3 dicas que contribuem para o desenvolvimento dos filhos com deficiência 

Os pais devem incentivar a independência dos filhos, estimulando suas habilidades e competências, destaca a educadora parental Mônica Pitanga

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Menino balança menina com deficiência
Crianças e jovens com deficiência devem ser estimulados a conviver em sociedade, indo a parques, shoppings e outros espaços que sejam interessantes para eles
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Uma das maiores dificuldades dos pais de crianças com deficiência é garantir que os filhos tenham independência e autonomia. Ser autônomo é ter capacidade de tomar decisões e planejar seus objetivos enquanto a independência se refere à capacidade de fazer as atividades do dia a dia, como tomar banho, se alimentar, vestir a roupa e escovar os dentes, sem precisar de ajuda.

A conquista da autonomia é importante para o desenvolvimento físico e psicológico de qualquer pessoa e o sucesso neste processo vai depender da realidade de cada indivíduo. Quais são as limitações que a deficiência impõe ao seu filho? Em qual meio ele está inserido? Quais são as crenças que têm sido passadas para ele? Você permite que ele tente fazer as coisas sozinho ? Como lida com os erros e frustrações? A família vai desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento dessa habilidade que começa na infância.

Dentre os fatores que atrapalham a conquista da independência, está a superproteção. Nenhum pai ou mãe tem a intenção de prejudicar. Mas alguns, sem perceber, acabam projetando seus próprios medos e ansiedades nos filhos e na tentativa de evitar o sofrimento, fazem muito por eles. Outros superestimam os riscos e pensam sempre no pior que pode acontecer, mantendo os filhos dentro de uma bolha. Alguns têm a crença que a deficiência torna a pessoa incapaz de realizar algumas tarefas e a impede de tomar decisões ou ainda sentem pena dos filhos – reflexo do capacitismo. O capacitismo é a opressão e o preconceito contra as pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Ele entende que os corpos diferentes do padrão considerado “normal” são inferiores, incapazes ou dignos de pena.

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Filhos que foram superprotegidos, têm mais medo de errar; dificuldade em socializar; são mais fracos emocionalmente; podem desenvolver ansiedade e depressão, ficar com baixa autoestima e se tornarem totalmente dependentes dos outros. 

Os pais e professores que conseguem enxergar além do diagnóstico e das eventuais limitações que a deficiência impõe, que visualizam o potencial de cada criança, que acreditam nelas, fazem as adaptações necessárias e estimulam suas habilidades e competências, contribuem para formar adultos mais aptos para lidar com os problemas de forma autônoma. 

Para ajudar, eu trouxe aqui três dicas que contribuem no desenvolvimento dos filhos com deficiência: 

  • Envolva-os nas tarefas cotidianas. A independência de uma pessoa com deficiência começa nos ensinamentos básicos com os cuidados pessoais. É fundamental que ela tenha uma rotina estabelecida com as adaptações necessárias para que consiga exercer atividades como tomar banho, escovar os dentes e lavar o cabelo. Além disso, vale envolvê-la em tarefas úteis, como estender a roupa, limpar a casa, lavar a louça, cozinhar, aguar as plantas e arrumar os brinquedos. Quando conseguem realizar alguma dessas tarefas ou parte delas, as pessoas com deficiência se sentem capazes, importantes e pertencentes.
  • Estimule a busca por seus interesses e preferências. É importante deixar a criança com deficiência escolher a roupa que vai vestir, e considerar seus gostos por filmes, jogos, bandas, músicas favoritas e comidas prediletas. Em alguns casos, será necessário o uso da comunicação alternativa e aumentativa. Mesmo que ela não fale, é importante buscar recursos de comunicação para que se faça entender e consiga tomar decisões. Essa autonomia contribui para uma boa autoestima.
  • Permita que seu filho conviva em sociedade. É importante que as crianças e jovens com deficiência ocupem seu espaço. Isso significa que eles devem ir ao shopping, passear no parque, andar de transporte público, estudar, ter amigos e inclusive namorar. Todas essas atividades bem orientadas, e com o devido apoio, fazem com que eles se desenvolvam e aprendam a conviver com diferentes pessoas e situações. 

Como coloco em práticas essas dicas no dia a dia da minha família

Essa questão da independência e autonomia sempre foi uma prioridade na educação dos meus três filhos. Eu tenho a consciência de que não sou eterna e tudo que faço é pensando em capacitá-los para que consigam alçar seus voos sozinhos. 

Minha filha tem 18 anos e é uma pessoa com deficiência física. No inicio de julho, ela viajou pela primeira vez sem alguém da família. Embarcou para São Luís do Maranhão com uma amiga (moramos no Espírito Santo, a uma distancia de 2 682 km de lá). Confesso que antes dela ir, ficamos com medo. Luísa é dependente em várias tarefas do dia a dia e a sociedade capacitista nos ensinou a acreditar que pessoas como a minha filha não podem ser livres, que a dependência a coloca como uma presa fácil de relações abusivas- o que é assustador.  Mas, mesmo sabendo de todos os riscos, eu e meu marido acreditamos nela e permitimos que vivesse essa experiência. Foram 5 dias repletos de alegria e situações desafiadoras: 4 voos, viagens de ônibus, passeio de barco e jipe nos lençóis maranhenses, dois hotéis diferentes, shows, festas, almoços e jantares. Ela passou alguns perrengues mas conseguiu se virar. A viagem foi maravilhosa e nos ensinou que Luisa pode ser livre da sua maneira. E que mesmo estando acompanhada e dependendo de alguém , ela faz as suas próprias escolhas. Isso é autonomia! 

Para garantir que o filho com deficiência tenha um futuro feliz e possa fazer suas próprias escolhas assumindo o protagonismo de sua existência, para que consigam desmitificar o papel de coitadinhos que historicamente carregam, é necessário que nós pais sejamos os grandes incentivadores de sua independência, encorajando-os a se tornarem suas melhores versões.


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