Crianças com altas habilidades: o desafio de diagnosticar e educar

O pequeno superdotado tem direito a condições especiais de ensino, sendo dever da escola assegurar que os recursos corretos sejam aplicados

23312
Superdotado: conheça as características da criança com altas habilidades + mãe e filho deitados dentro de uma piscina de bolinhas coloridas.
Juliana conta que a nova escola de Leonardo oferece acompanhamento psicológico e aulas de música.
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Crianças superdotadas tendem a ser muito inteligentes, pois aprendem com facilidade e rapidamente. Porém, apesar dos diversos mitos existentes em torno da condição de superdotado, as crianças que se enquadram neste diagnóstico, muitas vezes, acabam não tendo suas necessidades educacionais devidamente atendidas, seja pela falta de preparo da escola ou pela demora na identificação do quadro. A criança superdotada deve ser incentivada e acolhida ainda no núcleo familiar para que comece a expressar sua capacidade acima da média.

Apesar do receio de estar imaginando coisas, a jornalista do Rio Grande do Norte, Juliana Manzano, começou a desconfiar da condição de superdotado do filho Leonardo (9 anos) quando ele tinha apenas 3 anos de idade, embora o primeiro laudo só tenha sido feito dois anos depois. “A partir do momento que eu comecei a desconfiar, eu ainda demorei para ir atrás de um diagnóstico, era tudo muito novo e jamais imaginei que isso poderia acontecer”, relata Juliana Manzano. A jornalista conta que aos 3 anos Leonardo falava frases completas, usava palavras que não eram do dia a dia dele e lia muito bem, como uma criança de 10 anos ou mais. Desde então, o pequeno começou a apresentar ainda mais características de ser superdotado.


LEIA TAMBÉM


A superdotação

Conforme as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), “considera-se uma criança alto habilidosa ou superdotada aquela que apresenta a facilidade de aprendizagem, pois domina rapidamente os conceitos, os procedimentos e as atitudes.”

A psicopedagoga Socorro Santos, que também é especialista em altas habilidades e superdotação, explica que dois dos teóricos que tratam da superdotação são Howard Gardner e Joseph Renzulli. De acordo com os estudiosos, a criança superdotada tem o potencial de desenvolver uma habilidade ou não, isso dependerá do ambiente familiar e do contexto social em que o indivíduo está inserido. “A criança com altas habilidades não é aquela que é excelente em tudo, ela pode até apresentar dificuldades de aprendizagem, mas ela tem potencial para superá-las”, descreve a especialista.


LEIA TAMBÉM


Principais características

Os superdotados apresentam características heterogêneas, ou seja, muito diferentes umas das outras. Justamente por suas habilidades abrangerem inteligências diversas: linguística, lógica, motora, musical, espacial… Por isso, é também difícil definir quais seriam as características de uma criança superdotada. A Associação Paulista para Altas Habilidades/Superdotação (APAHSD) listou algumas das mais recorrentes:

  • Aprende fácil e rapidamente;
  • É original, imaginativo, criativo, não convencional;
  • Está sempre bem informado, inclusive em áreas não comuns;
  • Pensa de forma incomum para resolver problemas;
  • É persistente, independente e auto direcionado (faz coisas sem que seja mandado);
  • Persuasivo, é capaz de influenciar os outros;
  • Inquisitivo e cético, está sempre curioso sobre o como e o porquê das coisas;
  • Tem vocabulário excepcional, é verbalmente fluente;
  • Aprende facilmente novas línguas;
  • Tem bom julgamento, é lógico;
  • Tem múltiplos interesses, alguns deles acima da idade cronológica;
  • Demonstra alto nível de sensibilidade e empatia com os outros;
  • Resiste à rotina e à repetição.

Processo de identificação

Foi por meio de pesquisas que Juliana Manzano teve contato com a condição de crianças com superdotação/altas habilidades e começou a compreender que seu filho poderia ser um pouco diferente das outras crianças. Sua primeira atitude foi levá-lo a uma psicóloga clínica, onde foi direcionada para uma neuropsicóloga, profissional responsável pela identificação do quadro. “São realizadas avaliações pedagógicas e psicológicas para identificar em que área da inteligência a criança apresenta altas habilidades. Com os resultados, é possível orientar de forma mais assertiva como conduzir o desenvolvimento do superdotado”, informa a APAHSD.


