App Remini: uso de inteligência artificial para modificar imagens vai contra a diversidade

Nova moda nas redes sociais, aplicativo simula aparência de "futuros filhos" e permite modificar fotos de maneira realista; educadora parental faz um alerta para busca pela imagem perfeita, inclusive no caso de pessoas com deficiência

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A carioca Anna Kellen Bull, criadora de conteúdo digital que está grávida de gêmeos e usou o app para simular como serão os filhos
A carioca Anna Kellen Bull, criadora de conteúdo digital, está grávida de gêmeos e usou o app para simular como serão os filhos | Foto: reprodução @kellenbull
Buscador de educadores parentais
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As redes sociais estão repletas de imagens realistas que simulam mulheres grávidas e futuros bebês. Os registros são criados no Remini, aplicativo que usa inteligência artificial (IA) para fazer as simulações a partir de fotos originais enviadas pelos usuários. Pessoas que ainda não têm filhos estão usando o app para gerar imagens e ver como seria a aparência dos seus bebês. Já quem tem filhos faz a simulação para ver que aparência terão quando mais velhos. Além disso, a IA pode criar versões de noivas, pessoas musculosas e em profissões diversas ou fazendo poses em lugares diferentes. 

Eu não quis entrar nessa trend, mas vi várias fotos de pessoas com deficiência simulando como seria se tivessem um corpo sem a deficiência. Vi pessoas que são gordas ficando magras nas fotos. Vi peles do rosto sem nenhuma mancha ou ruga e pessoas de olhos castanhos trocados por olhos azuis. Além das simulações, o aplicativo oferece recursos como filtros de embelezamento ou ferramentas de edição de imagens que eliminam as “imperfeições”. 

Acho perigoso o uso desses apps, pois quando utilizados de forma exagerada podem reforçar estereótipos e promover padrões de beleza irreais e nunca alcançáveis. 

Os pais atípicos já costumam sofrer com a aceitação do diagnóstico dos filhos. Dificuldade essa que vem de uma história marcada pela tentativa de eliminação e segregação das pessoas com deficiência ‒ o que reflete o capacitismo estrutural presente na sociedade. 

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Lutamos diariamente para que nossos filhos sejam aceitos como são e para que a diversidade seja valorizada e celebrada e aí vem um app que simula mudanças nas nossas imagens e faz “previsões” da aparência que nossos filhos terão. Fico imaginando a expectativa criada e a frustração para esses pais, ao receberem um filho bem diferente daquilo que foi idealizado ou previsto.  

Sei que o uso da IA é um assunto polêmico que tem dividido opiniões, mas ela não deveria ser usada para impor um padrão único de beleza ou forma corporal, e sim para promover a inclusão e melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência. 

Quero destacar aqui que o uso da IA no campo da saúde é muito importante. Ela tem sido utilizada para desenvolver melhores diagnósticos e tratamentos para pessoas com deficiência. Também pode ajudar a melhorar a acessibilidade com o desenvolvimento de tecnologias assistivas personalizadas.

Mas temos que reconhecer que a diversidade humana é uma característica da sociedade. Corpos e aparências variam devido a fatores genéticos, culturais, étnicos e individuais. É fundamental garantir que sua aplicação seja guiada por princípios éticos e respeito às diferenças.

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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