Leia a crônica de Cris Guerra em junho: ‘O que tem na sua bolsa?’

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    Foto: Pixabay

    O que tem na sua bolsa? Se você é mulher, provavelmente vai precisar de um parágrafo para a resposta. Se é homem, nem deve usar bolsa. Não há ilustração mais clara para a nossa necessidade de controle. Se uma bolsa feminina já é um prato cheio para o ladrão, o que dirá para o terapeuta. Sim, tem kit de costura. E tem chupeta, absorvente, batom, caderninho de anotação, caneta, documento, lenço, remédio, bombinha de asma.

    Agarradas às nossas bolsas, vamos pensando que somos Deus. Até que um dia um fato nos prova que não, na bolsa não há solução para tudo. E nos lembra uma palavrinha importante que a gente normalmente esquece de levar. Carregamos sins pesados a vida toda, mas esquecemos que os nãos é que costumam aliviar o peso.

    Já reparou como um bebê aprende a falar “não” com rapidez? De tanto ouvir a palavra, começa a devolvêla, sem cerimônia. Com o tempo, de um modo ou de outro, vai entendendo que o mundo à sua volta não está exatamente à sua volta. E terá de aprender a ouvir mais e mais nãos, em lugar de só dizê-los. Só que essa inversão acontece rápido demais.

    Carregamos sins pesados a vida toda, mas esquecemos que os nãos é que costumam aliviar o peso

    No caso das mulheres, a situação é mais grave: fomos educadas para o sim. O sim do cuidado, da doação, da concessão. O sim de quem espera ser escolhida. O sim da mãe zelosa, que não pode falhar porque não pode ser considerada nada menos que a melhor mãe. Sins parecem moldar o nosso valor no mundo. Nãos são muito arriscados. Podem trazer rimas indigestas como rejeição e solidão.

    Dizemos não para nós mesmas em consecutivos sins para os outros – filho, marido, emprego, família, expectativas. A fim de evitar problemas no futuro, vamos engolindo indigestos sapinhos diários. Muralhas de sins se voltam contra nós em nãos robustos, nos isolando do mundo e nos separando de nós mesmas.

    E vamos, supostamente, nos encaixando. Como quem entra no banco de trás de um carro, bem apertadinha, e passa a viagem rezando pra chegar logo, sofrendo com uma dor no pescoço.

    É preciso balançar esse pescoço vigorosamente para um lado e para outro. Positivamente: não. Não sou perfeita. Não posso estar em todos os lugares, não dou conta de todas as coisas e, por mais multitarefa que eu seja, sou humana.

    “Sim | são três letrinhas | todas bonitinhas | fáceis de dizer”, diz a música cantada por Marisa Monte. O não também só tem três letrinhas, mas nós vivemos com medo dele. Ou talvez o medo seja de nós mesmas. Imagina que estrago, que trabalho, que confusão será descobrir o tamanho do nosso poder.

    Se é tão importante ensinar ao meu filho que a vida é fazer escolhas, por que eu mesma não aprendo?

     

     

     

    Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna diária na rádio Band News FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade. 

       [email protected]

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