Como as crianças “enxergam” o coronavírus?

Por meio de desenhos, pesquisa da Academia Americana de Pediatria busca compreender e avaliar as interpretações dos pequenos sobre a covid-19

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Crianças têm uma percepção relativamente precisa sobre o coronavírus, diz estudo; desenhos representando o coronavírus feitos por crianças
desenhos representando o coronavírus feitos por crianças/ Imagem: Academia Americana de Pediatria/ Divulgação
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Já parou para pensar em como as crianças imaginam o coronavírus? A doença é assunto recorrente no cotidiano delas, mas não é algo que conseguem ver. Por isso, utilizam da sua imaginação e criatividade para criar uma imagem do que seja o vírus e a doença. Com o objetivo de compreender e avaliar as interpretações dos pequenos sobre a pandemia da covid-19, pediatras franceses conduziram um estudo sobre o assunto, publicado pela a Academia Americana de Pediatria (AAD), fundação estadunidense que trabalha em prol da saúde da população infantil. Para expressar seu ponto de vista, as crianças foram convidadas a desenhar o coronavírus. O resultado foi surpreendente.

Desenhar a covid-19 pode ser uma forma de ajudar as crianças a conceituar melhor o vírus e, assim, ter menos medo dele, concluíram os pesquisadores. Inclusive, o estudo sugeriu que os pediatras poderiam usar os desenhos como ponto de partida para discutir a pandemia e seus efeitos sobre as crianças. Futuramente, a pesquisa pode servir como base para outros trabalhos que busquem avaliar melhor as consequências psicológicas da pandemia sobre as crianças.

Metodologia a partir de imagens 

A pesquisa envolveu 103 franceses, de 5 a 17 anos, agrupados de acordo com a idade, gênero, ocupação dos pais, modo de recrutamento e lembrança de ter visto anteriormente uma representação da covid-19. Primeiramente, as crianças fizeram um desenho de como imaginavam ser um coronavírus. Segundo o estudo, o desenho pode ser utilizado como uma ferramenta investigativa, já que é considerado a maneira mais fundamental de expressão humana e pode ser usado para explorar conceitos e experiências, assim como promover a auto-análise e o diálogo. A partir das ilustrações, seria possível entender se as crianças visualizam o vírus de forma precisa ou de forma fantasiosa e mítica. Isso permitiria que o estudo compreendesse o conhecimento que as crianças têm em relação ao coronavírus. Ao terminar, elas poderiam comentar sobre a sua ilustração.


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Na segunda etapa do estudo, foi mostrada uma série de 16 imagens simultaneamente e as crianças deveriam indicar quais correspondiam ao coronavírus, fazendo um círculo em volta, e dizer quais não eram o vírus, fazendo um X em cima. Entre as imagens que representam o coronavírus estavam uma ilustração em 3D  divulgada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e até um desenho animado verde de uma partícula de coronavírus com características humanas. As outras imagens apresentavam animais, como um morcego marrom, e representações de outros vírus, escolhidos a partir da sua semelhança em relação ao formato da covid-19 ou porque tinham algum outro fator em comum. Por último, as crianças deram suas opiniões sobre o questionário. 

Para evitar interações entre os pequenos e garantir que as respostas eram autênticas, os testes foram conduzidos em uma área privada, portanto, elas não conseguiram conversar ou ver os desenhos dos outros participantes. 

Percepção relativamente verossímil

A partir dos resultados, o estudo mostrou que essas crianças tiveram uma percepção relativamente precisa em relação ao coronavírus, avaliando tanto o desenho quanto a capacidade de identificar o vírus. Segundo a pesquisa, 70% dos participantes conseguiram identificar as imagens que representavam a covid-19, diferenciando-as de outros vírus, animais e bactérias. Esta grande quantidade de acertos pode estar relacionada com a cobertura massiva da mídia sobre a pandemia.

Apesar das ilustrações do coronavírus serem razoavelmente precisas no geral, as interpretações das crianças da estrutura em formato de coroa, que apareceram em muitos desenhos, eram imaginativas. Os pequenos justificaram que essas estruturas fazem o vírus grudar no organismo ou até podem sugar o sangue. Porém, essa hipótese não está de acordo com a representação real do coronavírus.

Os desenhos também eram coloridos e tinham um tom menos assustador do que o esperado. Com isso, é possível que as crianças tenham desenvolvido mecanismos para lidar e enfrentar o coronavírus e a pandemia.


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Características dos desenhos

Crianças têm uma percepção relativamente precisa sobre o coronavírus, diz estudo; desenhos representando o coronavírus feitos por crianças
Desenhos do coronavírus/ Imagem: Academia Americana de Pediatria/ Divulgação

A maioria dos desenhos possuía uma forma circular, aproximadamente 52% dos casos. Grande parte apresentava partículas de vírus com uma coroa, a maioria das quais tinham pontas em forma de cogumelo. Crianças mais velhas, de 8 a 13 anos, desenharam o vírus de uma forma mais complexa, envolvendo um núcleo com uma com uma dupla hélice. Também foi bastante comum a representação da covid-19 com características antropomórficas, ou seja, semelhantes aos seres humanos. Nestes desenhos, o vírus tinha um rosto, com expressões variadas, alguns tinham um sorriso, outros uma cara triste ou até amedrontadora, com dentes afiados. Além disso, as cores predominantes foram o verde e o vermelho.

Nos seus comentários, as crianças relataram que o desenho retratava o coronavírus como o “rei dos germes”, como um ser muito mal e como algo mortal. Outro fator interessante é que, em 6 casos, a covid-19 foi representada como o diabo ou como o “destruidor da Terra”, destacando os aspectos mais assustadores da pandemia.


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