Xarope para tosse: cuidado, ele não é inofensivo

Médicos alertam para uso do medicamento sem prescrição, o que pode provocar efeitos colaterais indesejados; lavagem nasal, hidratação e até uso do mel podem ser mais eficazes

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Adulto serve xarope em colher para menina agasalhada na cama
Existem vários tipos de xaropes e seu uso indevido pode resultar em efeitos colaterais e até na piora da doença, explica pneumologista
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Com a chegada do outono e posteriormente do inverno, é comum o aumento de doenças respiratórias, além do surgimento de tosses causadas pelo tempo seco e alergias. Pediatras chamam a atenção dos pais para o uso irrestrito e banal de xarope nas crianças. Quando tomados sem prescrição médica, os especialistas alertam que esses remédios podem acabar sendo usados de forma inadequada. Ou seja, podem combater um tipo de tosse para o qual não foram feitos para combater, por exemplo, ou causar efeitos colaterais mais sérios.

“Cada xarope para tosse da prateleira da farmácia tem um medicamento diferente. Há alguns que são indicados para tosse seca, por exemplo, e outros para tosse com secreção. Ou seja, o uso sem indicação médica pode levar ao uso incorreto de medicamentos”, é o que defende Maura Neves, pediatra otorrinolaringologista. Ela ressalta a importância de conscientização dos pais e adultos sobre uso de medicamentos para evitar riscos desnecessários do consumo de xaropes sem indicação, como a interação do remédio oral com outros que eventualmente a criança possa estar tomando.

Uso indevido pode piorar doença

Evalto Monte, pneumologista pediatra, adverte que há um extenso leque de possibilidades para a causa da tosse, assim como há diversos tipos de efeitos que os xaropes causam no corpo para combater essas causas. “É de suma importância que as crianças possam ser avaliadas antes de iniciar um medicamento, isso porque existem vários tipos de xaropes: fitoterápicos, antialérgicos, mucolíticos, corticoides, etc. Seu uso indevido pode resultar em efeitos colaterais e até na piora da doença”, explica Monte.

Monte dá alguns exemplos para demonstrar a importância de se ter algum profissional analisando o histórico de sintomas da criança e garantir o uso correto dos xaropes.

“Uma criança com diagnóstico de rinite alérgica pode se beneficiar com um xarope antialérgico. Já em uma criança com asma, pode ser necessário um xarope de corticoide. Diante de um resfriado comum, na maioria dos casos, a lavagem nasal pode trazer mais benefícios que muitos xaropes”, explica o pneumologista.

Para a pediatra Maura Neves, usar xaropes sem indicação é expor quem o está tomando a riscos desnecessários. Ela ainda defende que se consulte um pediatra antes do uso: “Se há a necessidade deles (xaropes e medicamentos) é porque a saúde já está comprometida”.

“Se for usado um xarope para tosse seca em alguém com tosse com secreção, o quadro clínico pode piorar. Ou se a tosse é seca e é usado um xarope para soltar a secreção, o xarope não irá ajudar”, afirma a otorrinolaringologista.

Alertas com os corticoides

Corticoides são anti-inflamatórios e bronquiodilatadores potentes que podem ser vendidos em forma de xarope para tosse de crianças. Um exemplo é a prednisona. Porém, o uso por muito tempo e de modo recorrente desse tipo de medicamento expõem as crianças a alguns efeitos colaterais sérios. “Os corticoides, no longo prazo, têm muitos efeitos colaterais: podem provocar hipertensão, alterar a calcificação dos ossos e podem mexer com a glicemia. Existem xaropes, que são bronquiodilatadores, podem aumentar a frequência cardíaca, etc.” afirma Cintia Urel, pneumopediatra.

Maura Neves concorda, e também alerta para os ricos da prednisolona. Ela afirma que podem ocorrer alterações no sono, aumento do apetite, irritabilidade, alterações comportamentais e desequilíbrios hormonais, que podem fazer a criança tender mais para ter problemas na tireóide ou diabetes. “Portanto, sugiro utilizar apenas com recomendação médica e em momentos de doença mais intensa”, completa.

“Acho importantíssimo que os pais e mães entendam que a tosse não é uma doença, então a intenção não é tratar tosse”, afirma Cintia Urel.

Ela enfatiza que sempre orienta os pais a primeiro investigar a causa da tosse e tratar a causa. Segundo Urel, aplicar medicamentos sem essa investigação da causa dos sintomas com um pediatra pode mascarar a doença e até agravá-la. “A tosse é um mecanismo de defesa, assim como a febre. Você usa um antitérmico para baixar a febre, mas se você não descobrir a causa da febre, ela vai voltar. O mesmo acontece com a tosse”, afirma a pneumopediatra.

Lavagem nasal, hidratação e mel: outras saídas

Além desses cuidados, os xaropes podem ser substituídos por soluções muito mais seguras em casos de tosses mais leves e sem risco à saúde. Monte aponta para a lavagem nasal e a hidratação das crianças, dois hábitos que considera que deveriam ser cotidianos e corriqueiros, mas intensificados em casos de tosse. Em casos de resfriados, ele afirma que a lavagem nasal pode até ser mais benéfica que os xaropes.

Evalto Monte também indica, para casos leves de doenças ou alergias, a ingestão de mel e limão para atenuar a tosse. “Acreditem ou não, medidas caseiras como o uso de mel e limão já foram comprovadas com benefício modesto em tosse noturna”, afirma. Além disso, ele ainda recomenda manter boa alimentação e vacinação em dia para evitar as doenças causadoras da tosse. E reforça: pais sempre devem procurar um médico em caso de piora.

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