A volta às aulas é um período de grande expectativa para muitas famílias, mas para pais de crianças com deficiência é também uma época marcada por bastante apreensão. A preocupação com o não acolhimento dos filhos e a falsa inclusão é constante.
Essa semana postei um vídeo sobre esse tema em uma das minhas redes sociais que teve muitos compartilhamentos. Também recebi comentários de diversas partes do país. Eram mães e professoras contando histórias reais de exclusão. Levei o assunto para a comunidade mãe Leoa, grupo de mães atípicas que criei, e de novo recebi relatos de preconceito e discriminação.
Embora a educação inclusiva seja prevista em lei no Brasil – com a Constituição Federal de 1988; a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), de 2015; e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva –, ainda enfrentamos muitos desafios. Segundo a pesquisa “Situação da Pessoa com Deficiência no Brasil” (IBGE, 2021), apenas 32% das crianças com deficiência em idade escolar estão plenamente incluídas em turmas regulares, sem segregação. Na prática, as escolas muitas vezes não estão preparadas, seja por falta de recursos, formação docente ou até por resistência cultural, para promover uma verdadeira inclusão que valorize a diversidade e respeite as necessidades de cada criança.
De acordo com o médico e psicólogo austríaco Alfred Adler (1870-1937), o senso de pertencimento é uma necessidade fundamental de todo ser humano. Sentir-se aceito, valorizado e parte de um grupo é essencial para o desenvolvimento emocional e social de qualquer pessoa. Para crianças com deficiência, essa sensação é ainda mais crucial, pois frequentemente enfrentam barreiras, preconceitos e exclusões que podem impactar negativamente sua autoestima e autoconfiança. Segundo ele, crianças com deficiência inseridas em uma sociedade capacitista, podem desenvolver um senso de inferioridade, já que carregam uma carga muita pesada e tendem a se sentir inadequadas. Entretanto, se tiverem pais e professores compreensivos e encorajadores, podem romper com essa estrutura e prosperar em suas potencialidades.
No ambiente escolar, o senso de pertencimento começa com um acolhimento genuíno. Isso vai além de adaptações físicas e curriculares. É necessário criar uma cultura de respeito e empatia, onde todos – alunos, professores e pais – compreendam e valorizem as diferenças. Promover rodas de conversa, contar histórias que abordem diversidade e realizar dinâmicas que incentivem a cooperação são estratégias que fortalecem os vínculos e quebram preconceitos.
Para as famílias atípicas, é importante sempre dialogar com a escola sobre estratégias inclusivas e construir uma parceria com os professores. Esse envolvimento demonstra às crianças que elas são importantes e pertencem a uma rede de cuidado. Também sugiro que busquem estudar sobre as leis e sobre educação parental, a fim de fortalecer seus filhos, e que participem de grupos de mães.
Já para os pais de colegas, desejo que enxerguem a oportunidade de educar para inclusão como algo valioso. Ensinar sobre respeito, amizade e diversidade contribui para a construção de uma sociedade mais justa e empática.
A escola é o espaço onde muitas crianças aprendem, pela primeira vez, o que é conviver em sociedade. Garantir que cada aluno se sinta pertencente é um passo essencial para que as diferenças sejam não só aceitas, mas celebradas.