Solidão, namoros, abuso sexual e outros desafios dos adolescentes com deficiência

A educadora parental Mônica Pitanga reforça a importância dos pais dosarem os cuidados e a proteção aos filhos, de modo a garantir que ganhem autonomia

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Namoros, abuso sexual e outros desafios dos adolescentes com deficiência
Na adolescência, é comum que as pessoas com deficiência enfrentem o afastamento dos amigos, que deixam de convidá-los para as festas e programas sociais
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A adolescência pode ser um período de grande estresse e instabilidade para pais e filhos. O adolescente está aprendendo a ser um adulto e durante essa fase é normal que eles tentem se separar um pouco dos pais. Querem autonomia, independência, privacidade e acham que já sabem tudo. É nessa fase também que eles sentem a necessidade de pertencer a um grupo de referência. Para os adolescentes com deficiência, essa fase, de um modo geral, ocorre de forma semelhante à de qualquer outro jovem, sendo marcada por mudanças a nível físico, hormonal e emocional. Nos atendimentos que faço com famílias atípicas e também nas rodas de conversa que participo, escuto muitos relatos de pais preocupados com a situação dos seus filhos nessa fase.

A questão do abuso sexual se torna preocupante. As meninas menstruam e têm o corpo desenvolvido. No caso da deficiência intelectual, tanto os meninos quanto as meninas se tornam presas fáceis pois são ingênuos, confiam facilmente nas pessoas e não sabem distinguir e impor os limites.

Na deficiência física, não conseguem se defender, empurrar o agressor, correr, descrever quem foi (no caso da deficiência visual) ou até mesmo falar o que aconteceu. Outro fator é que enquanto as outras crianças crescem e vão conseguindo independência nos cuidados básicos de higiene, os adolescentes com deficiência podem precisar de ajuda para tomar banho, ir ao banheiro ou trocar de roupa, ficando mais expostos aos possíveis abusadores.

A solidão desses adolescentes com deficiência é um outro ponto que preocupa bastante os pais.

Na infância, eles relatam que os filhos conseguem ter amigos na escola, mas quando entram na adolescência, é comum que esses “amigos” se afastem e não os convidem mais para as festas e programas sociais.

É na fase dos 11 aos 14 anos que mais acontece o temido bullying ou cyberbullying.  Minha filha Luísa sofreu com isso. Quando tinha 12, 13 anos teve que mudar de escola porque estava sendo excluída por causa de sua deficiência. Muitos jovens com deficiência reclamam que são infantilizados ou vistos como assexuados pela sociedade ou até dentro da própria família. Conheço adolescentes e jovens adultos com deficiência, que tiveram dificuldade ou nunca namoraram.

E ai eu pergunto: alguma vez, você que está lendo já namorou ou namoraria alguém com deficiência?

A serie Amor no Spectro na Netflix acompanha a vida de jovens com autismo na busca por um grande amor. Atypical é uma outra serie que mostra Sam, um adolescente autista de 18 anos que está em uma jornada em busca de sua primeira namorada. Paralelo a isso, também é mostrado a rotina da família, com uma mãe superprotetora, que em vários momentos acha que o filho não vai ser capaz de se virar sozinho. Como quando ele decide morar na universidade, por exemplo.

Se existe um desafio compartilhado pela maioria das mães e dos pais atípicos, é o de encontrar a dose certa de cuidado, sem causar superproteção e, ao mesmo tempo, promover a autonomia dos filhos com deficiência. Um filme que retrata bem essa questão da superproteção é o “37 segundos” que tem a Yuma no papel principal. Ela é uma jovem japonesa de 23 anos, com paralisia cerebral e só quer ser reconhecida no seu trabalho e ter uma primeira experiência sexual. De tanto a mãe sufoca-la, ela acaba fugindo de casa.

O filme Margarita com Canudinho é outro que retrata esse tema e traz Laila, uma jovem cadeirante. Ela deixa seu país para estudar na Universidade de Nova Iorque, onde exercita sua independência e lá conhece e começa a namorar uma outra jovem com deficiência visual.

É muito importante permitir que os jovens com deficiência sejam mais autores de sua própria história, sem desconsiderar claro, as possíveis limitações físicas, cognitivas e psíquicas. Enquanto pais e cuidadores, precisamos lembrar que a tarefa de auxiliar a transição entre a infância, adolescência e vida adulta de pessoas com deficiência carrega benefícios para além do núcleo da família. É também um ganho social, já que a presença desse grupo, ocupando espaços na sociedade, ajuda no combate ao capacitismo e fortalece a inclusão e o acolhimento da pluralidade humana.


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