Papai Pig, um paradigma contemporâneo da paternidade

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    Por João Gualberto Jr.

    PapaiPig_Peppa_2.png (107 KB)Tornar-se pai é perder a autonomia sobre o próprio relógio. Com exceção do período reservado ao trabalho propriamente dito, todos os demais são sacrificados. Reduzem-se, especialmente, as horas que antes eram para o sono e o lazer.

    Aí os pais acabam por fora sobre a última série de TV imperdível, aquele filmaço francês ou o romance do atual Nobel. Também despencam no ranking das relevâncias o futebol e a resenha de botequim.

    Admito que durante uma visita ao parquinho ou um almoço demorado e lambuzado gostaria de estar fazendo coisas minhas, aquelas de que gosto. Mas penso: “Do que poderia gostar mais do que MEU filho?” Os dilemas sobre o emprego do tempo surgem sem esforço. Melhor é aprender a se divertir com o filho e com o que ele se diverte. Do contrário, não dá.

    Eis que cai à sua vista Peppa Pig. Claro que já havia sido apresentado a ela. Não tem como fugir de um fenômeno desse tamanho. Parecia só mais um desenho tosco e infantiloide. Mas devo aprender a me divertir com meu filho, e “Peppa” entrou para o elenco das primeiras dezenas de palavras que ele aprendeu a falar direito.

    Um episódio após outro, de 5 minutos, vou memorizando os personagens. Mais um pouco, percebo os perfis e as relações. E descubro Papai Pig. Descubro a ponto de transformá-lo em pai-modelo, em paradigma contemporâneo de paternidade.

    Papai Pig é gordo, desastrado e um tanto preguiçoso. Como trabalhador e indivíduo, está longe da perfeição. E quem não? Mas, como pai da Peppa e do George, de 5 e 2 anos, encanta. Vejo que as situações em que ele se vê são iguais às minhas. Mas como reage, nem sempre: paciência e disponibilidade sempre, e uma dose de sacrifício, muitas vezes.

    Os porquinhos e a Mamãe Pig o interpelam a brincar, dar banho, consertar a bicicleta e o computador, buscar na escola, preparar o jantar, ler para dormir… Papai Pig sabe fazer tudo isso? Claro que não! Mas tenta, mesmo que se dê mal. Ele se arrisca e enfrenta a inabilidade prática que também caracteriza muitos de nós. O faça-você-mesmo (DIY) doméstico não é nosso forte, mas a urgência nos impele. A depender do resultado, regular (se muito), já dá um orgulho danado, como o que Papai Pig sente traduzindo seu esforço sem jeito no sorriso dos filhos.

    No Reino Unido, sua pátria natal, Daddy Pig é bastante analisado. Já foi criticado por renegar o perfil de autoridade e líder, aquele que sai da caverna para caçar, em síntese, por ser a “feminização da paternidade”! Mas a proposta para hoje não é justamente apagar a fronteira entre os papéis de pai e mãe (com exceção do mamá, né)?

    Impossível eleger um pai do passado para modelo presente. E a preferência pelo provedor tradicional talvez seja só relutância contra os novos tempos e suas ameaças.

    A cada interrupção de tarefa ou qualquer outro desafio de pai, uma forma de contar até 10 é: como Papai Pig reagiria? E vamos projetando o nosso melhor graças a um desenho “tosco”. Sabendo-nos imperfeitos, sim, mas docemente prontos! Oinc!

     

    João Gualberto Jr. é jornalista e cientista político
     
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