Pais também precisam de um tempo: momentos sem os filhos são necessários

O autocuidado parental é indispensável para conseguir manter uma boa saúde mental

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Passar um tempo sem os filhos é necessário, dizem especialistas; mãe cansada deitada no sofá segurando um celular com criança soprando um apito ao fundo
Fazer atividades sem os filhos ajuda a renovar as energias
Buscador de educadores parentais
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Se a rotina entre cuidados da família e trabalho já era cansativa antes da pandemia, agora as consequências do esgotamento físico e mental se tornam ainda mais intensas. “A gama de cobrança se potencializou durante a pandemia, porque todas as responsabilidades se encontram no mesmo lugar”, aponta Thais Basile, psicanalista, especialista em psicopedagogia institucional e educadora parental pela Positive Discipline Association dos Estados Unidos. Para que as mães não se sintam constantemente exaustas é preciso tirar alguns momentos para si mesmas. Ficar um tempo sem os filhos não é nenhum pecado, inclusive, é muito recomendado por especialistas.

“Vivemos em um país muito individualista, embora a gente ainda goste de pensar ao contrário. Nós estamos dentro de um sistema capitalista e ainda somos um país patriarcal, já é internalizado que a boa mãe é aquela que dá conta de tudo sorrindo, sem falar das suas dificuldades”, diz Thais Basile. Agora as escolas estão voltando, mas por quase um ano e meio, as crianças ficaram dentro de casa 24 horas por dia, colocando as mães, que na grande maioria das vezes são as cuidadoras principais, dentro de uma tripla jornada. Elas são responsáveis pelo seu trabalho formal, a manutenção da casa e o cuidado das crianças, segundo a especialista.

Não é possível deixar tudo nas mãos das mulheres, elas também precisam de um tempo para descansar a mente e cuidar de si mesmas.


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A importância do autocuidado

“Se cuidar como mãe e como pai, significa você se dar espaço para fazer coisas por você e se permitir ter outras facetas que não a materna ou paterna”, explica Alexandre Coimbra Amaral, escritor e psicólogo com foco nos atendimentos de casais e famílias. Para ser possível praticar o autocuidado, é necessário estabelecer uma rede de apoio para conseguir compartilhar a maternidade e ter a possibilidade de ir atrás de outros desejos e necessidades que não estejam relacionados aos filhos, de acordo com o psicólogo. “É muito importante que a gente busque o social para que possamos dar conta de reduzir os danos de todo o estresse”, aponta Thais Basile. Em muitos casos, também pode ser interessante ir atrás de ajuda terapêutica.

A educadora parental ressalta que é fundamental reconhecer que o problema faz parte de um contexto social. Embora o autocuidado seja indispensável para uma boa saúde mental, Thais Basile diz que é preciso desconstruir a ideia de que é aceitável colocar todas as responsabilidades em relação aos cuidados da casa e das crianças sobre as mulheres. “Também não podemos colocar a solução de um problema que é contextual só no individual”, destaca. 

Basile aponta que ainda vê muitas mulheres adoecidas porque a sua balança interna está muito descompensada. “A balança da cobrança versus o cuidado está pendendo muito mais para a cobrança. A balança do estresse em cuidar continuamente da criança versus a ajuda e os recursos está pendendo para o estresse”, relata. Para evitar que a convivência se torne insuportável, os especialistas recomendam fortemente que as mães fiquem um pouco sem as crianças.

Thais Basile também é idealizadora do projeto começou “Educação Para a Paz”/ Foto: reprodução

É crucial passar um tempo sem os filhos

“A separação da mãe com os filhos é importantíssima, isso faz parte da saúde mental de ambos e contribui para que eles percebam que não são tudo na vida do outro”, afirma Alexandre Coimbra. Este momento longe das crianças pode ajudar as mães a renovarem as suas energias, tornando a relação familiar mais saudável. “Isso é essencial para que a gente tenha minimamente saúde mental, ninguém consegue ficar preso num papel 24 horas por dia. Ser mãe é um dos papéis que a gente faz, mas também somos mulheres, somos amigas, somos irmãs, somos esposas, existem várias de nós”, diz Thais Basile.

A psicanalista também aponta que as mães não devem se sentir culpadas por se afastar um pouco dos filhos. Sempre há aquele medo em deixar a criança com uma pessoa que não cuidaria dela da mesma forma que mãe, mas é algo necessário. “É importante que tente e que não se culpe por não conseguir fazer tudo. Pandemia não é momento da gente querer ser a melhor mãe do mundo”, afirma Thais Basile.

Isso não significa romper os laços com as crianças e é preciso deixar bem claro. As mães devem falar sobre os seus sentimentos de forma honesta, acolhendo também os sentimentos dos pequenos, aponta Alexandre Coimbra. Segundo a matéria “Por que eu preciso me esconder das minhas crianças”, do The New York Times, esta é uma boa oportunidade de abordar a saúde mental com as crianças e as mães devem explicar para os filhos que passar um tempo sozinha é natural e necessário. 

