e educacional, de São Paulo, coautora de “Autoestima de A a Z”, diz que, com a volta às aulas, as crianças estavam mais motivadas, entusiasmadas e reaprendendo regras de convivência, como emprestar algo ao amigo, esperar a vez de falar e ouvir. “O fechamento das escolas, porém, deixa as crianças tristes, elas querem saber o que está acontecendo e cabe aos pais explicar tudo novamente, que há muitas pessoas adoecendo e que pelo cuidado e respeito aos outros, temos de voltar para casa, sempre com a cautela de não gerar medo nem preocupação excessiva na cabeça da criança”, orienta. 

Cristiane diz perceber, no atendimento em seu consultório, os pais cada vez mais irritados e estressados, observando até um aumento de casos de depressão. “No começo, os pais criavam atividades para os filhos, faziam uma rotina, mas hoje estamos todos esgotados de estar dentro de casa e querendo, como a gente fala, nossa vida de volta, principalmente, as crianças que têm uma necessidade maior de socialização.”

A psicóloga paulista destaca que os pequenos precisam de rotina, daí a dificuldade em lidar com tantas novidades em tão pouco tempo. “A incerteza de quando voltarão para escola é um grande desafio, mas ao mesmo tempo é uma forma de ensinar às crianças a lidar com a frustração e a ter responsabilidade social e ser resiliente”, pontua.

“A incerteza de quando voltarão para escola é um grande desafio, mas ao mesmo tempo é uma forma de ensinar às crianças a lidar com a frustração e a ter responsabilidade social e ser resiliente”, diz a psicóloga Cristiane Rayes.

Cuidar de si primeiro – Daniela Silvares, psicóloga e terapeuta da criança interior, do Rio de Janeiro, lembra que as crianças têm naturalmente uma postura mais flexível e maleável diante da vida. “Elas possuem uma capacidade criativa e adaptativa, que pode ajudar muito nesse processo”, relata. Ela diz ser importante a criança sentir que os adultos responsáveis por ela (os pais ou cuidadores) estão seguros em relação aos desafios apresentados. “Os adultos têm de cuidar não só das angústias e frustrações do filho, mas das suas também. Cuidar das suas emoções e seus medos para que possam ajudar as crianças em seus processos.”

Daniela lembra ainda que a presença dos pais em casa é muito benéfica aos pequenos. “Embora as crianças sintam falta da troca com outras crianças, elas se nutrem profundamente da presença dos pais, especialmente as crianças menores”. A família, diz pode e deve ser um espaço acolhedor para essa criança, gerando nela a confiança necessária para lidar com a realidade apresentada, a segurança de que não está sozinha.

A seguir, as psicólogas listam uma série de atitudes que podem ajudar as crianças a lidar melhor com esta situação da pandemia.

“Embora as crianças sintam falta da troca com outras crianças, elas se nutrem profundamente da presença dos pais, especialmente as crianças menores”, declara a psicóloga Daniela Silvares.


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Como ajudar as crianças a enfrentar o novo isolamento

  • Atenção ao excesso de cobrançasEnvolver as crianças nas demandas da casa e fazer com que assumam compromissos coerentes com sua faixa etária favorece a formação de noções de responsabilidade, cuidado e autonomia, entre outras habilidades. Aos 3 anos, por exemplo, elas podem ajudar a organizar os brinquedos, aos 4 ou 5, arrumar o quarto. Mas, ao ficar juntos em tempo integral dentro de casa, pais têm que tomar cuidado para não se exceder na cobrança de tarefas, o que pode causar estresse nos filhos.
  • Incentive a expressão dos sentimentos – É essencial permitir que a criança expresse seus sentimentos da sua forma e do seu jeito, pois isso a ajuda a lidar melhor com possíveis medos e angústias que esteja enfrentando. “É importante observar se a criança está em sofrimento, que nem sempre será verbalizado, mas pode ser manifestado através de comportamentos, doenças ou sintomas”, explica Daniela.
  • Conecte-se com seu filho – Estar disponível para a criança, não só fisicamente, mas emocionalmente, permite manter uma conexão para atravessar juntos esse período desafiador. “O primeiro passo é conversar como as crianças sentem este momento. Essa é uma maneira de nutrir internamente a esperança de que tudo vai passar e de fazer com que a criança saiba que poderá sempre contar com os pais/cuidadores”, recomenda Patrícia.
  • Fale sobre a pandemia – As crianças têm o direito de saber o que está acontecendo. Os pais devem explicar a situação, trazendo informações de acordo à idade do filho. “É fundamental falar também qual é a nossa parte na história, o que podemos fazer para ajudar. Isso dá muito sentido de responsabilidade para as crianças”, diz Cristiane. Filtrar notícias que possam provocar ainda mais medo e insegurança aos pequenos também é necessário. “Devemos compartilhar a realidade de uma forma mais lúdica, observando a necessidade de nos cuidarmos e protegermos. Mas sem apresentar à criança um peso que não deve pertencer ao seu universo”, recomenda Daniela.
  • Faça uma previsão realista da situação – “Temos de explicar aos filhos que funcionaremos assim por um tempo. Em 2020 as escolas ficaram fechadas, em 2021, elas poderão funcionar em alguns momentos e devemos aproveitar ao máximo quando isso acontecer”, observa a psicóloga mineira.
  • Dedique um tempo a atividades com a criança – Apesar de estarem todos juntos em casa, com as atribuições do dia a dia nem sempre os pais conseguem fazer algo com as crianças. Porém, garantir um tempo de diversão em família é essencial para que a criança se sinta acolhida e tenha boas recordações desses momentos, recomenda Cristiane. Vale assistir a um filme, escolher um jogo ou qualquer outra atividade que seja prazerosa para todos.
  • Estimule a socialização – As crianças sentem falta de brincar e interagir com outras crianças, por isso, nem que seja por videoconferência, é válido incentivar que falem com os primos, amigos da sala ou vizinhança.
  • Cuidado com a sobrecarga de estímulos – Os pais, às vezes, criam muitos estímulos para as crianças em casa, o que não é saudável. Atividades mais agitadas devem ser intercaladas com outras mais calmas – e as telas usadas com moderação, se possível.
  • Fique atento ao ambiente familiar – “As crianças têm grande capacidade de adaptação diante de dificuldades, mas cabe aos adultos deixar o ambiente mais leve para passar por essa fase com um pouco mais de tranquilidade”, ressalta a psicóloga de São Paulo.
  • Garanta rotinas diferentes para cada cenário – Uma será usada quando a escola tiver aberta e a outra quando a escola estiver fechada. “Faça de um jeito que a criança participe na construção dessa rotina. Colem figuras, façam cartazes, usem cores. Combinem um lugar da casa para fixar a rotina e avise que vocês colocaram lá a rotina que estiver valendo naquele momento”, orienta Patrícia. Ela diz que mesmo que a escola fique fechada por apenas um mês, para criança é muito organizador saber o que esperar e como as coisas vão funcionar naquele momento.

Leia também: Pandemia pode afetar uma geração inteira de crianças, alerta Unicef


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