Doenças infecciosas diminuem na pandemia

Estudos e relatos médicos mostram redução desde doenças simples, como um resfriado, a condições mais graves, como uma bronquiolite

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Doenças infecciosas em crianças diminuíram em meio à pandemia; criança usa nebulizador acompanhada da mãe
No Brasil, hospital infantil registrou queda de 80% nos casos de bronquiolite e de outras doenças respiratórias e de contato
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Isoladas em casa e sem poder frequentar a escola, as crianças têm vivido um ano difícil e que lhes exigiu grandes adaptações. Mas há um “lado bom” dessa situação: elas adoeceram menos durante a pandemia e fizeram cair os índices de doenças infecciosas que, em outros anos, costumam lotar hospitais infantis. Isso inclui desde um simples resfriado a condições mais graves como uma bronquiolite.

Foi o que constatou um estudo feito na França e publicado em junho no periódico Clinical Infectious Diseases, que analisou dados hospitalares de mais de 871,5 mil atendimentos pediátricos de emergência, entre 2017 e 2020. A pesquisa constatou uma queda de 68% nas visitas e 45% nas internações em seis pronto-socorros infantis de Paris e arredores, durante os meses de isolamento social em comparação com o mesmo período nos anos anteriores.

Doenças virais e bacterianas, que são altamente contagiosas entre crianças, como gastroenterite aguda, resfriado comum, otite aguda e bronquiolite, apresentaram, por exemplo, uma queda de mais de 70% neste ano.

Para averiguar se essas reduções no atendimento infantil tinham alguma relação com as restrições nos transportes ou com o receio das famílias em ir até um hospital, os pesquisadores usaram infecções do trato urinário, que não são transmitidas pelo contato com crianças, como grupo de controle. Mas nesse caso não houve variação substancial durante a pandemia, o que leva os pesquisadores a acreditar que de fato as crianças ficaram menos doentes neste ano.

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Os resultados desse estudo e relatos de hospitais e pediatras sobre este período chamam a atenção de especialistas para o benefício indireto que a pandemia trouxe e como isso pode servir de lição para famílias, escolas e governos que já estão pensando no calendário escolar de 2021 – ainda mais agora que voltaram a crescer os casos de coronavírus em diversas partes do mundo, destaca reportagem da BBC News Brasil. 

“É interessante porque não sei como vamos traduzir isso para depois (da pandemia de covid-19), mas sabemos que temos como reduzir essa doença anualmente. Não é que eu ache que a sociedade deva viver em lockdown para sempre, mas isso levanta boas questões. As crianças estão menos doentes do que antes”,  disse à BBC o médico especialista em emergências pediátricas François Angoulvant. Segundo o médico, os dados são semelhantes ao que colegas seus pediatras de outros países europeus observaram.

E parecem ter ocorrido no Brasil também. O hospital infantil Sabará, por exemplo, registrou quedas em torno de 80% nos casos de bronquiolite e de outras doenças respiratórias e de contato. Em setembro, reportagem do jornal Agora São Paulo apontou reduções em internações infantis também em hospitais infantis públicos na capital paulista.

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O que os pais podem aprender com a redução no índice dessas doenças

A reportagem da BBC listou algumas sugestões, apontadas pelos médicos, que crianças e adultos devem seguir para evitar a infecção por doenças. Entre elas:

  • Tornar permanentes as medidas de higiene adotadas durante a pandemia, para proteger não só as crianças, mas educadores e demais adultos em contato com elas no dia a dia.
  • Usar máscaras sempre que surgirem sintomas gripais, como já fazem os asiáticos, e manter as mãos longe do rosto quando elas não estão limpas
  • Lavar as mãos com frequência (preferencialmente com água e sabão em vez de passar álcool)
  • Nas atividades escolares, preferir sempre espaços abertos para realizá-las ou ao menos salas bem ventiladas, em que todos sigam medidas de higiene respiratória e distanciamento social

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“Estudos mostram que, se atendentes de creches e berçários lavassem mais as mãos, reduziriam muito os casos de bronquiolite e gastroenterite nas crianças, porque passam o vírus entre elas”, afirma o pediatra Daniel Becker, do Instituto de Saúde Coletiva da UFRJ à BBC Brasil.

De volta ao estudo realizado na França, a lição mais importante destacada pelo médico François Angoulvant diz respeito ao papel dos adultos nessa cadeia de transmissão. Uma parte da pesquisa ainda não publicada mostra que as infecções virais voltaram a subir em hospitais pediátricos, à medida que as pessoas relaxaram no distanciamento social e as aulas foram retomadas e, depois, caíram, quando a França voltou retomou o isolamento, mas manteve as escolas abertas. O médico francês acredita que essa queda se dá ao fato das crianças, mesmo indo à escola, estarem interagindo com menos adultos por causa das medidas de isolamento social, impedindo que diversos vírus consigam circular em grande escala. 

“Claro que depende do vírus. Para o Sars-CoV-2 (vírus que causa a covid-19), vimos que as crianças são menos afetadas e menos contagiosas do que os adultos. Em outros vírus, é o oposto: elas são mais contagiosas e espalham mais. Mas mesmo assim acho que a escola não causaria uma grande epidemia, porque não se trata apenas de crianças infectando crianças, é o adulto ajudando nessa cadeia”, disse Augoulvant à BBC Brasil.

Isso, porém, desde que sejam mantidas as demais medidas de higiene e distanciamento, inclusive entre adultos no dia a dia, opina Angoulvant. “Não sou tão otimista, porque vi o que aconteceu na França em junho, quando tudo voltou ao normal. Mas acho que temos de aprender essas lições.”

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Escolas abertas e fechadas pelo mundo

Na Europa, em que os casos de coronavírus também têm crescido, a maioria dos países manteve suas escolas abertas. Em agosto, o Centro Europeu de Prevenção de Doenças afirmou que o fechamento de escolas “dificilmente daria proteção adicional à saúde das crianças”. 

O premiê irlandês, Micheal Martin, também saiu em defesa das escolas declarando que não era possível permitir prejudicar o futuro de crianças e jovens por do coronavírus.

Há menos de uma semana, o epidemiologista Michael Tildesley, membro do conselho científico governamental do Reino Unido disse ter havido um aumento de casos de coronavírus em escolas em algumas partes do país, mas complementou que não há evidências de uma transmissão em larga escala e que o que mais se vê, na verdade, são casos da comunidade levados para a escola – e não o contrário. 

Já Nova York, a primeira grande cidade americana a reabrir suas escolas públicas, resolveu fechar as escolas em 19 de novembro, após alta no número de infectados.

A Coreia do Sul também suspendeu as aulas entre agosto e setembro, depois de quase 200 alunos e funcionários em Seul e arredores terem testado positivo para a doença. 

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