Até 46% dos alunos podem ter infecção por covid após 2 meses de aula, calcula simulador

O estudo simulou dois cenários diferentes: uma escola com área maior, em que as pessoas podem ficar mais distantes, e uma escola menor

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Simulador de dispersão do coronavírus nas escolas calcula que até 46% dos alunos podem ser infectados caso escolas reabram em SP; imagem mostra sala de aula vazia
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Mesmo seguindo os protocolos sanitários, escolas de São Paulo que recebem muitos alunos só teriam condições de controlar a dinâmica de infecção pelo coronavírus se recebessem menos de 7% de seus estudantes. Levando em conta a volta de 35% dos alunos, conforme planejado pelo governo estadual paulista, a previsão é que, após 60 dias de aulas, entre 11% e 46% dos alunos e professores sejam infectados. Os cálculos são de um estudo que simulou a transmissão do coronavírus em ambientes escolares, levando em conta características desses ambientes, a quantidade de pessoas que nele circulam e nível de adesão da comunidade escolar a protocolos sanitários e de distanciamento.

A criação do simulador foi feita pelo grupo interdisciplinar Ação Covid-19 e a Rede Escola Pública e Universidade (REPU), reunindo pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade de Bristol (Inglaterra), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Escola de Aviação do Exército (Colômbia) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP).

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Nas escolas com maior adensamento de pessoas, a situação tende a ser mais grave. “Para que não haja dinâmica de infecção pelo vírus, essas escolas não deveriam retomar as aulas com mais de 6,86% dos estudantes, o que equivaleria a apenas um dia e meio letivo para cada estudante durante um mês. Isso inviabiliza o plano de reabertura do governo de São Paulo”, afirma Patrícia Magalhães, física da Universidade de Bristol (Inglaterra) e membra do Ação Covid-19.

Estudo simulou dois cenários diferentes

Para chegar a essas conclusões, o estudo simulou dois cenários diferentes: uma escola com área maior, em que as pessoas podem ficar mais distantes, e uma escola menor. Em ambos, considerou-se que haveria um novo infectado a cada dez dias e que a grande maioria das pessoas respeita os protocolos sanitários e regras de distanciamento.

Na escola maior, foram usados dados de uma escola estadual de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, que tem 400 alunos e 9.000 m², permitindo distanciamento maior entre os frequentadores. Nesse contexto, a estimativa é que 70% das pessoas interajam apenas em três momentos do dia: na entrada, no recreio e na saída. Sendo assim, 10,7% dos alunos e professores poderão se infectar em até dois meses após o retorno.

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No segundo cenário, com uma escola menor e mais cheia, foi usada como referência uma escola de Brasilândia, na zona norte da capital, com 700 alunos e 6.500 m². Nessa instituição, a dispersão do vírus seria maior por causa do adensamento de pessoas. A previsão é que passados dois meses e considerando a entrada de um infectado a cada dez dias, 46,3% dos alunos e professores possam ser infectados, mesmo com o cumprimento das regras de distanciamento.

“Tem sido muito difícil conviver com o fechamento das escolas, mas os nossos resultados indicam que esta ainda é a única alternativa segura e responsável. Esta é uma responsabilidade a ser assumida pelo governo, é errado querer terceirizar a decisão de volta às aulas para as famílias. Reabrir escolas coloca vidas em risco ao mesmo tempo em que aumenta as desigualdades educacionais, pois onde é maior o risco, menor será a adesão das pessoas”, alerta Salomão Ximenes, professor de políticas públicas da UFABC e membro da REPU.

Para José Paulo Guedes Pinto, professor de Economia e Relações Internacionais da UFABC e membro do Ação Covid-19, a condição hipotética de reabertura ‘mais segura’ das escolas “implicaria no aprofundamento das desigualdades educacionais em desfavor de estudantes e escolas em piores condições”.

Já o professor de políticas educacionais da UFABC Fernando Cássio, que também integra a REPU, avalia que “não há argumento pedagógico ou de ‘aprendizagem’ que justifique uma frequência à escola de uma ou duas vezes por mês, e ainda por cima sem a garantia de que estudantes e profissionais da educação não vão ser infectados no trajeto entre a casa e a escola”.

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Simulador de transmissão do coronavírus está disponível para escolas

O simulador de transmissão do coronavírus em ambientes escolares está disponível no link www.acaocovid19.org/escolas para que estudantes, famílias e profissionais da educação possam simular os impactos de uma eventual reabertura a partir das condições reais de suas próprias escolas. A ferramenta é uma adaptação do simulador de transmissão do coronavírus desenvolvido pelo grupo Ação Covid-19 para cidades e bairros, e utilizado para estimar tendências de evolução da pandemia no Brasil.

Saiba mais sobre o estudo aqui.

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