LEIA TAMBÉM


O diagnóstico do Otto (12 anos) veio aos 8 anos de idade, quando ele disse para a mãe, Jana Figueiredo, que queria mudar de escola, pois queria conhecer pessoas novas. “Ele escolheu estudar em uma escola muito pequena, que tinha apenas 4 salas de aula, mas que o acolheu muito bem. E foi essa escola que percebeu que ele tinha altas habilidades/superdotação”, relata a psicopedagoga e especilista em parentalidade, Jana Figueiredo.

Atualmente, Otto é apaixonado por robótica e já chegou a dar aulas sobre o assunto para os colegas da escola.

O dever da escola

De acordo com a Lei nº 9.394/96, Art. 59-A: “O poder público deverá instituir cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados na educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado”. E diversas são as formas da instituição adaptar seu programa para receber um superdotado: “a escola pode propor programas de monitorias, trabalhos em grupo e trabalhos diversificados. O importante é que a escola encontre meios e estratégias para a atender às necessidades dessa criança”, destaca Socorro Santos.

Outra opção muito importante para o desenvolvimento do superdotado são as salas de recursos multifuncionais. Trata-se de um programa federal, disponibilizado às escolas públicas, que oferece um conjunto de equipamentos de informática, mobiliários, materiais pedagógicos e de acessibilidade para a organização do espaço de atendimento educacional especializado. Socorro Santos foi coordenadora de um das salas de recursos disponíveis na cidade de Brasília. Para ela, o programa colabora – e muito – para o desenvolvimento do pequeno. “A criança deve ir no horário contrário ao ensino regular. Lá, ela terá oportunidade de conviver com seus pares, de se conhecer melhor, de desenvolver projetos e aprofundar seus conhecimentos de acordo com sua área de interesse”, reforça a profissional.


LEIA TAMBÉM


Socorro ainda enfatiza a importância dos pais conhecerem bem a escola em que o filho será matriculado. Por isso, é essencial que a família se informe sobre a condição de superdotação, conheça os direitos que a criança tem e se intere da proposta pedagógica da instituição de ensino. “É importante conhecer a equipe pedagógica, saber se a escola tem experiência com casos de superdotados e, principalmente, se está aberta a flexibilizar seu conteúdo”, frisa a psicopedagoga.

Os desafios para os superdotados

Durante a pandemia, as aulas online vem sendo um grande desafio, já que não estão sendo boas experiências para as crianças. “Não está sendo tranquila a aula online. Ele é uma criança criativa e produtiva, ele não é uma criança que goste do meio acadêmico. Ele não gosta de assistir aula, pois é entediante ficar vendo o professor explicar as coisas outras vezes para os amigos”, expõe Jana Figueiredo, mãe do menino Otto. Para Leonardo, as aulas remotas também são frustrantes. “Ele odeia as aulas online, porque enquanto a professora está explicando, ele já está fazendo exercícios e depois fica sem ter o que fazer”, revela Juliana Manzano.

Além do meio educacional, algumas posturas da sociedade também podem incomodar os pequenos. “O meu maior desafio é que muitas pessoas não entendem como eu tenho 9 anos e estou no 6°ano. Atualmente, eu não tenho muitos problemas com isso, pois todos da minha escola sabem que eu sou uma criança normal. Mas, mesmo assim, os professores e alunos ainda me perguntam ‘Você sabe de tudo?’ e têm curiosidades sobre várias outras coisas”, relata Leonardo sobre suas experiências do dia a dia.


LEIA TAMBÉM


Socorro reforça que a criança superdotada enfrenta diversos desafios ao longa da vida. Para ela, as dificuldades começam já na família, pois poucas sabem lidar com a condição. Além disso, na escola eles também podem ser excluídos, já que seus assuntos podem não ser iguais aos das outras crianças da mesma idade.

Papel familiar

A família possui a função de dar suporte ao superdotado, sendo determinante para o sucesso da criança. “Ter um ambiente acolhedor, onde suas emoções possam ser acolhidas e entendidas. Isso é fundamental para o pequeno”, explica Socorro Santos. A inteligência emocional é uma habilidade indispensável para os pais e para os filhos. Para ela, “conviver com os pares é muito fácil, mas conviver com os diferentes é um desafio. Por isso é fundamental que essa criança tenha uma compreensão de si mesma. Para que ela se desenvolva e seja capaz de tomar decisões”, finaliza a psicopedagoga.


LEIA TAMBÉM


Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News semanalmente no seu e-mail.

