O outono, conhecido pelas temperaturas mais baixas e ar seco, é a estação do ano marcada pelo aumento dos casos de crises alérgicas e infecções virais entre as crianças. Diversos hospitais infantis de São Paulo já registram aumento no atendimento de crianças com doenças respiratórias.
Um deles é o Hospital Infantil Sabará, que em sua página na internet traz um aviso aos pais e responsáveis informando que devido ao grande volume de atendimento e internações, criou “um plano de contingências que prioriza crianças em condições clínicas mais graves”. Segundo dados do hospital, apenas em março foram registrados 1.401 atendimentos de urgência de crianças com síndrome gripal, sendo que em fevereiro foram 1.025. Os números são inferiores aos de janeiro, quando houve uma explosão de casos de Covid, mas se assemelham aos de março de 2019, período anterior à pandemia.
À Canguru News, a assessoria do Hospital Santa Catarina Paulista confirmou um crescimento de 61% nos atendimentos pediátricos relacionados a quadros respiratórios e anunciou que criará uma UTI com 10 leitos para atendimento de crianças com infecções virais.
Já o Hospital da Criança, da Rede D’Or São Luiz, localizado em São Paulo, registrou, entre janeiro e fevereiro, um aumento de 125% nos atendimentos de pronto-socorro infantil. Os casos registrados são, em sua maioria, síndromes respiratórias sem nenhuma conexão com a Covid-19 e, segundo o hospital, tratam-se de uma “sazonalidade típica da pediatria”.
“Durante o outono ocorrem mudanças rápidas de temperatura em períodos curtos de tempo. O ar mais seco e com menos chuva favorece a concentração de poluentes, poeira, ácaros e fungos. Os vírus aumentam também sua multiplicação e circulação. Este combinado aumenta a incidência de doenças respiratórias, especialmente as virais. Os extremos de idade, crianças e idosos, são os mais acometidos”, afirma Maura Neves, otorrinolaringologista da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).
Devido às baixas temperaturas, que começam a aparecer no sul e sudeste do país, e à retomada das aulas presenciais, é comum que os menores se aglomerem em lugares fechados, facilitando a transmissão dos vírus. Dentre as doenças mais frequentes nessa época estão: resfriados, gripes, rinites alérgicas, sinusites e crises de asma. A rinite é caracterizada por sintomas como nariz entupido, coriza, espirros e coceira no nariz, olhos e garganta. Já a sinusite traz desconfortos como nariz entupido, sensação de pressão na região do nariz, testa e ao redor dos olhos, dores de cabeça, cansaço e febre.
“A chance das crianças se contaminarem em locais fechados é muito maior. No outono também existe aumento no número de doenças virais mais graves, como a bronquiolite, que ocorre em crianças de até 2 anos”, relata Alfonso Eduardo Alvarez, presidente do Departamento de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
“As crianças têm ficado cada vez mais tempo em locais fechados, em frente a telas, cada vez menos em ambientes externos, o que desencadeia casos de rinite e sinusite. Esses casos são cada vez mais comuns e podem evoluir em infecções bacterianas secundárias. Uma criança com asma ou rinite, principalmente no outono e inverno, quando contrai algum vírus, está mais propensa a desencadear crises. Até por isso as crises são mais comuns nesse período”, ressalta Alfonso.
Prevenção: caderneta vacinal em dia
Os especialistas ressaltam que uma das principais medidas preventivas é a constante atualização da caderneta de vacinação. “As vacinas para influenza (gripe), coqueluche (Pertussis), pneumocócica, Covid, Haemophilus influenzae tipo b (Hib), e até mesmo a BCG (vacina para tuberculose) reduzem os riscos. Por isso é fundamental revisar periodicamente o cartão vacinal e mantê-lo em dia”, enfatiza a pediatra Karina Pierantozzi Vergani.
Manter a criança bem hidratada, com a ingestão de água ao longo de todo o dia, também é essencial. Maura Neves acrescenta também a importância de uma alimentação equilibrada, que inclua legumes, verduras, frutas, vitaminas e minerais. Ela diz que a alimentação saudável na infância, além de aumentar a imunidade, promove o desenvolvimento adequado da criança e previne doenças a longo prazo, como câncer, diabetes, hipertensão e doenças cardíacas.
Algumas outras medidas recomendadas são: limpar e higienizar constantemente o ambiente familiar, evitar carpetes, tapetes ou qualquer superfície que acumule poeira, lavar as mãos com frequência ou utilizar álcool em gel e manter distância de aglomerações e locais fechados.
A otorrinolaringologista destaca ainda a importância de preservar o próximo: “As crianças devem evitar ir à escola com presença de sintomas respiratórios como tosse, coriza, obstrução nasal e dor de garganta. Isso ajuda na redução de transmissão de doenças para outras pessoas. Uma possibilidade é usar máscara na presença desses sintomas. As máscaras auxiliam na redução de transmissão nestes casos, especialmente em ambientes com maior concentração de crianças.”
Cuidado com os xaropes
“Geralmente é indicado o repouso, hidratação, analgésicos e antitérmicos. Higiene nasal com soro fisiológico, além da nebulização, também com soro fisiológico, são importantes medidas. As medicações que são usadas de modo indiscriminado pelos pacientes (automedicação), como os xaropes por exemplo, podem levar à intoxicação ou ao aparecimento de reações adversas indesejáveis” destaca Ana Cristina Loch, infectologista pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Alfonso reforça a importância da constante higienização nasal, várias vezes ao dia, independentemente da idade do menor. “Muitas vezes a criança começa a produzir secreção no nariz, e as complicações ocorrem por conta dessa secreção parada. A limpeza nasal é fundamental para uma melhora. O uso de remédios vai depender do tipo de infecção, de acordo com prescrição médica.”
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