‘Baby blues’ e depressão pós-parto – o impacto da pandemia e o papel do pediatra

Estamos lidando com binômios mães-bebês que nasceram num mundo de máscaras e distanciamento social, sem os familiares e a rede de apoio que é fundamental nesse momento

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Baby blues, depressão pós-parto, a pandemia e o papel do pediatra; na imagem, mãe de traços orientais amamenta o seu bebê
A mãe deve ficar atento a sinais de irritabilidade, choro frequente, sentimentos de desamparo e desesperança
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Já ouviu falar na expressão baby blues? Nos dias após o parto é comum a mulher passar por mudanças bruscas de humor, sentimentos de solidão, tristeza, uma felicidade que surge assim de repente e logo voltam os sentimentos ruins. Uma verdadeira montanha-russa emocional causada pelas mudanças no padrão hormonal, acompanhadas da nova grande responsabilidade que é cuidar de um recém-nascido. Adicione-se a isso a privação de sono que é praticamente regra nos primeiros dias pós-parto.

Essa melancolia do puerpério é normal. A maioria das mães experimenta, em maior ou menor grau, essas sensações que tendem a se iniciar nos primeiros dias após dar à luz e devem desaparecbaby blueser dentro do primeiro mês de vida do bebê.

Num contexto não pandêmico, de 10% a 15% das puérperas podem evoluir do baby blues para uma condição mais séria denominada depressão pós-parto. Atualmente, porém, esse número deve ser maior devido às condições impostas pela quarentena decorrente do aparecimento do novo coronavírus.

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Estamos lidando com binômios mães-bebês que nasceram num mundo de máscaras e distanciamento social, sem os familiares por perto, causando um prejuízo significativo na rede de apoio que é fundamental nesse momento de tantas transformações – diga-se de passagem – tão maravilhosas quanto dolorosas.

Mães, independentemente da quantidade de filhos, também são mães recém-nascidas, e merecem atenção e cuidados para que possam se dedicar ao bebê.

Mães, independentemente da quantidade de filhos, também são mães recém-nascidas, e merecem atenção e cuidados para que possam se dedicar ao bebê. Momentos de descanso, de autocuidado, de conversa sobre essa avalanche de sentimentos devem ser incentivados e todos ao redor devem estar atentos à perpetuação dos sintomas de baby blues na tentativa de identificar mais precocemente a evolução para depressão pós-parto.

Os sintomas que devem chamar atenção incluem irritabilidade, choro frequente, sentimentos de desamparo e desesperança, falta de energia e motivação, desinteresse sexual, alterações alimentares e do sono, sensação de ser incapaz de lidar com novas situações e queixas psicossomáticas. Uma mãe com depressão pós-parto pode apresentar também sintomas como dores difusas sem causa orgânica aparente.

Leia também: Depressão pós-parto: Quais são as consequências para o bebê?

E não é uma condição inócua para o bebê. Existem diversos estudos científicos que analisam aspectos do desenvolvimento infantil sob os cuidados de uma mãe deprimida e eles são convergentes em dizer que há prejuízo no desenvolvimento infantil tanto cognitivo quanto emocional e até mesmo físico.

As crianças de mães com depressão pós-parto são descritas como mais ansiosas e menos felizes. São também menos responsivas nas relações interpessoais e sua atenção é menor, quando comparadas com as crianças de mães não depressivas, mostra um estudo feito por Righetti em 2003. Estas crianças apresentam também menos sorrisos, menor interação corporal, além de maiores dificuldades alimentares e de sono. Perto de um ano, muitos desses bebês tiveram baixas pontuações em testes de desenvolvimento e altos níveis de apego inseguro com a mãe.

O papel que o pediatra desempenha durante os meses de pandemia envolve o cuidado com toda a família, individualizando tratamentos e acompanhamentos para diminuir ao máximo o impacto negativo da quarentena.

É esse o profissional de saúde que está em maior contato com a família após o nascimento de uma criança e existem ferramentas e questionários validados que auxiliam na identificação do quadro de depressão pós-parto. Diagnosticar corretamente é fundamental para bem conduzir, encaminhar e tratar adequadamente o mais breve possível essa mãe, evitando consequências em curto, médio e longo prazo para toda a família.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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