Seu filho não sai do celular? Saiba que existe uma explicação (no cérebro) para isso

Quase um ano se passou e o que parecia uma solução – o uso de um dispositivo eletrônico – passou a ser motivo de preocupação de muitos pais

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Seu filho não sai do celular? Existe uma explicação (no cérebro) para isso; uma menina de cabelos volumosos pretos segura o celular com as mãos e olha para a tela enquanto um menino segura um tablet e igualmente olha para a tela
Enquanto do lado de fora das nossas casas vivemos uma pandemia por um vírus, do lado de dentro estamos vivendo uma pandemia digital, segundo a psicóloga Patrícia Nolêto
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“Meu filho não sai do celular”. Acho que essa é uma das frases que mais escuto no consultório nos últimos meses. Algo que já era desafiador para muitos pais, com a pandemia se transformou em uma verdadeira guerra dentro de casa.

No início da pandemia, onde ainda acreditávamos que ela duraria uns 3 meses, muitas famílias flexibilizaram o uso de telas. Naquele momento, várias escolas anteciparam as férias, os pais estavam em casa trabalhando e tentando ajustar a vida que de repente virou de cabeça para baixo. Neste cenário, liberar TV, celular, jogos eletrônicos e tablets pareceu uma boa ideia e talvez uma formar de resolver vários problemas.

Quase um ano se passou e o que parecia uma solução passou a ser motivo de preocupação de muitos pais.

“Meu filho não se diverte mais fazendo outras coisas.” “Antes gostava de ler, brincar de lego, desenhar, mas hoje está entediada e essas coisas não a divertem mais”. “Parece que o mundo dela acontece nas redes sociais”. “Fica maratonando séries.” “Trocam o dia pela noite jogando online com os amigos”.

Costumo dizer aos pais que do lado de fora das nossas casas estamos vivendo uma pandemia por um vírus, mas do lado de dentro estamos vivendo uma pandemia digital.


Leia também: Deixar crianças em frente às telas pode não ser tão ruim, dizem especialistas


E existe uma explicação para o excesso de tempo que seu filho passa no celular ou em outros dispositivos eletrônicos. Ensinar isso aos pais e aos filhos tem sido uma boa estratégia nas intervenções do consultório.

No nosso cérebro acontecem inúmeras reações químicas que influenciam no nosso humor, nosso ânimo e até na nossa capacidade de sentir prazer alegria e bem-estar. Para isso acontecer precisamos de um neurotransmissor que se chama dopamina.

A dopamina direciona a nossa atenção para buscar atividades prazerosas. Imagine que cada vez que seu filho faz algo prazeroso como jogar bola, ler um livro, montar um quebra cabeça, finalizar as tarefas escolares uma “gotinha” de dopamina é liberada no cérebro.

Mas quando tem um exagero de estímulos prazerosos causados por exemplo pelo uso das redes sociais, jogos online, vídeos no youtube ou maratonar séries no Netflix o cérebro dele é inundado por quantidades enormes de dopamina. (isso acontece com os adultos também e por isso é tão difícil se desconectar)

Nesse momento, nosso sistema de recompensa precisa tomar uma atitude para se reequilibrar, então ele diminui o número de receptores de dopamina e diminui a captação dela no nosso organismo. Explico para as crianças que é como se o nosso cérebro fechasse as portinhas por onde a dopamina passa.

Isso resolve o problema do alagamento, mas gera um outro problema: a tolerância biológica. O cérebro diminui a sensibilidade dos neurônios, quando ele fecha as portinhas, então ele vai precisar de mais estímulos para produzir prazer.

Assim, aquelas atividades que liberam apenas gotinhas de dopaminas vão se tornar chatas para seu filho. Ou seja, ler um livro, jogar um jogo de tabuleiro ou andar de bicicleta, não produzem a quantidade de dopamina suficiente para ser absorvidas pelo número reduzidos de portinha. Então ouvir do seu filho que é um tédio, que não tem nada legal para fazer, que brincar disso é chato, é quimicamente verdadeiro.

Sei que saber de tudo isso, não resolve o dilema com seus filhos sobre o uso de telas. Mas ter conhecimento e saber o que realmente está acontece dentro da cabecinha deles te ajudará a buscar novas estratégias para lidar com esse problema.


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