‘A disciplina positiva estimula as crianças a aprenderem com os seus erros’

As terapeutas Mary e Jane Nelsen, mãe e filha, falam sobre formas respeitosas de lidar com os filhos para conseguir maior cooperação

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Jane Nelsen (na tela), a filha Mary (de preto) e Bete Rodrigues falam sobre disciplina positiva durante apresentanção no congresso
Jane Nelsen (na tela), a filha Mary (de preto) e a trainer em disciplina positiva Bete Rodrigues, que intermediou a palestra
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“Eu já cometi erros como mãe e como profissional. Todo mundo comete erros, não existe a mãe ou o pai perfeito. E isso é um lembrete para que não esqueçamos que aprendemos no caminho”, disse a terapeuta de casais e família americana, Mary Nelsen, em uma das palestras mais esperadas do 4° Congresso Internacional de Educação Parental. Mary se apresentou de forma presencial no evento, junto com a mãe, a também terapeuta Jane Nelsen, criadora da disciplina positiva e coautora de 18 livros sobre o tema, que pela idade, 86 anos, e questões de saúde, decidiu participar online. 

Elas explicaram as origens da disciplina positiva, abordagem socioemocional baseada no trabalho do psicólogo Alfred Adler e do psiquiatra e educador Rudolf Dreikurs, ambos austríacos, que buscavam encorajar as crianças a tornarem-se pessoas responsáveis, respeitosas e cooperativas por meio de uma educação firme e gentil. 

Mary também explicou que a disciplina positiva é contra qualquer tipo de humilhação, culpa, vergonha ou dor às crianças, os quais podem surgir a partir da punição, prática ainda comum para muitas famílias. “A punição leva à conformidade ou rebeldia e remete a pagar algo feito. A disciplina positiva estimula as crianças a aprenderem com os seus erros.”

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Elas apresentaram os sentimentos provocados na criança pela punição, num esquema que chamam de 4 “Rs” da punição:

Ressentimento ‒ Isso não é justo.
Retaliação ‒ Eles estão ganhando agora, mas vou me vingar.
Rebeldia ‒ Vou fazer exatamente o contrário para provar que não tenho que fazer do jeito deles.
Recuo ‒ Redução da autoestima: sou uma pessoa ruim. Dissimulação: eu não vou ser pego da próxima vez.

E citaram a célebre frase de Jane Nelsen: 

“Quem disse que para as crianças serem melhores, elas devem se sentir piores primeiro?”

Pelo contrário, as crianças fazem melhor quando se sentem melhor. “Você tem que chegar no coração primeiro”, apontou Mary. Para ela, os desafios de comportamento são uma oportunidade para ensinar características que desejamos que os filhos desenvolvam no futuro.

A terapeuta comentou que já deu palestras com a mãe por todo o mundo, em lugares como China, Índia, Europa e Austrália, e por mais diferentes que sejam os costumes e as culturas, as habilidades que mães e pais querem que os filhos desenvolvam são sempre as mesmas: autodisciplina, responsabilidade, comunicação, ser cooperativo e honesto, por exemplo. E as queixas também se parecem. As famílias reclamam que os filhos não ouvem, retrucam o que os pais dizem, falam palavrões, interrompem, mordem, brigam, choramingam. 

Segundo as especialistas, é importante envolver os filhos na solução dos problemas, incentivando-os inclusive a que sugiram formas de resolução, pois isso favorece a que cumpram o que propuseram. As chamadas “perguntas curiosas” da disciplina positiva podem ajudar nesse sentido com questões como:

O que você estava tentando conseguir?
Como você se sente sobre o que aconteceu?
O que você aprendeu com essa experiência?
Como você pode resolver esse problema?

Mary também destacou a importância de os pais praticarem a empatia, base do trabalho da disciplina positiva, para se colocarem no lugar da criança e assim poderem entendê-la melhor.  Outro aspecto fundamental é acreditar na capacidade das crianças. “O objetivo da disciplina positiva é ajudar as crianças a desenvolver a crença de que ‘eu sou capaz e posso contribuir de maneira significativa’”, disse a terapeuta. 

Ela mostrou fotos de um de seus três filhos quando pequeno, enquanto tentava vestir uma camiseta, e usou a situação para mostrar como é importante deixar o filho fazer sozinho algo de que já é capaz. “A gente quer ajudar a criança a vestir camiseta direito porque acha que ela está sofrendo, mas nunca devemos fazer por uma criança aquilo que ela já consegue fazer sozinha”, disse Mary, citando frase do psiquiatra austríaco. 

A participação das crianças nas tarefas domésticas também é fundamental, de acordo com os preceitos da disciplina positiva, por incentivar o senso de pertencimento e responsabilidade. “Quando as crianças têm permissão para ajudar a tomar decisões familiares, elas tendem a dar muito mais apoio à vida familiar”, concluiu Mary no fim da palestra. Ela se despediu da mãe na tela carinhosamente, com um beijo, fazendo o símbolo de um coração com as mãos.

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