Para fugir da cesárea, grávidas largam plano e optam pelo SUS

Partos são os procedimentos com internação mais realizados na rede pública por quem tem convênio médico particular

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Em busca de um parto normal, grávidas largam plano e optam pelo SUS; imagem mostra mãe segurando bebê recém-nascido enrolado em manta rosa
A taxa atual de partos cesáreas nas maternidades privadas do país é de 85,98%, contra 43% na rede pública
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POR METRO JORNAL – O alto índice de cesáreas na rede particular tem levado muitas mulheres a abandonar comodidades do plano de saúde e escolher a rede pública para terem seus filhos. Dados da ANS (Agência Nacional de Saúde) mostram que os partos são os procedimentos mais realizados no SUS (Sistema Único de Saúde) por quem tem convênio médico.

Entre julho de 2017 e dezembro de 2018, balanço mais recente disponibilizado pela agência, foram 15,7 mil partos normais e 13 mil cesáreas. Os dados constam no relatório da agência sobre ressarcimentos das operadoras ao SUS. Desde 1998, uma lei federal exige que as empresas paguem por atendimentos que constam na cobertura obrigatória, mas mesmo assim o conveniado utiliza a rede pública para o procedimento. Apesar das implicações financeiras para as operadoras, os pacientes não são impactados, já que o SUS é voltado para toda a população, independentemente da classe social.

Entre 2001 e agosto de 2020, a ANS afirma ter cobrado o total de R$ 553 milhões dos planos de saúde pelos partos de suas clientes no SUS.

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A agência esclarece que  partos são procedimentos sem hora marcada, quando tudo ocorre dentro do normal na gestação e o tempo de maturação do bebê também está no prazo ideal. Por essa razão, muitas mães precisam correr para a emergência mais próxima no momento do nascimento.

Mas a agência reconhece também que o atual índice de cesáreas na rede particular é injustificável. A taxa atual nas maternidades privadas do país é de 85,98%. Já na rede pública, ela é de 43%.

Questionada pelo Jornal Metro, a ANS afirma que as redes sociais e o maior acesso às informações ajudaram as mulheres a fazerem opções buscando o parto normal. “É possível que, mais bem informada a respeito dos benefícios do parto normal – dentre os quais destacamos a recuperação mais rápida da mulher, a maior facilidade de adaptação à amamentação e o favorecimento do vínculo entre mãe e bebê –, parte das mulheres que possuem planos de saúde e tem realizado seus partos com assistência de serviços da rede pública esteja buscando esses serviços priorizando uma maior chance de ter um parto normal”, diz em nota.

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Casas de parto

Deborah Delage, 57 anos, é doula e consultora de amamentação pelo coletivo Mamastê, com atuação na Grande São Paulo, e também milita em prol do SUS. Ela optou pelo atendimento público quando teve sua filha, há 17 anos, mesmo tendo plano de saúde, por acreditar que teria mais chances de um parto respeitoso. Mas acabou em uma cesariana. “Passei por realidade muito parecida com setor privado, em que se provoca indução e depois opta pela cesárea por não ter dilatação. Tive o pior de dois mundos. Tinha mais chance, mas mesmo assim passei pela cesariana com as justificativas do setor privado.”

Apesar da experiência pessoal ruim, ela aconselha mulheres sem equipe particular a procurar pela rede pública. “Se a alternativa é o plano de saúde com plantão ou assistência típica do setor suplementar, sempre orientamos a pensar com coração aberto sobre a possibilidade de ser assistida no SUS, começando pelas casas de parto. Elas são o cenário mais favorável para um nascimento respeitoso.”

Para ser aceita em uma casa de parto, porém, é preciso ter uma gestação sem intercorrências, como diabetes gestacional e trombofilia.

