Como escolher livros infantis que representem a diversidade

Livros de diferentes autores, gêneros e imagens, com protagonistas masculinos e femininos nas histórias - essas são algumas das dicas que especialistas dão para montar uma biblioteca que seja de fato diversa

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Menina deitada, lendo e sorrindo
Conheça alguns critérios para escolher livros para os pequenos que representem a diversidade
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Aprender a ouvir e interpretar histórias, descrever personagens, ampliar o vocabulário e estimular a imaginação. São muitos os aprendizados que as crianças adquirem enquanto leem ou ouvem alguém contar uma história. Seja qual for a idade, desenvolver o hábito da leitura é muito importante. “Estar em contato com potentes obras de literatura e interagindo com outros leitores permite às crianças elaborarem e nomearem sensações, sentimentos, conflitos e dilemas”, afirma Cristiane Tavares, coordenadora pedagógica na Comunidade Educativa CEDAC.

Ter uma biblioteca que abarque livros com uma diversidade de autores, gêneros, culturas e formatos é uma ótima maneira de incentivar desde cedo o prazer pela leitura nas crianças. Pensando nisso, a Canguru News, em parceria com especialistas, selecionou algumas dicas para ajudar a montar uma biblioteca rica em diversidade para os pequenos. Confira abaixo. 

Gêneros diversos 

De acordo com Cristiane, os livros ampliam não apenas a visão de mundo das crianças, mas também sua percepção estética, influenciando, em alguns casos, em sua formação ética. No entanto, isso não ocorre com todo e qualquer livro, simplesmente. “É preciso que sejam livros que respeitem a sensibilidade e a inteligência das crianças, oferecendo a elas experiências leitoras significativas.”

Dessa maneira, é importante que os pais garantam a seus filhos acesso a diversos gêneros literários, permitindo que busquem um certo tipo de identificação. “As crianças precisam experimentar a linguagem literária em suas mais variadas formas, para descobrirem suas preferências. Muitas vezes uma criança diz que não gosta de ler porque tem acesso a livros muito parecidos, sempre com a mesma estrutura, mesmo gênero ou temática. De repente, quando recebe algo completamente diferente, se identifica. Assim como os gêneros literários são diversos, os leitores também são. Além disso, ao terem contato com diferentes gêneros, as crianças podem aprender que, quando se trata da comunicação, a forma é tão importante quanto o conteúdo”, explica Denise Guilherme, escritora, educadora e idealizadora do Clube de Leitores A Taba. 

Diferentes matrizes culturais  

A leitura, além de um importante estímulo para a criatividade e imaginação das crianças, também é um lugar de compreensão e identificação. É importante que os pequenos entrem em contato com obras que os ajudem a entender, compreender e respeitar o mundo plural e diverso em que vivem. 

Ao entrarem em contato com personagens e narrativas diferentes das suas, as crianças trabalham sua empatia. Livros que abordem assuntos como racismo, homofobia e xenofobia são indispensáveis. “É imprescindível que o imaginário delas seja repertoriado com diferentes matrizes culturais. Se a alteridade é um dos princípios constitutivos do fazer literário, que possibilita ao leitor ser outro sem deixar de ser ele mesmo, como já disseram vários estudiosos, é fundamental que a relação da criança com a literatura seja pautada pela possibilidade de se ver nas obras que leem e também ver os outros, diferentes dela, ali representados”, completa Cristiane. 

Ilustrações

As imagens são, muitas vezes, porta de entrada para o contato das crianças com os livros, sendo a linguagem visual e a composição gráfica tão importantes quanto os textos. Vale destacar que ainda que a ilustração atraia as crianças visualmente, tornando-as mais interessadas e engajadas na leitura, existe um mito que precisa ser derrubado: “nem todo livro para crianças precisa ser colorido, visto que não há uma única técnica que agrade mais as crianças. As imagens não precisam, necessariamente, repetir o que já está dito no texto, tornando-se redundantes e literais“, ressalta a coordenadora pedagógica.

Conversas afetivas

Muitas famílias, depois que as crianças aprendem a ler, deixam de ler junto. Com isso, perde-se aos poucos a relação de afeto e proximidade que o momento de leitura em família pode trazer, enfatiza Denise Guilherme. “Na nossa visão, é preciso ler sempre junto. Independentemente da idade. Porque essa conexão promove uma associação da leitura com afeto. Isso é fundamental na formação de um leitor.” 

Ainda que pareça trivial, é de suma importância que os pais conversem com seus filhos acerca da leitura, de maneira a entender quais as preferências, gostos e desgostos dos pequenos. A troca de experiências, conversas e opiniões sobre uma mesma obra pode, além de tornar a leitura mais interessante, dar início a debates válidos e importantes para o ambiente familiar. 

“É fundamental que as crianças tenham oportunidades de conversar sobre os livros, trocando impressões com outros leitores. A interlocução é uma forma potente de aprendizagem e se aplica também para as conversas em torno do que é lido”, relata a coordenadora pedagógica. Ela complementa, que “a literatura é uma forma de expressão cultural capaz de dialogar com o que há de mais íntimo em nossas humanidades: nossos medos, dúvidas, adversidades, contradições, traumas e afetos”. 

Cantinho da leitura

O espaço em que os livros se encontram na casa também é importante e deve ser atrativo e adequado para a idade de cada criança. Ao deixar que os livros fiquem à disposição (e altura) da garotada, a interação com eles é maior, principalmente quando estão em um espaço criado especialmente para essa finalidade. Veja dicas para criar um cantinho da leitura prazeroso aos pequenos.

Outra vantagem da biblioteca em casa é que, ao pegar o livro para ler ou folhear, a criança passa menos tempo grudada nos aparelhos eletrônicos. Afinal, além de um tempo alto de exposição às telas ser prejudicial, é importante que a criatividade seja explorada de outras maneiras desde os primeiros anos de vida. Além disso, eles são capazes de auxiliar no controle dos sentimentos e das emoções, contribuindo para diminuir problemas comportamentais, como a agressividade e a hiperatividade. 

Reflita sobre os livros que vocês já têm em casa

Outra dica é olhar para os próprios livros da sua casa e se perguntar: o que falta aqui? Temos diferentes editoras e autores? Temos livros de autores negros e indígenas? Temos mais protagonistas masculinos ou femininos nas histórias que lemos? Há diferentes gêneros? As imagens são diversas? Temos poesia, HQ, contos, novelas, livros informativos? Se a resposta a alguma dessas perguntas for negativa, o caminho é começar a buscar o que falta. Ir atrás de outras referências é fundamental para a educação do olhar.

“Os pais devem buscar livros que tenham uma linguagem elaborada, bom trabalho com as imagens. Um bom livro infantil pode ser a primeira galeria de arte da criança. Livros que não subestimem a inteligência das crianças e que façam pensar: seja pelo riso, seja pela introspecção, pela provocação… que fujam do lugar comum. Que não tenham uma visão moralista e estereotipada da vida. Que não dêem respostas fáceis para perguntas difíceis. Livros que veem a criança como um ser potente, capaz de olhar para a vida com os olhos de quem pergunta”, finaliza Denise. 


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