Uma das maiores dores das mães que têm filhos com deficiência na adolescência é a solidão na qual os filhos se encontram. Ouço isso com frequência nos meus atendimentos de orientação parental. Quem tem adolescentes sabe que nessa fase é comum que eles prefiram a companhia dos amigos do que a dos pais.
Para os jovens, as relações com pessoas da mesma idade são muito importantes para a construção da identidade. Os grupos que se formam funcionam como um espaço intermediário entre a família e a sociedade (vida adulta). Um lugar onde eles deveriam se sentir acolhidos e pertencentes.
Mas quando se trata de adolescentes com deficiência, é comum que os “amigos” sumam e eles fiquem sozinhos, tristes e entediados por não ter o que fazer, com quem conversar e aonde ir.
Nesse mês eu conheci uma ONG que nasceu para resolver esse desafio e promover o acolhimento, a solidariedade, o respeito e a empatia.
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A Friendship Circle Brasil tem como missão facilitar a inclusão social de crianças e jovens com deficiência intelectual e suas famílias, engajando a sociedade na promoção da diversidade. O objetivo do programa é desenvolver atividades e vivências que possibilitem a estimulação de potencialidades tanto da criança ou jovem com deficiência, como dos jovens voluntários, pautadas pelo respeito a si próprio e aos outros, por meio de princípios éticos de justiça e cidadania.
Na prática, funciona da seguinte maneira: adolescentes sem deficiência se voluntariam e passam por uma capacitação onde são estimulados a compreender sobre como é a dinâmica e a rotina das pessoas com deficiência intelectual. Em seguida, formam-se duplas que irão visitar semanalmente a casa de algum adolescente neurodiverso a fim de conviver, brincar, jogar, conversar, tomar sorvete, praticar algum esporte… enfim, passar um tempo e estabelecer vínculos com o novo amigo ou amiga.
Eu pude escutar relatos de voluntários falando que doar um pouco do seu tempo para esse projeto fez mais bem para eles do que para os adolescentes com deficiência, pois puderam praticar o amor ao próximo e se tornaram cidadãos melhores ao conviver com a diversidade.
Assim como a Friendship Circle, a Mova-se Projeto, associação que fundei e participo como voluntária, também promove a inclusão social na área da dança. As aulas, ensaios e apresentações que misturam pessoas com e sem deficiência fazem com que o respeito à diversidade aconteça naturalmente, à medida que se estabelecem vínculos no dia a dia.
Com a convivência, se forma um circulo de amizade e os pais ficam felizes por ver o filho que tem dificuldade de socializar, recebendo carinho e atenção de um amigo ou amiga. Os participantes melhoram a autoestima, desenvolvem a comunicação e a independência da família. E os voluntários aprendem na prática noções de cidadania e respeito. Fantástico não é?
A seguir trago um relato de uma pai cujo filho que participa do programa:
“Meu filho especial sempre via os amigos do irmão vindo em casa brincar, e eu percebia que ele também gostaria que alguém viesse visitá-lo. Desde que ele começou a participar do Friendship Circle, os amigos, agora, vêm em casa. O projeto tem um peso enorme para a inclusão social. Estou muito orgulhoso do meu filho! Somos gratos a vocês por proporcionarem essa experiência de vida para nós. Acima da inteligência cognitiva, está a emocional”
Em um mundo cada vez mais individualista, iniciativas como essas voltadas para promoção da inclusão social e eliminação de barreiras, emergem como faróis de esperança. Precisamos apoiar, incentivar, divulgar e ampliar projetos como esses, pois assim estaremos contribuindo com a construção de um futuro mais inclusivo e humano, onde respeito, equidade e justiça se fazem presentes. Desejo que essas ações sirvam como inspiração para o surgimento de novas e que através da colaboração e solidariedade possamos transformar o sonho da inclusão em uma realidade para todos. O desafio é coletivo, e cada um de nós tem papel fundamental nessa jornada.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.