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‘Pré-natal no posto era melhor que no particular’

Yanna Soares Martins Silva, 33 anos, manteve durante a gestação da filha Joana, de 2 anos, o pré-natal com o médico particular e na UBS (Unidade Básica de Saúde) perto de sua casa. Ela conta que no início optou pelo acompanhamento público porque era uma exigência para ser aceita na Casa Angela – Centro de Parto Humanizado. Mas que, com o passar do tempo, preferiu o atendimento dado pelo SUS. “Achei sensacional, mais humanizado. Saía mais esclarecida que com o médico particular.”

Ela escolheu continuar o acompanhamento na UBS mesmo depois de ter de desistir da Casa Angela por não se enquadrar nas exigências da unidade.

Yanna chegou às 42 semanas de gestação, e teve sua bebê no Amparo Maternal, instituição filantrópica de atendimento público na Vila Clementino, em São Paulo, após um parto normal. “Só tenho lembranças boas do dia. Mas, claro, cheguei com doula, plano de parto, marido empoderado, e dei sorte de ter uma equipe diferenciada.” 

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‘Tive confiança na equipe que prezava pela humanização’

“Foi perfeito, terei gratidão por toda a vida”, conta Maria Karina Costa, 36 anos, sobre seu parto no Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo, em abril do ano passado.

Para ela, nem a hotelaria, que seria um ganho para quem utiliza a rede particular, deixou a desejar. Karina iniciou seu pré-natal no hospital porque trabalhava em um laboratório da unidade. “Estava em transição de plano de saúde, então fiz as primeiras consultas lá, depois fiz o acompanhamento também pelo convênio. Peguei confiança e decidi ter o bebê na rede pública.”

O Hospital de Clínicas é voltado para atendimento de partos de risco, mas Karina resolveu tentar a entrada mesmo assim quando entrou em trabalho de parto e conseguiu ser atendida.

“O parto foi muito perfeito para mim. Tive toda a confiança na equipe, eles tiveram muito cuidado comigo e lá eles prezam pelo parto natural. Sabia que iria para cesárea apenas se não houvesse jeito.”

O filho Miguel nasceu de parto normal, como ela desejava. Karina conseguiu ainda ficar em um quarto individual, com a presença do marido.  

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Demanda para a rede pública

Procedimentos mais realizados no SUS por quem tinha plano de saúde entre julho de 2017 e dezembro de 2018

Internação hospitalar

Parto normal 15.704 R$ 13.340.446,00

Parto cesariano 13.026 R$ 14.256.827,21

Tratamento de pneumonias e gripes 12.759 R$ 19.846.528,37

Tratamento de intercorrências clínicas na gravidez 8.193 R$ 2.287.559,33

Curetagem após aborto 7.167 R$ 2.342.772,31

Tratamento para cirurgias múltiplas 6.586 R$ 29.600.232,80

Tratamento de doenças bacterianas 5.299 R$ 24.794.809,09

Tratamento de doenças infecciosas e intestinais 4.562 R$ 2.579.211,48

Vasectomia 4.455 R$ 2.521.441,53

Tratamento clínico para paciente oncológico 4.447 R$ 7.015.527,47

Atendimento ambulatorial

Hemodiálise (máximo de três sessões por semana)  93.205 R$ 345.145.541,99

Acompanhamento de paciente pós-transplante 64.391 R$ 16.717.980,08

Hormonioterapia do carcinoma de mama em estágio 1 53.544 R$ 6.405.468,72

Hormonioterapia do carcinoma de mama em estágio 2 51.458 R$ 6.155.920,54

Hormonioterapia do adenocarcinoma de próstata avançado 30.868 R$ 14.872.477,50

Hormonioterapia do carcinoma de mama em estádio 3 30.825 R$ 3.687.594,75

Acompanhamento de paciente com aparelho de amplificação sonora 21.320 R$ 5.325.420,75

Hormonioterapia do carcinoma de mama avançado – 2ª linha 15.237 R$ 7.652.828,25

Quimioterapia de doença mieloproliferativa rara – 1ª linha 14.38 R$ 3.236.174,25

Facoemulsificação c/ implante de lente intra-ocular 13.590 R$ 17.206.209,17

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