Coimbra destaca que as mães podem enfatizar que quando se reencontrarem com os filhos será muito melhor, pois elas estarão se sentindo mais dispostas e poderão estar mais presentes para as crianças. Thais Basile aponta que é importante lembrar que tudo deve ser dito de uma forma que a criança possa entender, com palavras que sejam próprias para a idade dela.


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Riscos do Burnout Parental

Se os pais não buscarem o autocuidado, o acúmulo de estresse pode se transformar na Síndrome de Burnout Parental. “O Burnout Parental é um esgotamento da alma. É resultado desse estresse crônico, de uma disponibilidade supostamente infinita dessa mulher ao cuidado do lar e do filho”, relata Alexandre Coimbra. A necessidade de estruturar rotinas apesar das tormentas e das crises que acontecem é uma grande responsabilidade que pode levar à exaustão. “O tempo inteiro a mãe está lidando com gerenciamento de coisas que acontecem no dia num trabalho absolutamente invisibilizado pela sociedade. Então, o burnout é uma ficção que nós inventamos sobre a nossa disponibilidade absoluta e o resultado disso no nosso corpo e na nossa alma”, diz o psicólogo.

De acordo com Coimbra, os principais sintomas do Burnout Parental são: cansaço absoluto de ocupar aquele lugar de cuidado, muita raiva, dores no corpo, insônia e desesperança sobre o futuro. “Muitas pessoas confundem com depressão, mas a maior característica do burnout parental é a raiva do filho”, diz. Assim, os pais não sentem nenhum prazer em estar com filhos. Por isso, é fundamental que busquem tratamento. “Nós somos finitos na nossa capacidade de promover cuidado”, aponta o especialista.

Alexandre Coimbra também é psicólogo do programa “Encontro com Fátima Bernardes” e autor do livro “Cartas de um terapeuta para seus momentos de crise”/ Foto: reprodução

Dicas para relaxar

Cada pessoa encontra a sua forma de relaxar e passar um tempo sozinha sem os filhos. Para Alexandre Coimbra, as mães devem fazer aquilo que faz a alma cantar. “As atividades tem que ser o encontro da possibilidade com o desejo. O que é possível você fazer por você mesma, dentro daquilo que você acha que pode te ajudar a construir uma pausa e a se desgastar menos”, diz. Selecionamos algumas dicas para ajudar as mães e pais a encontrarem formas de descansar a mente e se divertir. Confira!

Atividades físicas

Atividades que envolvem exercícios e movimentos sempre são benéficas para a saúde mental e física. Não é necessário tirar muito tempo da sua rotina, Thais Basile aponta que apenas uma volta a pé sozinha pelo quarteirão pode ser o suficiente. Mas também é interessante passear por um parque e ficar um pouco mais ao ar livre. Outra dica é praticar yoga, que envolve exercícios de alongamento e de respiração, que são ótimos para desfazer as tensões, além da meditação, que ajuda a renovar as energias.

Visitar e sair com amigas

Seja fazendo compras ou dando uma volta pela rua, conversar com pessoas queridas é uma boa opção para desocupar a cabeça. “É sempre bom se juntar com uma outra família, com uma amiga, com uma pessoa que você confia que vai querer te ouvir, que não vai querer ficar dando conselho ou te invalidar”, diz Thais Basile.


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Receber uma massagem

É comprovado que a massagem melhora a qualidade de vida por meio de vários mecanismos fisiológicos. Uma sessão pode promover muito relaxamento, pois o corpo libera serotonina e endorfina, substâncias que ajudam a combater os incômodos físicos, gerando a sensação de bem-estar e melhorando o humor. A massagem também proporciona a redução do nível de cortisol, o hormônio do estresse, que pode causar insônia, irritação e ansiedade quando se encontra em níveis elevados.

Tomar um banho quente

A água quente ajuda a aliviar as tensões do corpo, permitindo um maior relaxamento do que banhos frios. Além disso, segundo um estudo da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, tomar um banho quente cerca de 90 minutos antes de ir para a cama pode melhorar significativamente a sua noite de sono e acelerar o processo de cair no sono em aproximadamente 10 minutos. Os banhos podem ser no chuveiro ou na banheira e se tiver acesso a óleos essenciais, com aromas de camomila ou lavanda, por exemplo, a experiência pode ser ainda mais calmante.

Ler um livro

A literatura é uma ótima ferramenta para acalmar a mente. De acordo com um estudo da Universidade de Sussex, na Inglaterra, feito em 2009, apenas seis minutos de leitura diária ajuda a diminuir os níveis de estresse em cerca de 68%. A pesquisa também aponta que se desligar do mundo real e mergulhar na narrativa alivia as tensões musculares e reduz o ritmo dos batimentos cardíacos. Assistir um filme ou ouvir uma música também pode funcionar muito bem, mas a vantagem da literatura é que o silêncio auxilia o corpo a relaxar. 


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