8 COMENTÁRIOS

  1. o conteudo foi muito útil pra mim, pois alcancei tudo que pretendia saber sobre as altas habilidades. porém desejo que o mesmo seja actualizado

  2. Eu sou Anselmo Branco, tenho 14 anos, sou cidadão de Angola, África e desde pequeno apresentei também algumas características invulgares. Infelizmente pela intervenção dos meus pais fui sempre proibido de certas actividades para as quais já estava preparado e isso atrasou o meu desenvolvimento. Mas ainda assim eu ainda apresento um pensamento desenvolvido ao ponto de me tornar referência em qualquer lugar. Sofro um pouco no meu seio familiar pois eles não me entendem devidamente e também na escola por entender mais rápido que os outros. Não tenho a certeza se sou superdotado, mais sem duvida tenho um QI a 100 o que já e acima da média. Gostaria de estar num lugar onde houvessem mais pessoas como eu mas infelizmente, como cidadão de Angola estou incapacitado. Estou fazendo o curso de inglês e possuo capacidades na inteligência logico-matemática, musical, naturalista, existencial, linguística,etc. Na minha idade (14) faco varias investigações
    fora daquilo que aprendo na escola e é isso.
    Aconselho-vos a ajudar os meninos da melhor forma possível e a organizar encontros com outros meninos como eles. Podes contar comigo se precisares porque eu proprio já passei por algo parecido então não será difícil ajuda-la.

  3. A minha filha é muito esperta, eu não sei se ela é superdotada, mas eu sempre desconfiei.
    Ela começou a me chamar mamãe com 3 meses, com 9 fala mamãe e papai, e empilhava cubos, com um ano ela formou a primeira palavra dela, sete dias depois de completar 1 aninho ” Mamãe… Qué assistir desenho” assim ela disse, eu tomei um susto na hora pq ela era muito pequenininha Nesse um aninho dela ela desenvolveu muito a fala, e já falava tudo certinho conjugado, inclusive palavras em inglês, alemão… Conclusão desde um ano e pouquinho que ela fala feito um adulto. Hoje aos 3 aninhos ela tem um linguaja muito bonito, com palavras difíceis que são incomuns de ouvir até da boca de um adulto, fala frases em inglês assisti desenhos em inglês, espanhol, alemão… Eu botei ela aos dois anos e meio no curso de inglês pq ela estava falando inglês sozinha e eu não falo. Ela faz ballet tbm e ela é muito dedicada em tudo, é muito falante hiperativa, muito curiosa e persuasiva. Ela aprendeu o alfabeto todo com 1 ano e 8 meses, mas com 1 ano, ela sabia já diferenciar números de letras e já acertava algumas letras e números. Mas até agora são só essas coisas que ela fez que as vezes me assusta com umas espertezas, o pediatra dela disse para mim que ela tem inteligência acima da média, e eu nunca falei pra ele as coisas que ela faz, ele olhou pra ela, observou ela nas consultas e em uma consulta disse isso, que ela olhava diferente que entendia tudo e analisava e ela tinha só 2 aninhos.

  4. Meu filho de 5anos é superdotado,mas tem tido bastante problema na escola com os coleguinhas,ele é muito agitado, e não sabe lhe dar com a situação e acaba batendo no coleguinha,e em tudo que acontece ele fica sempre como o culpado,eu como mãe fico com o coração partido,São 30 alunos em uma sala,para apenas uma professora dar conta;não tem como dar certo,e ele tem sofrido muito com essa situação se eu tivesse como,mudaria ele para uma escola com condição de atendê-lo melhor.

  5. O meu com 2 anos sabia todo o alfabeto,palavras em inglês,cores e contava de 0 até 100,aos 3 anos aprendeu a ler ,falava palavras considerada dificil,iniciou a escola esse ano 2022 aos 4 anos e tem chamado a atenção dos professores,a coordenação motora muito correta,tem facilidade com línguas estrangeiras e desenha o alfabeto de qualquer idioma,é bem calado,a escola me sinalizou que ele tem altas habilidades mais não sei por onde começar.

  6. Minha filha tem 5 anos, monta qualquer quebra cabeça. Tem facilidade e língua estrangeira e ciências. Nunca estudou em uma escola mais de uma semana só online. E acho que não tenho capacidade de suplir de conhecimento tudo que ela quer saber. Tenho muito amor e dedicação mais acho que ela sempre quer mais e eu não sei o que fazer.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui