Pode chocolate, biscoito recheado e refrigerante na lancheira?

Montar uma lancheira mais prática, contando com chocolates e salgadinhos, ou gastar um pouquinho mais de tempo preparando lanches nutritivos? Especialistas comentam sobre a importância de uma alimentação mais saudável desde a infância

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Garota encarando lancheira com chocolate dentro
Chocolate na lancheira, pode?
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O aumento alarmante de casos de obesidade infantil no Brasil tem servido de gatilho para que pais e especialistas debatam sobre a importância de crianças ingerirem alimentos mais saudáveis durante o lanche escolar. Por se tratar de um hábito de consumo diário, lanches mais nutritivos podem significar uma melhora considerável na alimentação dos menores, possibilitando que adotem hábitos mais equilibrados quando adultos. 

Um estudo global realizado pela revista científica The Lancet em 2017 previa que, se os hábitos alimentares da população mundial permanecessem os mesmos, até 2022 o número de indivíduos obesos de 5 a 19 anos superaria a proporção de pessoas com baixo peso pela primeira vez na história. Infelizmente, essa previsão parece cada vez mais próxima da realidade. Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), apontam que até 2025 o número de crianças obesas no planeta deve chegar a 75 milhões. 

Em meio aos dados preocupantes, escolas buscam adotar medidas que incentivam a redução no consumo de alimentos pouco nutritivos entre crianças e adolescentes. Atualmente, diversas instituições de ensino por todo Brasil enviam cartilhas aos pais com recomendações que alertam sobre os benefícios do envio de alimentos mais saudáveis para consumo de seus filhos durante o lanche escolar. 

Segundo a psicopedagoga Ana Paula Soares de Campos, professora no curso de Pedagogia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, a restrição de alimentos pouco nutritivos no lanche escolar é uma tarefa complicada. Os alimentos mais gordurosos, como chocolates e salgadinhos, por serem frequentemente ofertados pelos pais como forma de agrado e carinho, são extremamente atrativos para as crianças. Cortá-los completamente da alimentação infantil, até mesmo por trazerem uma sensação de prazer quase instantânea, pode resultar em uma espécie de sofrimento para os menores. 

O importante papel da escola

“A escola, sendo um espaço educativo, apesar de já possuir muitas responsabilidades em relação ao desenvolvimento e aprendizagem, acaba tendo também esse papel de conscientização. Visto que temos cada vez mais crianças obesas, a escola tenta apoiar e incentivar a conscientização para uma alimentação mais saudável”, afirma Ana Paula. 

A tendência é que instituições de ensino por todo país comecem a recomendar cada vez mais a diminuição de alimentos industrializados durante o lanche escolar, é o que relata a pedagoga. “As escolas têm recebido cada vez mais crianças com patologias referentes a má alimentação, o que significa que dentro do ambiente escolar serão necessárias ainda mais ações pontuais para a conscientização e incentivo da ingestão de alimentos saudáveis.”

Por serem os principais ambientes de interação social durante a infância, onde as crianças têm contato com colegas que possuem hábitos distintos dos seus, as escolas, ao recomendarem lanches mais naturais, livres de industrialização, ajudam a trazer um benefício para todo o coletivo, relata Larissa Malandrino, nutricionista clínica. 

“Principalmente para as crianças que ficam em período integral, a escola acaba sendo um momento importante para a ingestão de nutrientes. Visando nutrir o corpo com mais comida de verdade, com menos industrializados, é muito válida a ação da escola em tentativa de conscientizar os pais”, comenta Larissa. 

Ao serem incentivados a comer de maneira mais saudável, os menores também levam seus pais a seguirem os mesmos passos. A nutricionista relata já ter se deparado com diversos pais que possuíam uma alimentação muito pobre nutricionalmente, mas que, a partir da introdução alimentar saudável de seus filhos, passaram a melhorar significativamente seus hábitos. “As pessoas hoje em dia acham que comer frutas, legumes e verduras todos os dias é um sinônimo de dieta, quando na verdade são apenas hábitos básicos de saúde. Trabalhar essa conscientização na escola, através de recomendações alimentares, pode mudar muito o hábito de algumas famílias que comem mal.”

Há, porém, pais que discordam das restrições alimentares no ambiente educacional e seguem mandando alimentos pouco nutritivos para o lanche escolar dos filhos – o que pode atrapalhar o trabalho de conscientização alimentar. Além de ser um mau exemplo, vira e mexe as crianças trocam os lanches – embora na pandemia isso foi desaconselhado – e há o risco da criança que levou algo saudável se interessar mais pelo achocolatado ou doce do amigo e passar a rejeitar sua lancheira, pedindo aos pais que mandem também esses outros alimentos.

Fornecer guias que orientem as famílias sobre o que enviar de lanche para a escola é uma maneira, portanto, de reforçar a importância de criar hábitos alimentares saudáveis desde a infância. “Alimentação saudável, para ser vista além de uma obrigação, é algo que precisa ser trabalhado na sala de aula, no dia a dia, nas famílias.”


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Discrepância de valores

Larissa levanta um importante aspecto quando se fala em comer de forma mais saudável: a discrepância de preço entre alimentos naturais e industrializados. Enquanto um quilo de batata tem custado até 8 reais, comidas pobres nutricionalmente, como por exemplo macarrão instantâneo, custam cerca de ¼ desse valor.

“É muito discrepante toda relação financeira com a alimentação. Seria muito lindo se toda população pudesse entender a importância da comida de verdade, da redução dos industrializados, mas isso começa muito antes da alimentação em si. Isso vem desde a educação financeira, educação emocional. Não adianta só impor a mudança, precisamos explicar os motivos de ela ser benéfica. Precisamos entender que não são todos que tem tempo, ou dinheiro, para que isso seja possível.”

O que dizem as mães

Segundo Ana Laura Camacho, mãe de Leonardo e Beatriz, as recomendações das escolas quanto a alimentos mais nutritivos durante o lanche escolar são benéficas para todos, de maneira que incentivam as crianças e pais a adotarem medidas saudáveis. “Os pais que aderem às recomendações e se preocupam com a alimentação de seus filhos, com certeza colaboram para uma conscientização de todos.”

Ana Laura ainda completa que, apesar de opções de lanches “de saquinho” serem mais práticos de serem separados e enviados nas lancheiras, ainda é possível preparar lanches saudáveis sem que se perca a praticidade do dia a dia. “Com certeza comprar uma coxinha, algum salgadinho de pacote ou algum outro industrializado é bem mais prático, mas com uma boa organização, preparar lanches saudáveis também pode ser prático. Eu, por exemplo, já faço compras semanalmente pensando nos lanches diários dos meus filhos, fazendo com que o preparo seja rápido.”

“Quando incentivamos os filhos a comerem coisas mais saudáveis acabamos colocando isso na rotina de casa, um ajuda o outro. As recomendações escolares são uma maneira de fazer as crianças, e também a família, abraçarem uma vida mais saudável”, é o que relata Marilydia Costa, mãe de Isadora e Lavínia. 

Marilydia, assim como Ana Laura, reforça a ideia de que implantar hábitos mais saudáveis na alimentação das crianças durante o lanche pode ser bem mais simples do que parece. “É um hábito que com organização pode ser facilmente implementado no dia a dia. Acaba se incorporando na rotina, de forma que fazemos tranquilamente.” 


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