A vacina contra a Covid-19 para crianças não deve chegar antes de 2021

As crianças, por serem grupo de menor risco para o novo coronavírus, entraram há pouco tempo em testes clínicos pontuais

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A vacina contra Covid-19 para crianças não deve chegar antes de 2021; imagem mostra desenho microscópico do coronavírus, uma seringa e a ampola da vacina contra a Covid-19
Desenvolver uma vacina para crianças não é o mesmo que para adultos, ressaltam especialistas
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A chegada da vacina contra a Covid-19 é ansiosamente esperada por todos, em todo o mundo. Mas quando ela chegar, será que as crianças também poderão se vacinar? “Os adultos podem receber a vacina no próximo ano. Mas seus filhos terão que esperar mais. Talvez muito mais”, afirma o cientista Carl Zimmer, que se dedica ao estudo da evolução e de parasitas, em sua coluna do dia 21 de setembro no jornal The New York Times.

Especialistas afirmam ser provável que apenas os adultos sejam imunizados primeiro. As crianças, por serem grupo de menor risco para o novo coronavírus, entraram há pouco tempo em testes clínicos pontuais – dos quatro autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, apenas um engloba pessoas a partir de 16 anos. , informa reportagem do Estadão sobre o assunto.

Profissionais de saúde ouvidos pelo Estadão afirmam que poderá levar meses para que crianças e adolescentes sejam vacinados. Algumas estimativas são ainda maiores – há quem diga que o imunizante para eles possa chegar somente depois de 2021.

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No Brasil, entre os testes clínicos autorizados, somente o produzido pela Pfizer com a BioNTech inclui adolescentes a partir dos 16 anos, além de adultos. Já a vacina contra a Covid-19 da Universidade de Oxford e da AstraZeneca incluiu idosos e crianças de 5 a 12 anos nos testes de fase 2 apenas no Reino Unido. Aqui, a farmacêutica informou que “a prioridade atual é reunir evidências sobre o potencial da vacina para proteger as populações mais vulneráveis a resultados graves”. A empresa disse também que a ideia é reunir primeiro dados satisfatórios dos adultos para depois começar os testes em crianças. Segundo a farmacêutica, a AZD1222 tem potencial para ser segura e protetora em crianças.

O Instituto Butantã também tem feito testes no país de um imunizante da chinesa Sinovac. O centro de pesquisa brasileiro vai aguardar os resultados de estudos clínicos em 552 voluntários saudáveis com idade entre 3 e 17 anos na China, que devem começar este mês. Só depois será definido se e como as crianças serão incluídas aqui.

A Johnson&Johnson também faz análises para a produção de uma vacina no Brasil, que vai avaliar a segurança e a eficácia do produto em cerca de 60 mil adultos com idades acima de 18 anos. Não se sabe porém se as crianças serão inclusas nos testes.

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Vacinas trazem especificidades de acordo ao público-alvo

As vacinas exigem testes especialmente rigorosos, que são desenvolvidos ao longo de décadas para se tornarem seguras e eficazes, explica Carl Zimmer. Ele recorda que elas são diferentes das drogas, que se destinam a um número limitado de pessoas que estão doentes com alguma doença específica. “As vacinas são dadas a milhões de pessoas saudáveis ​​para evitar que adoeçam. Depois de testar uma vacina em animais, os desenvolvedores iniciam testes clínicos em pessoas. Esses testes vêm em três fases, indo de pequeno a grande. Os testes de fase 1 e 2 permitem que os desenvolvedores de vacinas descubram qual dose provavelmente será a mais segura, ao mesmo tempo que oferece a melhor proteção imunológica”, escreve o cientista no jornal americano.

Os testes de fase 3, o último estágio dos testes de vacinas, são realizados em milhares ou dezenas de milhares de voluntários. É durante esses estudos que os cientistas podem obter evidências claras de que uma vacina protege as pessoas de uma doença. Eles também podem revelar efeitos colaterais que foram perdidos por estudos menores.

As especificidades de cada público podem ser determinantes para a eficácia e segurança da vacina. Desenvolver um imunizante para crianças não é o mesmo que para adultos, pois elas podem ter resposta imunológica diferente dos mais velhos e precisar de doses diferentes também. No caso da vacina contra a Covid-19, os dados epidemiológicos e os primeiros achados sobre os impactos da doença nortearam as pesquisas que se limitaram aos grupos com mais risco de complicações, situação que não contempla as crianças.

Isso não quer dizer que os estudos com crianças não devam ser realizados. “É importante ter braços de pesquisa que apliquem nas crianças. Esta é uma doença nova. Com o retorno às aulas e a mobilidade, podemos ver o que não vimos com as crianças fora da escola”, disse Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, ao Estadão.

Para Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a imunização das crianças pode demorar. “As crianças não serão prioridade porque não adoecem com mais gravidade do que outros grupos e não transmitem com mais frequência.”

Ministério da Saúde diz estudar grupos prioritários

Em nota, o Ministério da Saúde informou que os grupos prioritários para criação da vacina contra a Covid-19 estão sendo estudados pelo Programa Nacional de Imunizações. A Anvisa informou que ainda não recebeu pedido de autorização para estudos clínicos em crianças.

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