Laura Gutman: ‘Para falar sobre os nossos filhos é preciso olhar para a nossa própria infância’

A escritora apresenta os conceitos de discurso materno e fusão emocional e o papel que eles cumprem na maternidade e na criação dos filhos

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'É preciso olhar para a nossa própria infância', diz Laura Gutman; Laura Gutman em uma tela dando palestra no 2º Congresso Internacional de Educação Parental
Laura Gutman no 2º Congresso Internacional de Educação Parental/ Foto: arquivo pessoal
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“O que nos passou quando éramos crianças?” A pergunta incômoda, feita por Laura Gutman, investigadora da conduta humana e escritora argentina, pode ser libertadora às mães e pais dispostos a fazer essa travessia. É nessa busca sobre a criança que fomos, diz ela, que poderemos enxergar “o horror, desamparo, loucura, o desequilíbrio, o que quer que seja, mas assim vamos compreender o que fizemos, quais nossos mecanismos de sobrevivência e, depois, compreenderemos nossas próprias dificuldades”.

Durante o 2º Congresso Internacional de Educação Parental, Laura Gutman, abordou dois conceitos sobre a maternidade: a fusão emocional e o discurso materno. Segundo ela, para falar sobre os filhos, é preciso que primeiro os pais reflitam sobre a sua própria infância e a criança que eles foram. No entanto, ao abordar a infância, apenas as lembranças não são o suficiente, porque elas são organizadas por aquilo que as mães nomeiam. É isso que Gutman chama de discurso materno.

De acordo com a autora, em 95% dos casos, é o discurso materno que influencia a lembrança e a memória do filho. “A criança pode não lembrar de castigos, pesadelos e até abusos, porque as mães não falam sobre isso. Se a mãe não lembra ou nega, a criança pode esquecer e não organizar as informações na consciência. Dessa mesma forma, as crianças também podem achar que algo que não aconteceu pode ter ocorrido porque a sua mãe disse”, explicou a autora na palestra. Assim, para entender essas recordações, é necessário que seja feita uma investigação profunda de cada pessoa, enfatizou.

Para que os pais criem crianças que não tenham essa dificuldade em relação à memória, Laura Gutman acredita que as mães devem ser o mais transparentes possível, utilizando o discurso materno de forma positiva. “Sempre proponho averiguar o que passou e o que não passou. Também é preciso compartilhar com as crianças os mecanismos de sobrevivência que as mães utilizaram para conseguir passar pelas suas dificuldades”, diz. Em seu livro “A biografia humana”, Gutman aprofunda este conceito do mecanismo de sobrevivência e os “personagens” que são adotados na infância.

Somente quando começamos a nos treinar para saírmos deste personagem que fomos em nossa própria infância, sentenciou a escritora é que começarão a florescer “nossos recursos amorosos, para nos fundirmos nesta piscina”. “E neste lugar em que sentimos os nossos filhos, vamos poder satisfazê-los milimetricamente de acordo com o que cada um deles precisa. Poderemos sentir, intuir o que cada um dos filhos nos pede. E eles vao se sentir milimetricamente satisfeitos.”


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A piscina emocional

“Quando nasce um bebê, é como se a mãe o bebê estão imergidos em uma piscina juntos: se a água está fria, ambos sentem frio, se está quente, ambos sentem calor. Mãe e filho sentem o mesmo”, relata em sua palestra. Esta teoria da “piscina emocional” é o que a especialista chama de fusão emocional.

Segundo ela, para que o bebê se sinta compreendido e acolhido, tudo que é necessário é que sua mãe sinta. Essa conexão entre a mãe e o filho permanece ao longo dos dois primeiros anos de vida da criança, como se fosse uma “gravidez extrauterina”, como retrata Gutman. Dessa forma, a mãe e bebê se separaram ao cortar o cordão umbilical, mas ainda são os mesmos no campo emocional. Por isso, quebrar essa ligação pode ser extremamente angustiante para a mãe, ou para a figura materna presente na vida da criança.

Estas ideias são discutidas nos livros best-sellers que Laura Gutman escreveu, como “A biografia humana”, “A maternidade e o encontro com a própria sombra”, “O que aconteceu na nossa infância e o que fizemos com isso” e “Uma civilização centrada na criança”.


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